São Paulo, sexta-feira, 03 de janeiro de 2003

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VENEZUELA

O presidente, que se diz líder de uma "revolução bolivariana", afirma que ela poderá ser sangrenta, graças à oposição

"Revolução pode ser violenta", diz Chávez

WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse ontem que seu país tem duas alternativas: "Uma revolução pacífica ou uma revolução violenta". Ele fez a afirmação ao responder a uma pergunta sobre se seu país vivia o dilema "ou Chávez ou um banho de sangue".
"Não se pode reduzir a situação da Venezuela a esse dilema. Na verdade, a Venezuela tem duas alternativas: uma revolução pacífica ou uma revolução violenta", disse ele. "Os que fecham os caminhos para uma revolução pacífica abrem outros para a revolução violenta", acrescentou.
A oposição venezuelana promove há um mês uma greve geral no país para pressioná-lo a renunciar ou convocar eleições antecipadas. A paralisação vem afetando significativamente a indústria de petróleo do país, responsável por 80% de suas exportações.
Chávez acredita estar no comando de uma "revolução bolivariana" (referência ao libertador Simon Bolívar), que promete a transformação econômica da sociedade venezuelana e a redução das desigualdades sociais. Ele diz que essa revolução não acabará nem mesmo se a oposição vencer eventuais eleições. "Não será a derrota da revolução, que está apenas começando. É um projeto que não depende de um homem. Seria triste se a revolução dependesse de um homem. O projeto é do povo, que é invencível."
Chávez disse que os modelos econômicos da América Latina são os mais desiguais do planeta. "Crescem a fome, a pobreza e a desigualdade", disse. Citou que o Brasil, a décima economia do mundo, apresentou índices de crescimento nos últimos anos. "Tampouco a pobreza deixou de crescer. O problema é que o modelo está baseado na desigualdade."
Segundo Chávez, "o dilema da América Latina não é a necessidade ou não de mudar o modelo. O dilema é como mudá-lo: em paz ou com violência". Ao lembrar o golpe de Estado que quase o derrubou em abril do ano passado, afirmou que um grupo de soldados recebeu ordem de matá-lo. "Se tivessem me matado, não sei o que estaria ocorrendo hoje na Venezuela. Não se trata de matar Chávez, mas [matar] a esperança de milhões de venezuelanos."
O presidente afirmou que a Constituição do seu país prevê um referendo sobre seu governo em agosto (no meio do seu mandato de seis anos) e descartou a possibilidade de antecipação da consulta popular ou de se deixar vencer por um golpe. "Só irei embora por vontade de Deus ou do meu povo", afirmou. "Descobrimos recentemente planos golpistas, inclusive com cópias de documentos que diziam "Natal sem Chávez". Imaginavam que o menino Jesus chegaria ao mesmo tempo que o menino Chávez iria embora. Mas já estamos em 2 de janeiro e continuamos fortes."
Chávez disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem se reuniu ontem, apoiou a formação de um "grupo de países amigos" da Venezuela, que intermediaria as negociações entre governo, empresários e trabalhadores, para incentivar o diálogo e desestimular "as vias da violência".
Chávez pediu a Lula o envio de gasolina e técnicos da Petrobras para substituir os funcionários em greve da PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo. Na semana passada, o Brasil já havia enviado à Venezuela um petroleiro com 520 mil barris de gasolina.
Segundo Chávez, a produção pode voltar ao normal em até 45 dias. A afirmação foi contestada pela oposição, que diz que levaria ao menos quatro meses para a PDVSA voltar ao nível de produção anterior à greve. A Venezuela é o quinto maior produtor de petróleo do mundo.
Nos últimos dias, a oposição vem prometendo endurecer ainda mais o protesto contra Chávez, convocando um boicote ao pagamento de impostos. "Recusamo-nos a pagar impostos a um regime que não abre suas contas e desperdiça o dinheiro do povo", disse o sindicalista Carlos Ortega, um dos líderes da greve geral.
Em propagandas ontem na TV estatal, o chefe da Receita Federal venezuelana, Trino Alcides Diaz, disse que o governo poderia multar ou prender os evasores e pediu à população que pagasse seus impostos. "Esses recursos são necessários para hospitais, para o salário dos funcionários públicos, para a educação", disse.
A oposição promete para hoje uma nova passeata em Caracas para pedir a renúncia de Chávez.


Com agências internacionais


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