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São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2003

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VENEZUELA

Oposicionistas dizem que conseguirão convocar referendo contra presidente; vice-presidente acusa "terceiro golpe"

Oposição canta vitória; chavista vê golpe

Juan Barreto/France Presse
Cartaz em comitê da oposição informa que não há mais planilhas para o recolhimento de assinaturas contra Chávez, em Caracas


DA REDAÇÃO

Para a oposição, foi uma vitória. Para os governistas, uma "megafraude". Assim terminou ontem a campanha de quatro dias para coletar ao menos 2,4 milhões de assinaturas (20% dos eleitores) -número exigido para convocar um referendo sobre a saída do polêmico presidente venezuelano, Hugo Chávez.
No último dia, a Coordenação Democrática (associação de partidos e associações de oposição) promoveu a operação "O Grande Final", com o objetivo de aumentar o número de assinaturas antes de entregar a petição ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão encarregado de analisar o pedido e, eventualmente, marcar a data do referendo.
Os opositores intensificaram o transporte de eleitores e divulgaram vários boletins pela imprensa incentivando a participação.
Apesar do esforço, o comparecimento ontem foi bem menor em Caracas se comparado com os dois primeiros dias, quando foram registradas filas em diversos pontos de coleta de assinatura.
O líder oposicionista Antonio Ledezma disse que ele estava "seguro" de que a campanha conseguira coletar o mínimo exigido. O pedido terá de ser decidido pelo CNE dentro de 30 dias.
Pesquisas de opinião divulgadas nas últimas semanas mostram que a oposição deve conseguir convocar o referendo, mas chavistas dizem que esses levantamentos não são confiáveis.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Centro Carter (EUA), que enviaram observadores, disseram que não houve incidentes graves (leia texto nesta página).

"Terceiro golpe"
Seguidores de Chávez, que no domingo disse que a campanha da oposição era uma "megafraude", marcaram para ontem à noite um ato de apoio ao presidente diante do Palácio Miraflores.
Chávez acusou mais de cem empresários de pressionar funcionários a assinar a petição. O deputado governista Willian Lara disse que levaria ao CNE evidências de assinaturas múltiplas e ilegais.
Já o vice-presidente José Vicente Rangel afirmou ontem que a oposição não conseguira as assinaturas necessárias. Sem mostrar evidências, declarou: "Se eles conseguirem [o mínimo exigido], terá sido por meio de fraude".
"Essa conduta da liderança da oposição repete o mesmo formato de episódios anteriores. Poderíamos estar diante de um terceiro golpe, assim como ocorreram o golpe militar de abril de 2002 e mais tarde o segundo golpe, a [greve] petroleira de dezembro [de 2002] a janeiro", disse Rangel.
Em abril do ano passado, a oposição promoveu um golpe de Estado, que afastou Chávez por dois dias. Entre dezembro de 2002 e fevereiro deste ano, a oposição organizou uma greve geral, que praticamente paralisou a economia do país. Os confrontos já deixaram dezenas de mortos.
A oposição nega as acusações de fraude e de golpismo e acusa Chávez de ser um "mau perdedor". "Vejo a reação de Chávez como um rompante de um mau perdedor. Ele não está mostrando uma face democrática", disse à agência Reuters Julio Borges, da Coordenação Democrática.
Se o referendo for realizado, o que aconteceria no primeiro semestre de 2004, Chávez -cujo mandato termina em 2007- terá de deixar o poder caso haja mais eleitores contra ele do que o número de votos que recebeu em 2000, cerca de 3,7 milhões.

Com agências internacionais

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