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São Paulo, segunda-feira, 03 de março de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Colaboração pode ser suspensa se EUA mantiverem seus planos de guerra sem aval da ONU, diz assessor de Saddam

Bagdá ameaça parar de destruir mísseis

France Presse
Participantes de protesto contra a possível guerra no Iraque fazem oração em Karachi; o ato na cidade paquistanesa reuniu mais de 100 mil pessoas, que gritavam "a América é terrorista"


DA REDAÇÃO

O Iraque continuou ontem a destruir seus mísseis proibidos Al Samoud 2 -medida que Washington classificou como sendo parte de "um jogo de enganação"-, mas indicou que pode suspender seus esforços se os EUA continuarem com planos de invadir o país sem o aval da ONU.
"Se ficar claro que os EUA não estão seguindo o caminho da lei, por que deveríamos continuar [a destruir os mísseis"?", disse Amer al Saadi, assessor do ditador iraquiano, Saddam Hussein.
O Iraque destruiu dez de seus cerca de 120 mísseis Al Samoud 2 nos últimos dois dias, seguindo ordens do chefe dos inspetores da ONU, o sueco Hans Blix, segundo o qual o alcance das armas excede o limite permitido de 150 km.
Ontem, escavadeiras destruíram seis mísseis Al Samoud 2 diante dos olhos de inspetores da ONU, em um local ao norte de Bagdá. Os primeiros quatro haviam sido destruídos anteontem. A destruição de todos os mísseis deve levar cerca de duas semanas.
Blix, que deve apresentar um novo relatório ao Conselho de Segurança da ONU sobre a cooperação do Iraque na sexta-feira, elogiou a destruição dos mísseis por Bagdá como uma "porção significativa de desarmamento".
Questionado se a destruição do míssil terra-terra mais avançado de Bagdá enfraqueceria a capacidade militar iraquiana de resistir a uma invasão liderada pelos EUA, Saadi disse: "Não é um fator decisivo. Seu sacrifício é uma operação calculada".
Em outra medida que pode ser vista como uma demonstração de cooperação por parte de Bagdá, Saadi afirmou que o destino de estoques de antraz que o Iraque afirma ter destruído unilateralmente em 1991, mas sobre os quais não havia dado explicações, agora havia sido esclarecido com a escavação de 157 R-400 bombas em um local ao sul de Bagdá.
O silêncio do Iraque sobre o que havia acontecido com os estoques de antraz e do gás VX, que age sobre o sistema nervoso, era uma das principais questões não resolvidas entre a ONU e o Iraque.
Segundo Saadi, escavações na base área de Al Aziziya, cerca de 100 km a sudoeste de Bagdá, revelaram os restos de bombas com antraz, botulina e outras substâncias proibidas. Segundo ele, oito bombas foram achadas intactas.
Inspetores da ONU se reuniriam ontem com autoridades iraquianas para discutir se isso era prova suficientes que o Iraque destruiu os estoques proibidos.

Reveses para os EUA
Os EUA e o Reino Unido apresentaram uma proposta para uma nova resolução a ser adotada pelo Conselho de Segurança que afirma claramente que o Iraque violou suas obrigações perante as Nações Unidas -o que, na prática, equivaleria a um aval da ONU a uma guerra contra Bagdá.
A declaração de Blix ontem, portanto, não deve ajudar a intensa campanha de Washington e Londres pelo apoio de pelo menos 5 dos 11 indecisos no conselho, que tem 15 países-membros. Os EUA, que também tentam evitar um veto por parte dos dois principais oponentes à guerra, França e Rússia, insistiram ontem em que o Iraque ainda possui armas de destruição em massa.
"A resolução 1441 [do Conselho de Segurança da ONU, aprovada em novembro" pedia o desarmamento completo, total e imediato. Não pedia porções de desarmamento", afirmou ontem a porta-voz da Casa Branca Mercy Viana. "O presidente [dos EUA, George W. Bush" sempre previu que o Iraque destruiria seus mísseis Al Samoud como parte de seu jogo de enganações."
A mobilização militar americana e britânica para um possível ataque também sofreu um revés ontem quando o Parlamento da Turquia decidiu não permitir que o território do país seja usado para uma invasão do Iraque.

Com agências internacionais


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