São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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Grupo islâmico será tão corrupto quanto o Fatah, diz americano

CORINE LESNES
DO "LE MONDE"

Em 2002, David Frum redigiu para o presidente George W. Bush a parte do discurso do Estado da União sobre o chamado "eixo do mal", que seria formado por Irã, Iraque e Coréia do Norte. Hoje ele é pesquisador no American Enterprise Institute.
A seu ver, o Hamas se tornará tão corrupto quanto o Fatah. Eis trechos de sua entrevista.

 

Pergunta - A vitória do Hamas não lança em descrédito as teorias de Bush sobre a democratização?
David Frum -
Com ou sem eleições, o problema estava presente. Façamos uma comparação com uma empresa que enfrenta dificuldades financeiras. Ela trapaceou em suas contas. Um dia ela decide contratar um contador honesto. Você diria que é o contador o responsável pelos problemas financeiros? A sociedade palestina é o que ela é. O processo democrático trouxe à tona a natureza do problema, mas não foi ele que causou esse problema. Nos anos 90, as pessoas queriam acreditar que os extremistas não passavam de uma minoria de cada lado. Engano. A maioria esmagadora dos palestinos votou contra a convivência com Israel.

Pergunta - Se o processo de paz for enterrado, isso vai contrariar os interesses dos EUA?
Frum -
Mas não existia processo de paz. A Autoridade Nacional Palestina sabia que a maioria dos cidadãos, as milícias, os componente do Estado, todos rejeitavam o processo de paz. Seus dirigentes vinham a Washington e diziam coisas que não podiam fazer. Agora podemos ser realistas e nos livrar dessa idéia de que o conflito não passa de um mal-entendido.

Pergunta - O sr. acha que o Hamas vai se reformar?
Frum -
Algumas vozes na Europa dirão que vamos amansá-los, vamos convertê-los à moderação. Mas creio que o Hamas vai dirigir e vai fracassar. Ele não conseguirá melhorar a vida da população. Vai controlar a ajuda européia e se tornar tão corrupto quanto o Fatah. E ele terá de escolher. Ou provoca violência contra os israelenses, com conseqüências catastróficas para os palestinos, ou não o fará, e então seu discurso será visto como nada mais do que palavras vazias.

Pergunta - O sr. acaba de escrever um artigo intitulado "Bravo, Chirac", sobre o discurso do presidente francês sobre a dissuasão.
Frum -
Chirac fez o Irã lembrar que a Europa é uma associação de Estados e que, em última análise, em uma situação extrema, um país não trata com a Europa, mas com a França, a Alemanha ou o Reino Unido; e que é o presidente francês, e não um presidente europeu, que em última análise vai fazer uso da potência francesa.

Pergunta - O sr. se decepcionou com a atitude de Bush?
Frum -
Em 2002 o presidente se comprometeu a não aceitar um Irã nuclearizado. Quando ele assume essa posições, ele não o faz de maneira leviana. Mas cometemos um erro grave quando pensamos que a única maneira de empregar a força é bombardeando as instalações nucleares. Como isso é tecnicamente difícil, seria inútil recorrer à força.


Tradução de Clara Allain

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