São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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Bush negocia plano de consórcio nuclear

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

O presidente George W. Bush lançou neste ano um ousado plano para controle e desenvolvimento de energia nuclear e vem trabalhando nos bastidores com líderes de outras nações ricas para sua concretização. O pleno prevê a criação de uma espécie de "reator nanico" para geração de energia, voltado para países em desenvolvimento, e pesquisa para atingir um nível de excelência na reciclagem de dejetos radioativos.
Mas, se a idéia foi bem recebida por Reino Unido, Rússia, França, China e Turquia, o mesmo não pode se dizer do Brasil.
Chamado de Parceria Global de Energia Nuclear (GNEP, na sigla em inglês), o projeto consiste na criação de um consórcio de países para o desenvolvimento de tecnologia segura e renovável -sem o descarte de plutônio-, afastando a possibilidade de que países participantes se voltem para a montagem de bombas atômicas.
O Departamento da Energia dispõe de US$ 250 milhões no Orçamento deste ano para a pesquisa em reciclagem de lixo radioativo e outras etapas.
O objetivo do programa é tornar mais seguro o uso de energia nuclear em um cenário pós-11 de Setembro, quando nações vistas como perigosas por Washington, como o Irã, insistem em desenvolver seus programas próprios. A alternativa sugerida pela Casa Branca é vender "reatores nanicos", uma versão menor e fechada de um reator nuclear, já prontos para esses países.
As conversas com o governo brasileiro ainda não começaram, mas o assunto vem sendo monitorado de perto pelo Planalto. Em resumo, incomoda Brasília a possibilidade de controle sobre o conhecimento de algumas etapas de pesquisa nuclear.
À Folha o secretário de imprensa do Departamento da Energia, Craig Stevens, disse que o país está ansioso para trabalhar com o Brasil. "Estamos ansiosos para discutir essa parceria com os líderes do Brasil. O departamento acredita que o Brasil possa ser um parceiro no esforço da GNEP, particularmente no desenvolvimento de tecnologia avançada de reatores nucleares", afirmou.

Duas classes de países
Segundo Clay Sell, subsecretário de Energia, a parceria proposta pelos EUA resultaria numa divisão dos países em "fornecedores" e "usuários" da tecnologia nuclear. No primeiro grupo, entrariam os próprios EUA e as nações que detêm maior conhecimento na área.
Os "usuários" seriam as nações mais pobres, que precisam de fontes de energia sustentáveis para impulsionar o crescimento econômico. Elas receberiam apenas os "reatores nanicos" e seu combustível, enviados pelos países fornecedores.
Os dejetos produzidos pela geração de energia nos países usuários seriam reciclados pelos países fornecedores. Em vez de projetos para a construção de usinas nucleares em países mais pobres e, conseqüentemente, mais instáveis ou com menor controle de segurança, os EUA oferecem o reator já pronto.
Responsável pela Subsecretaria de Controle de Armas e Segurança Internacional do Departamento de Estado, o embaixador Robert Joseph vem intensificando os contatos com outros países ricos para conseguir adeptos. Segundo ele, o programa é voluntário.


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