São Paulo, quarta-feira, 02 de novembro de 2011

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Argentina não estanca fuga de capitais

Controle da compra e venda de dólares só atrapalha pequenos consumidores, que fizeram filas em casas de câmbio

Apreensão em relação à moeda americana fez sua procura aumentar; no mercado negro, dólar chegou a 5 pesos

Eduardo Di Baia/Associated Press
Policial garante a segurança em casa de câmbio de Buenos Aires; compra de dólares ficou mais difícil para argentinos

LUCAS FERRAZ
SYLVIA COLOMBO

DE BUENOS AIRES

Os novos controles impostos pelo governo argentino para a compra e venda de dólares dificultaram o acesso de pequenos consumidores à moeda, mas não impediram que a fuga de capitais do país continue crescendo.
Desde anteontem, para adquirir a moeda norte-americana, os argentinos devem apresentar documento, provar que possuem recursos para a compra e justificar a operação. Com esses dados, as casas de câmbio pedem autorização a um órgão equivalente à Receita Federal, que dá a palavra final.
O turista que chegar em Buenos Aires com dólares consegue trocar por pesos sem nenhuma restrição.
O objetivo do governo é estancar a sangria causada pela crescente fuga de capitais, que segue em alta neste segundo semestre a um nível três vezes maior que no início do ano. A Casa Rosada também disse querer combater a lavagem de dinheiro.
As medidas causaram grandes filas e muitos pedidos foram negados, causando a revolta dos compradores. No mercado negro, a moeda passou a ser vendida por até 5 pesos (o valor oficial é 4,27).
Adquirir dólares para economizar é uma tradição na Argentina, cuja economia, nos anos 90, era dolarizada.
"A sequência de episódios de inflação fez com que os argentinos desconfiassem dos bancos. A hiperinflação dos anos 80 e a crise de 2001 acentuaram isso. Ninguém quer guardar pesos no banco, preferem ter dólares em casa", diz o economista Marcelo Elizondo.
A apreensão com relação ao dólar vinha crescendo desde as eleições primárias, em agosto, que indicaram a reeleição de Cristina Kirchner, referendada no último dia 23.
"Todos sabiam que alguma coisa podia acontecer, e a busca pela moeda aumentou, o que fez crescer a fuga de capitais", afirma Elizondo. Neste ano, a fuga pode bater o recorde de 2008.
A fuga de capital ocorre quando, por medo de uma reação do governo ou deterioração das condições econômicas, os investidores que compraram títulos públicos ou privados e ações resolvem retirar o dinheiro do país.
Elizondo acha que o governo ainda tem uma carta na mão, a escolha do novo ministro da economia, uma vez que o atual, Amado Boudou, foi eleito vice-presidente.
"Se o nome escolhido for de confiança das pessoas e do mercado, pode reduzir esse furor pela compra da moeda."
Ramiro Castiñeira, economista-chefe da consultoria Econométrica, diz que a situação revela um "descompasso macroeconômico" da economia argentina, que, segundo ele, pode piorar com a acentuação da crise mundial.
"Os que tiverem as contas claras não vão ter problemas. Os que querem especular contra o conjunto dos argentinos, não serão permitidos", disse Amado Boudou.


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