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Terror muda a pauta do telejornalismo americano
RENATA LO PRETE
DA REPORTAGEM LOCAL
Menos dietas e famosos. Mais
geopolítica e bioterrorismo. De
acordo com estudo recém-divulgado nos EUA, os atentados de 11
de setembro e seus desdobramentos provocaram mudança radical
no cardápio de notícias oferecido
ao telespectador.
Ainda que a inversão de prioridades fosse esperada, impressionam os números apurados pelo
PEJ (Projeto de Excelência em
Jornalismo), centro ligado à Universidade Columbia que já analisou coberturas como as do caso
Monica Lewinsky e das eleições
norte-americanas de 2000.
A pesquisa comparou duas semanas de junho e duas de outubro de programas jornalísticos
das redes ABC, CBS e NBC.
Antes dos ataques, temas de
comportamento, celebridades e
crimes somavam mais de um terço do tempo dos telejornais nacionais noturnos. A participação
do último item vinha aumentando, em contraste com o recuo nas
taxas de violência do país.
As três rubricas despencaram
na pauta de outubro. Reportagens
sobre ginástica, emagrecimento,
estilo de vida e assuntos afins caíram de 19,7% para 1%. Os 4,7%
antes devotados às celebridades
viraram quase nada. Crimes recuaram de 11,7% para 3,5%.
Em compensação, o tempo dedicado ao que se chama de "hard
news" cresceu 67%. Em junho,
matérias sobre governo, militares,
questões nacionais e política internacional não chegavam a ocupar metade dos telejornais noturnos. No segundo período analisado, saltaram para 80,2%.
Em seu relatório, os responsáveis pelo estudo observam que a
nova composição "lembra muito
mais o jornalismo dos anos 70 do
que o modelo consolidado ao longo da década passada".
A mudança foi ainda mais gritante nos programas matutinos,
em que os assuntos ditos sérios
estavam perto de desaparecer.
"Good Morning America"
(ABC), "Early Show" (CBS) e "Today" (NBC) são, em boa medida,
veículos para promover a venda
de utilidades domésticas, remédios, livros e vídeos.
A pesquisa mostra clara preferência de cada uma das redes por
produtos de sua proprietária (como a ABC com os filmes da Disney). Apenas em 11% dos casos o
telespectador é informado sobre a
"relação de parentesco".
Em junho, descontados os intervalos comerciais, 33% do tempo desses programas foi utilizado
para vender produtos. Quanto à
divisão do bolo noticioso, três
quartos ficaram com comportamento e celebridades.
Sob o impacto dos atentados, as
manhãs televisivas iniciaram uma
dieta de "menos açúcar e mais cafeína", na definição de Howard
Kurtz, repórter e crítico de mídia
do "The Washington Post".
Os 46,9% de reportagens sobre
o que vestir, para onde viajar, como entrar em forma e fazer sobremesas minguaram para 12%. Histórias de famosos caíram pela metade. A participação de "hard
news" pulou de 6,9% para 58,1%.
O efeito antraz quase triplicou as
matérias de ciência.
Os autores rejeitam a idéia de
que os números de junho estejam
contaminados pelo fator verão,
época em que o noticiário institucional costuma refluir. Com base
em pesquisa anterior do PEJ, sustentam que o material exibido é típico de anos recentes.
Ao longo de duas décadas, o
"hard news" só fez perder espaço
nos telejornais. Sua fatia encolheu
26 pontos percentuais entre 1977
e 1997. No mesmo período, a dos
assuntos de comportamento cresceu 11,3 pontos, e a das celebridades, mais do que triplicou.
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