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Calderón toma posse entre apitos e vaias
Cerimônia no Congresso dura apenas quatro minutos por causa de protesto realizado por parlamentares da oposição
Acuado pela esquerda, que aponta manipulação e fraude na eleição, conservador não pôde discursar para congressistas
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO
MÉXICO
Durou apenas quatro minutos a posse do novo presidente
do México, o conservador Felipe Calderón, do Partido da
Ação Nacional (PAN). Entre
vaias, apitos e gritos da oposição, Calderón não pôde fazer o
longo discurso que pretendia.
Fez apenas um curto juramento, cantou o hino nacional com
os parlamentares e se retirou.
Constrangido, o presidente
Vicente Fox passou a faixa para
seu sucessor. Os deputados da
esquerda, que acusam fraude
na vitória eleitoral do conservador, em julho, gritavam: "Fora, Fox!", e, para o novo presidente mexicano: "Espúrio, espúrio" e "Vai cair, vai cair".
Já os deputados da direita comemoravam a rápida e bagunçada cerimônia, gritando "sí, se
pudo" (algo como "sim, deu pra
fazer"). É que, até cinco minutos antes da cerimônia, não se
sabia se haveria ou não o juramento.
Às oito da manhã (12h em
Brasília), cenas de pugilato e
até arremessos de cadeiras foram vistos no plenário, quando
o senador Santiago Creel, homem forte do governo Fox,
chegou ao recinto. A oposição
vaiou com força e partiu para
cima. A posse estava marcada
para as 9h30.
Congresso sitiado
Na última semana, com receio de que a esquerda tomasse
a tribuna do Congresso para
impedir a posse, a direita se
adiantou - e praticamente
acampou por três dias e noites
na tribuna. A esquerda não deixou por menos - acampou em
cinco dos seis acessos ao plenário do Congresso. O único acesso que ficou sob controle dos
conservadores está atrás do
palco, sob duas gigantes bandeiras mexicanas. Por essa portinha escondida é que Calderón
teve que entrar e sair.
Em setembro, o então presidente Fox não pôde realizar o
tradicional discurso sobre o estado da nação porque a esquerda havia tomado a tribuna. Ele
entregou o relatório por escrito
e foi embora.
Calderón foi eleito em 2 de
julho, com apenas 200 mil votos a mais que o esquerdista
Andrés Manuel López Obrador, ex-prefeito da Cidade do
México.
A esquerda denunciou fraude, manipulação e intromissão
do governo federal na campanha e na apuração e organizou
um protesto que bloqueou as
principais avenidas da capital,
exigindo recontagem total dos
votos, que não foi feita.
Calderón só foi confirmado
presidente em setembro -
quando parte da população
também já criticava duramente
o bloqueio por sete semanas da
capital, promovido por López
Obrador, que tampouco apresentou provas irrefutáveis de
fraude eleitoral.
A popularidade do esquerdista encolheu, e antigos seguidores passaram a chamá-lo de populista e de messiânico. Mas as
críticas da esquerda a todo o
processo eleitoral continuaram.
Um protocolo confuso foi feito na medida para evitar constrangimentos. Pela primeira
vez na história do México, o
presidente Fox passou o cargo
para Calderón na madrugada
de quinta para sexta-feira, à
meia-noite, em cerimônia
transmitida pela tevê, já se prevenindo contra o que poderia
acontecer no Congresso na manha seguinte.
A segurança foi redobrada.
Para chegar ao Congresso, deputados, senadores, convidados, autoridades estrangeiras e
jornalistas passaram por até sete diferentes controles.
Comemoração fechada
Mas, apesar de ser feriado no
país, as ruas ficaram vazias e o
novo presidente tampouco
desfilou de carro aberto. A comemoração de Calderón não
poderia ser mais discreta -e
menos popular.
As grandes cerimônias aconteceram em lugares fechados,
só para convidados. Em uma
celebração no Auditório Nacional, repleto de correligionários,
Calderón leu o discurso que
não pôde fazer no Congresso.
Depois houve um almoço no
suntuoso Museu Nacional de
Antropologia e estava marcado
um jantar no Castelo de Chapultepec.
Ele se referiu à oposição no
auditório. "Estou acostumado a
enfrentar e superar todos os
obstáculos. Vou dialogar com
quem estiver disposto a dialogar, mas não vou esperar o diálogo para começar a trabalhar.
Não se pode invocar a democracia para se atentar contra a
democracia", discursou o novo
presidente mexicano.
O mandato de Calderón à
frente da Presidência do país
será de seis anos. Não há reeleição no México.
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