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RÚSSIA
País, com a maior concentração carcerária do mundo, mantém detentos sem alimentos e remédios em celas superpovoadas
ONGs denunciam deterioração das prisões
FRANÇOIS BONNET
do "Le Monde", em Moscou
Valeri Abramkine cortou o fio de
arame farpado que fazia as vezes
de uma faixa de inauguração e falou sobre a Declaração Universal
dos Direitos Humanos ao abrir a
exposição. "Casos frequentes de
tortura, milhares de mortos por
ano, condições de detenção desesperadoras. Assim é o cotidiano de
nossos prisioneiros", disse.
Abramkine é, há dez anos, responsável pelo centro de Moscou
pela reforma das prisões (MPCR).
Os 50 anos da declaração, de 1948,
não foram motivo de nenhuma
manifestação oficial na Rússia,
mas essa organização não-governamental organizou uma conferência internacional e uma exposição sobre as prisões russas.
O horror que ali impera, depois
de anos, chamou a atenção das organizações internacionais. As péssimas condições inquietam também as autoridades russas, que parecem decididas a realizar uma reforma no sistema carcerário.
A Rússia tem a maior concentração carcerária do mundo -1,1 milhão de detentos, o que significa
uma proporção de 780 pessoas para cada 100 mil habitantes. Na Europa, essa taxa varia entre 60 e 90.
"Os direitos do homem estão sendo violados em três sistemas fechados: as prisões, as Forças Armadas e os hospitais psiquiátricos", afirma Serguei Kovalev, figura emblemática da luta contra o
abuso de direitos humanos na
Rússia.
A essa superpopulação carcerária soma-se o problema das condições de vida nas prisões. "É uma
tortura. Tortura imposta pela falta
de sol, pela falta de ar e de espaço",
reconhece Iuri Kalinine, encarregado das Cizo (centros de detenção preventiva), onde 450 mil pessoas passam a cada ano e onde cerca de 10 mil prisioneiros morreram
no ano passado devido a doenças,
má nutrição e sufocamento.
A exposição "Um homem na prisão" apresenta as celas onde se
amontoam, em 70 m2, cerca de 150
detentos, que dormem em turnos .
"Quando a porta se abre, sufoca-se
com a fumaça de tabaco, os odores
da transpiração e dos excrementos", testemunha um observador
das Nações Unidas. "O calor obriga os prisioneiros a viverem parte
do tempo nus. A umidade é tanta
que nada fica seco."
A crise econômica deteriorou
ainda mais as condições de vida
nas prisões. No fim de outubro, os
membros do Conselho de Segurança russo exigiram a retomada
do financiamento para o sistema
penitenciário, interrompido parcialmente desde julho. A compra
de medicamentos foi suspensa. Há
100 mil detentos com tuberculose,
dos quais 20 mil têm uma infecção
resistente aos tratamentos convencionais.
Segundo o MPCR e a ONG Médicos Sem Fronteira, que mantêm
programas de assistência em algumas prisões, mais de 5.000 detentos irão morrer de tuberculose até
o fim deste ano.
A Assembléia Municipal de Moscou pede também que se aumente
a verba para a compra de alimentos. O ministro da Justiça russo,
Pavel Krachenninikov, reconheceu que o Orçamento federal previa gastos de 67 centavos de rublo
por dia por prisioneiro. "Isso equivale a menos de 300 gramas de
pão", afirma o MPCR.
No mês passado, o Ministério da
Justiça lançou um projeto de anistia e reforma do Código Penal do
país a fim de diminuir as penas de
prisão. Cerca de 200 mil detentos
poderiam ser assim libertados.
Mas para as associações de defesa
dos direitos do homem, a Rússia
tem necessidade de uma reforma
completa nos sistemas judiciário e
penitenciário para se aproximar
dos padrões ocidentais.
²
Tradução de
Rodrigo Castro
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