São Paulo, quarta-feira, 03 de janeiro de 2001

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ORIENTE MÉDIO

Premiê de Israel e dirigentes palestinos dizem não acreditar em acordo antes do fim do mandato de Clinton

Pessimismo acompanha Arafat nos EUA

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Num clima de ceticismo e violência, o presidente dos EUA, Bill Clinton, e o líder palestino Iasser Arafat se reuniram ontem por duas horas em Washington para discutir o plano norte-americano para a paz no Oriente Médio.
O encontro terminou por volta das 17h (horário local, 20h em Brasília), sem declarações. Uma autoridade dos EUA disse que uma segunda conversa poderia ocorrer à noite.
Pouco antes da reunião, o premiê de Israel, Ehud Barak, afirmou que seu país não voltará a negociar com os palestinos enquanto continuarem os choques.
Barak disse que não fazia sentido negociar sob o espectro do terrorismo e que duvidava ser possível atingir um acordo antes da saída de Clinton da Casa Branca, em 20 de janeiro.
"Do nosso ponto de vista sobre a situação atual, com o comportamento de Arafat e os ataques terroristas nos últimos dias -e alguns dos membros da Autoridade Nacional Palestina estavam envolvidos-, não podemos continuar os contatos e as conversações com os palestinos", afirmou Barak. "Precisamos nos concentrar no combate ao terror. Não há nenhuma chance real de levar adiante as negociações sob essas condições."
"Não me parece razoável que sejamos capazes de obter um acordo para ser assinado nas próximas duas ou três semanas, o que ainda é antes da eleição (em Israel, em 6 de fevereiro)", afirmou.
O premiê tenta obter um tratado para alavancar sua candidatura na eleição antecipada para seu cargo, provocada por sua renúncia. As mais recentes pesquisas de intenção de voto indicam que Barak tem 21 pontos percentuais de desvantagem em relação ao líder do partido Likud, o conservador Ariel Sharon.
Os palestinos também se mostraram céticos. "Não há tempo para chegar a um acordo durante o mandato do presidente Clinton, mas seria muito positivo que se realizassem progressos na mesa de negociações antes de sua saída", afirmou o ministro palestino de Cooperação Internacional, Nabil Shaath. "Arafat não foi a Washington para aceitar ou rejeitar as propostas. Foi para ouvir diretamente o presidente Clinton e apresentar-lhe a posição palestina, as objeções e os pontos de acordo."
Sobre os prazos, Jake Siewert, porta-voz da Casa Branca, declarou: "Temos relativamente pouco tempo, mas o presidente disse (na semana passada) que os dois lados nunca estiveram tão perto e que vê nas idéias discutidas as melhores bases possíveis para negociações futuras".
Arafat chegou a Washington na manhã de ontem. Na noite anterior, conversara por 45 minutos com Clinton ao telefone. O presidente também ligou para Barak.
Autoridades na Casa Branca não quiseram fazer especulações sobre a perspectiva de uma reunião de cúpula entre o premiê e o líder palestino.
P.J. Crowley, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, afirmou que objetivo da reunião era fazer com que Arafat entendesse todos os aspectos da proposta norte-americana. "Queremos garantir que haja um entendimento comum sobre os parâmetros (do plano)", afirmou. "Veremos no fim da reunião em que posição estamos e teremos uma idéia melhor sobre aonde ir."

Plano controverso
Uma autoridade israelense disse que não havia nada preparado para uma eventual viagem de Barak aos EUA. "O premiê não descarta a possibilidade de que alguns israelenses sejam enviados a Washington se houver sinais de avanço. Estamos esperando para ver o que acontece. Eu não creio, contudo, que alguém esteja muito animado", declarou.
O plano apresentado por Clinton não foi aceito formalmente por nenhum dos dois lados.
Os israelenses disseram que o entendem como uma "base de discussão" para futuras negociações. O palestinos consideraram as propostas muito vagas e afirmaram que só darão uma resposta após esclarecimentos sobre pontos considerados obscuros.
O plano apresentado por Clinton prevê a retirada israelense da faixa de Gaza e de 95% da Cisjordânia e a soberania palestina sobre os bairros árabes de Jerusalém Oriental (inclusive a disputada Esplanada das Mesquitas, sagrada para judeus e muçulmanos).
Em contrapartida, os palestinos teriam de aceitar a anexação de assentamentos a Israel e abdicar do retorno dos quase 4 milhões de refugiados.
Entre outros pontos de divergência, Israel não admite conceder aos palestinos o controle sobre a esplanada e a volta dos refugiados. Segundo lei aprovada anteontem no Knesset (Parlamento), qualquer acordo sobre os refugiados terá de ser aprovado por maioria absoluta, isto é, 61 votos. O governo não poderá assinar tratados que desrespeitem essa lei.

Violência continua
Na faixa de Gaza, as tropas israelenses mataram um agricultor palestino de 52 anos após a explosão de uma bomba ter ferido um soldado de Israel perto de um assentamento.
Um civil israelense foi gravemente ferido numa emboscada na estrada que liga Jerusalém a Tel Aviv. Mais de 350 pessoas (palestinos, em geral) morreram desde o início dos confrontos, em 28 de setembro, após visita de Sharon à Esplanada das Mesquitas.



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