São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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DIPLOMACIA

Pacto prevê que americanos fornecerão a indianos tecnologia e combustível para fins civis; Nova Déli aceita inspeções

EUA e Índia acordam cooperação nuclear

Aijaz Rahi/Associated Press
Muçulmanos indianos levam faixa de cerca de 15 m a protesto contra visita de Bush, em Mumbai


DA REDAÇÃO

Em visita a Nova Déli, o presidente George W. Bush assinou ontem com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, um acordo de cooperação nuclear pelo qual o governo americano suprirá a Índia em tecnologia e combustível. O governo indiano, como contrapartida, abrirá 14 de suas usinas termonucleares à inspeção internacional.
O acordo põe fim a um longo período de isolamento da Índia na área nuclear. O país usou a energia nuclear para fins militares e, em 1998, chegou a detonar uma bomba atômica, o que levou seu rival na região, o Paquistão, a também detonar a sua.
Para entrar em vigor, o acordo assinado depende do aval do Congresso americano, onde é numerosa a bancada que condiciona qualquer aprovação à necessidade de a Índia assinar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.
Bush qualificou ontem o acordo de "histórico" e disse ter bons argumentos para convencer o Congresso a abandonar suas objeções.
A Casa Branca também acredita que, ampliando sua capacidade de produzir eletricidade com usinas nucleares, a Índia, país de 1,1 bilhão de habitantes, vá consumir menos petróleo e exercer uma pressão menor sobre o mercado mundial de óleo cru.
"O acordo torna o mundo mais seguro", disse Bush, que exortou outros países a seguir o exemplo indiano. Foi talvez um recado indireto ao Paquistão, outro sólido aliado americano empenhado na área nuclear.
O premiê indiano afirmou, por sua vez, que o acordo demonstrava "não haver mais limites para a parceria" de seu país com os Estados Unidos. Até os anos 80, a Índia mantinha vínculos comerciais e tecnológicos privilegiados com a extinta União Soviética.
A Índia tem 14 reatores em operação comercial e oito outros sendo construídos. A energia nuclear, responsável hoje por apenas 3% da eletricidade gerada, poderá chegar a 25% dentro de 45 anos.
Alguns dispositivos do acordo ainda estão sob sigilo. Não se sabe, por exemplo, a razão que levou Nova Déli a preservar do monitoramento internacional dois outros reatores com finalidades supostamente militares. Há ainda seis outras instalações de pesquisas cujas atividades serão mantidas secretas.
Analistas disseram à CNN que Bush pretende se associar de forma estreita à ascensão econômica da Índia, o que trará lucros à economia americana -ao mesmo tempo em que se contrapõe à influência que a China pretende exercer sobre a região.
A Agência Internacional de Energia Atômica, braço das Nações Unidas para a não-proliferação, aprovou o acordo de Nova Déli. O diretor da agência, Mohammed El Baradei, qualificou-o de "um marco nos esforços para consolidar a não-proliferação, combater o terrorismo nuclear e fortalecer a segurança nuclear".
Em Londres, o primeiro-ministro Tony Blair pronunciou-se em termos parecidos ao qualificar o texto de "contribuição significativa para a segurança energética".
Na França, o presidente Jacques Chirac disse que o acordo diminuiria o uso do petróleo, com a emissão menor de poluentes que modificam o clima, e permitiria conter a proliferação nuclear.

Com agências internacionais

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