São Paulo, sexta-feira, 03 de fevereiro de 2006

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Popularidade atrai aliados e gera discórdia

ENVIADO ESPECIAL A HUANCAYO (PERU)

Onze horas da manhã de quinta-feira da semana passada em Huancayo, capital do Departamento de Junín. Sob uma chuva fina e o frio eterno do altiplano andino, dezenas de militantes se aglomeram na lamacenta avenida diante dos portões da Universidade Nacional do Centro do Peru à espera de Ollanta Humala.
A recepção estava mais tensa que alegre. Com a subida de Humala nas pesquisas de opinião, o Partido Nacionalista Peruano (PNP), fundado há apenas oito meses, sofreu um inchaço e já acumula 50 mil filiados, divididos em facções que, nas últimas semanas, disputam as vagas de candidato ao Congresso. Na véspera, o comitê de um pré-candidato da cidade foi destruído a pedradas.
Um pré-candidato da coalizão de Humala, Lazo Mayorca, tem o seu carro atacado por mãos furiosas e gritos de "fujimorista" e "corrupto". Na entrada, é barrado por seguranças da universidade -o evento era restrito a estudantes, que já lotavam as cadeiras e os corredores do auditório para mais de 300 pessoas.
Após 40 minutos de atraso, chega Humala, e o caos se instala de vez. Protegido por seus seguranças, é cercado por militantes exaltados, que gritam: "Partido para mudanças, e não para corruptos". O pequeno portão é arrebentado, e a universidade, invadida. Pelo menos três pessoas caem e são atropeladas, mas saem milagrosamente ilesas.

Fenômeno Humala
A briga partidária e a desorganização de sua campanha são só alguns dos problemas de Humala potencializados após a escalada nas pesquisas de opinião.
Humala, 43, tenente-coronel aposentado e aliado de Hugo Chávez, cuja maior façanha até agora foi ter liderado, em 2000, um levante militar contra o então presidente Alberto Fujimori, virou o centro das atenções e o principal alvo de críticas e ataques da imprevisível campanha peruana.
Contra ele, os demais 23 candidatos -entre eles o seu próprio irmão Ulises, mais radical e apoiado pelo pai-, a imprensa peruana, aliados insatisfeitos, inexperiência e falta de dinheiro.
"Quando aprendi a dirigir, de repente fui parar no centro da cidade. Estou assim na política", disse Humala à platéia. "A política é uma cloaca neste momento."
Antes de começar a discursar, o candidato nacionalista se uniu aos estudantes, inconformados com a invasão militante. Dando ordens como militar, Humala comandou a expulsão de três deles, agarrados pela camisa e colocados para fora do auditório. (FM)


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