São Paulo, terça-feira, 02 de novembro de 2010

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China começa maior censo da história

Contagem é 7 vezes maior que a brasileira, mas a 20% do custo; governo flexibiliza exigências sobre migrantes

Gigantismo da operação é evidenciado por cifras recorde: 6 milhões de recenseadores e 400 milhões de domicílios

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Residência de 20% da população mundial, a China iniciou ontem o maior recenseamento da história, com promessas de confidencialidade e incentivos a migrantes indocumentados e a famílias que desrespeitaram as rígidas normas de controle de natalidade.
Durante apenas dez dias, 6 milhões de recenseadores tentarão visitar 400 milhões de residências, milhares delas na forma de alojamentos precários de trabalhadores migrantes nas grandes cidades ou em áreas remotas, como o Tibete.
Com uma população sete vezes maior do que a brasileira, o custo do recenseamento chinês é proporcionalmente bem mais baixo.
No Brasil, que também realiza o Censo neste ano, cada visita a domicílio custa em média R$ 24. Na China, sai por R$ 5, segundo cálculo feito a partir de números oficiais de ambos os países.
Desde 1990, a China faz um censo por década. O último, de 2000, contou a população em 1,295 bilhão.
Uma das grandes novidades neste ano é que a população migrante, estimada em 230 milhões pelo governo, será contada a partir de onde vive, e não pelo endereço permanente que consta em seus documentos de identidade.
Esse sistema, conhecido como "hukou", obriga um trabalhador rural a pedir autorização do governo para trabalhar na cidade.
Na prática, a mudança ocorre sem esse trâmite, mas o migrante fica barrado de serviços como saúde e educação, entre outros programas sociais e benefícios.
O hukou tem sido apontado como uma das principais causas da crescente desigualdade de renda no país.
Num sinal de que o sistema será ao menos flexibilizado em breve, o governo se comprometeu a dar um tratamento mais brando aos violadores que responderem ao questionário.
O censo também prometeu menos rigidez com famílias que desrespeitaram a Política do Filho Único, implantada há 30 anos, geralmente punidas com pesadas multas. Desta vez, os infratores poderão parcelar as multas.
Outra novidade é que haverá a contagem específica da crescente população de imigrantes no país. Além disso, Macau e Hong Kong, que gozam de um regime administrativo diferenciado, também participarão do censo pela primeira vez.

PRIVACIDADE
O governo, no entanto, admite que a tarefa dos recenseadores está mais difícil, principalmente por causa da crescente noção de privacidade no país.
Para tentar reverter a aversão, uma intensa campanha foi colocada nas ruas durante as últimas semanas, principalmente por meio de faixas incentivando a população a aceitar a entrevista.
Para aumentar a sensação de privacidade, não há perguntas sobre renda nem sobre religião, este um tema delicado por causa do surgimento de igrejas clandestinas, principalmente cristãs.
Segundo a agência de notícias estatal Xinhua, a campanha começou na meia-noite de segunda-feira, na cidade de Jinan (leste), quando um recenseador bateu na porta de um apartamento até que o morador despertasse.
Mais do que uma extravagância, trata-se de uma mensagem aos milhões de trabalhadores migrantes que só vão a dormitórios para dormir: nos próximos dias, é provável que recebam uma inquisidora visita noturna.


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