São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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JOÃO PAULO 2º

Conclusão é de relatório preliminar de comissão parlamentar da Itália; Moscou classifica acusação de absurda

URSS mandou matar papa, diz CPI italiana

DA REDAÇÃO

Uma comissão do Parlamento italiano concluiu "sem sombra de dúvidas" que a União Soviética esteve por trás do atentado que quase matou o papa João Paulo 2º, em 13 de maio de 1981.
Em um relatório preliminar, a comissão sustenta que o papa era visto como um perigo para o bloco soviético devido a seu apoio ao movimento Solidariedade, na Polônia, a terra natal do pontífice, que morreu em 2005. O Solidariedade foi o primeiro sindicato livre no Leste Europeu comunista.
Segundo o documento, Moscou ficou alarmado porque "a Polônia era a principal base militar do Pacto de Varsóvia".
Alguns historiadores afirmam que João Paulo 2º teve um papel fundamental em eventos que acabariam levando à queda do Muro de Berlim, em 1989, e ao colapso do comunismo.
"A comissão acredita, sem sombra de dúvidas, que os líderes da União Soviética tenham tomado a iniciativa de eliminar o papa Karol Wojtyla [João Paulo 2º]", afirma o relatório de 36 páginas.
"Eles transmitiram essa decisão aos serviços secretos militares para que eles adotassem todas as operações necessárias para cometer um crime de gravidade única, sem paralelo nos tempos modernos", acrescenta o texto.
Caso a comissão aprove o relatório em sua versão final, o que poderá ocorrer no próximo dia 7, será a primeira vez que um órgão oficial atribui culpa à extinta União Soviética pelo caso.
O documento afirma ainda que uma fotografia mostra que Serguei Antonov, um búlgaro absolvido de envolvimento na tentativa de assassinato do papa, estava na praça São Pedro quando o pontífice foi atingido pelo turco Mehmet Ali Agca. O turco foi preso momentos depois de ter realizado os quatro disparos.
O serviço secreto búlgaro estava supostamente trabalhando para a inteligência militar soviética, mas a Justiça italiana concluiu que as evidências eram insuficientes para vincular os búlgaros ao caso.
Agca mudou diversas vezes sua versão sobre o atentado, e investigadores dizem que nunca ficou claro para quem ele trabalhava. Inicialmente, ele responsabilizou os soviéticos.

"Absurdo"
A Bulgária e a Rússia negaram ontem envolvimento no caso.
O porta-voz do Serviço de Inteligência Exterior da Rússia, Boris Labusov, afirmou à agência de notícias Interfax que "todas as afirmações sobre qualquer tipo de participação no atentado contra a vida do papa de forças especiais soviéticas, incluindo a inteligência externa, são completamente absurdas".
Em 1991, o então presidente Mikhail Gorbatchov negou que tivesse havido alguma cumplicidade da KGB, o serviço secreto soviético, no caso. O relatório italiano aponta, porém, o envolvimento da inteligência militar soviética, e não da KGB.
Na Bulgária, o porta-voz da Chancelaria, Dimiter Tsanchev, disse que o caso foi dado por encerrado por uma decisão judicial em março de 1986 e lembrou comentários feitos pelo papa João Paulo 2º durante sua visita ao país, em maio de 2002.
"O papa disse, na época, que nunca acreditou na conexão búlgara", disse Tsanchev.
Agca, hoje com 48 anos, cumpriu 19 anos de prisão em uma penitenciária italiana pelo atentado contra o papa. Ele cumpre pena hoje, na Turquia, pelo assassinato do jornalista Abdi Ipekci e deverá ser libertado em 2010.
A comissão italiana foi criada originalmente para investigar a infiltração da KGB na Itália durante a Guerra Fria, a chamada Comissão Mitrokhin.
O presidente da comissão, senador Paolo Guzzanti (Força Itália, de direita), afirmou ter decidido investigar a tentativa de assassinato depois de João Paulo 2º ter dito em um de seus livros que "outra pessoa havia planejado, outra pessoa havia encomendado" o crime.


Com agências internacionais

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