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VENEZUELA
O presidente, que se diz líder de uma "revolução bolivariana", afirma que ela poderá ser sangrenta, graças à oposição
"Revolução pode ser violenta", diz Chávez
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem que seu
país tem duas alternativas: "Uma
revolução pacífica ou uma revolução violenta". Ele fez a afirmação
ao responder a uma pergunta sobre se seu país vivia o dilema "ou
Chávez ou um banho de sangue".
"Não se pode reduzir a situação
da Venezuela a esse dilema. Na
verdade, a Venezuela tem duas alternativas: uma revolução pacífica ou uma revolução violenta",
disse ele. "Os que fecham os caminhos para uma revolução pacífica
abrem outros para a revolução
violenta", acrescentou.
A oposição venezuelana promove há um mês uma greve geral
no país para pressioná-lo a renunciar ou convocar eleições antecipadas. A paralisação vem afetando significativamente a indústria
de petróleo do país, responsável
por 80% de suas exportações.
Chávez acredita estar no comando de uma "revolução bolivariana" (referência ao libertador
Simon Bolívar), que promete a
transformação econômica da sociedade venezuelana e a redução
das desigualdades sociais. Ele diz
que essa revolução não acabará
nem mesmo se a oposição vencer
eventuais eleições. "Não será a
derrota da revolução, que está
apenas começando. É um projeto
que não depende de um homem.
Seria triste se a revolução dependesse de um homem. O projeto é
do povo, que é invencível."
Chávez disse que os modelos
econômicos da América Latina
são os mais desiguais do planeta.
"Crescem a fome, a pobreza e a
desigualdade", disse. Citou que o
Brasil, a décima economia do
mundo, apresentou índices de
crescimento nos últimos anos.
"Tampouco a pobreza deixou de
crescer. O problema é que o modelo está baseado na desigualdade."
Segundo Chávez, "o dilema da
América Latina não é a necessidade ou não de mudar o modelo. O
dilema é como mudá-lo: em paz
ou com violência". Ao lembrar o
golpe de Estado que quase o derrubou em abril do ano passado,
afirmou que um grupo de soldados recebeu ordem de matá-lo.
"Se tivessem me matado, não sei o
que estaria ocorrendo hoje na Venezuela. Não se trata de matar
Chávez, mas [matar] a esperança
de milhões de venezuelanos."
O presidente afirmou que a
Constituição do seu país prevê
um referendo sobre seu governo
em agosto (no meio do seu mandato de seis anos) e descartou a
possibilidade de antecipação da
consulta popular ou de se deixar
vencer por um golpe. "Só irei embora por vontade de Deus ou do
meu povo", afirmou. "Descobrimos recentemente planos golpistas, inclusive com cópias de documentos que diziam "Natal sem
Chávez". Imaginavam que o menino Jesus chegaria ao mesmo
tempo que o menino Chávez iria
embora. Mas já estamos em 2 de
janeiro e continuamos fortes."
Chávez disse que o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, com
quem se reuniu ontem, apoiou a
formação de um "grupo de países
amigos" da Venezuela, que intermediaria as negociações entre governo, empresários e trabalhadores, para incentivar o diálogo e desestimular "as vias da violência".
Chávez pediu a Lula o envio de
gasolina e técnicos da Petrobras
para substituir os funcionários
em greve da PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo. Na semana passada, o Brasil já havia enviado à Venezuela um petroleiro
com 520 mil barris de gasolina.
Segundo Chávez, a produção
pode voltar ao normal em até 45
dias. A afirmação foi contestada
pela oposição, que diz que levaria
ao menos quatro meses para a
PDVSA voltar ao nível de produção anterior à greve. A Venezuela
é o quinto maior produtor de petróleo do mundo.
Nos últimos dias, a oposição
vem prometendo endurecer ainda mais o protesto contra Chávez,
convocando um boicote ao pagamento de impostos. "Recusamo-nos a pagar impostos a um regime
que não abre suas contas e desperdiça o dinheiro do povo", disse o sindicalista Carlos Ortega,
um dos líderes da greve geral.
Em propagandas ontem na TV
estatal, o chefe da Receita Federal
venezuelana, Trino Alcides Diaz,
disse que o governo poderia multar ou prender os evasores e pediu
à população que pagasse seus impostos. "Esses recursos são necessários para hospitais, para o salário dos funcionários públicos, para a educação", disse.
A oposição promete para hoje
uma nova passeata em Caracas
para pedir a renúncia de Chávez.
Com agências internacionais
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