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AÇÃO MILITAR
Tropas de Saddam recuam depois de sofrerem pesadas baixas em ataques dos EUA e dos curdos
Frente norte iraquiana começa a cair
PATRICK COCKBURN
DO "THE INDEPENDENT",
AO NORTE DE MOSSUL
A frente norte do Exército iraquiano começou a entrar em colapso ontem, enquanto tropas recuavam de maneira confusa para
a cidade de Mossul, depois de sofrerem pesadas baixas em ataques
aéreos americanos e em combate
contra a milícia curda.
Sarbast Babiri, o comandante
curdo, sorrindo triunfantemente
para seus homens, muitos dos
quais usavam capacetes iraquianos capturados e estavam reunidos em torno dele, disse que "o
Exército iraquiano recuou para
posições nove quilômetros ao
norte de Mossul. Eles deixaram
para trás metralhadoras pesadas,
lançadores de foguetes, comida e
muitos cadáveres".
O desmantelamento da frente
norte, que não registrou muita
atividade nas duas primeiras semanas da guerra, é um sério revés
para o ditador Saddam Hussein,
porque agora ele terá de enfrentar
ataques do norte, além do sul.
Mas a situação pode aumentar a
possibilidade de uma invasão turca à região norte do Iraque, uma
perspectiva que o secretário de
Estado americano, Colin Powell,
estava tentando evitar ontem.
Powell, que esteve em Ancara
para uma visita de um dia, disse
que estava tratando das preocupações turcas quanto "à extensão
rumo ao sul das áreas sob controle curdo". Mas, enquanto ele discursava, já surgiam sinais de que
os peshmergas (guerrilheiros)
curdos estavam fazendo exatamente isso, ainda que, conscientes do perigo que a Turquia representa, tenham apresentado seu
avanço não como algo previamente planejado, mas sim como
fruto de um erro iraquiano.
A linha de frente iraquiana aqui
ao norte de Mossul ficava, até ontem, 60 km ao norte da cidade.
O relato do comandante Babiri
sobre o que aconteceu é que o
Exército iraquiano estava cuidando da rotação de uma de suas unidades postadas na linha de frente,
substituindo-a por outra, uma
técnica padronizada aparentemente adotada para impedir deserções e limitar o tempo de exposição das tropas a ataques aéreos,
dada sua posição vulnerável no
topo das colinas.
"Eles queriam substituir o 108º
pelo 105º Regimento, mas os soldados da unidade recém-chegada
não sabiam onde estava a linha de
frente de nossos peshmergas", explicou o comandante Babiri, responsável pelas forças da milícia
curda em Bardarash. "Eles começaram a disparar contra os nossos
soldados, e respondemos ao fogo." Foi nessa altura do combate
que um destacamento das forças
especiais dos EUA que acompanhava os peshmergas solicitou
ataques aéreos contra as tropas
iraquianas.
"Os americanos estavam conosco e coordenaram os ataques de
seus aviões", confirmou o comandante Babiri. Ao longo do último
mês, unidades das forças especiais americanas vêm combatendo ao lado dos peshmergas.
Os aldeões na vila curda de Kanilan, que estava sob controle do
Exército iraquiano, confirmaram
que o regimento iraquiano estacionado na ponte de Mandan,
uma estrutura de concreto sobre
um pequeno riacho vizinho, havia sofrido pesadas baixas. Hoshyar Ahmed, um dos aldeões, disse: "Vimos os aviões americanos
bombardeá-los. Os veículos iraquianos removeram muitos mortos e feridos. Recuaram tão rápido
que nem tiveram tempo de explodir a tempo, se bem tenham instalado minas nela".
As retiradas do Exército iraquiano para a cidade de Kirkuk,
na semana passada, foram bem
organizadas e tinham objetivos
puramente táticos, sem que uma
única arma fosse deixada nos
quartéis que abandonaram. Mas,
enquanto caminhávamos em
frente à pequena loja da aldeia,
que oferece uma variedade de biscoitos baratos, em Kanilan, vimos
dois peshmergas chegando em
um caminhão capturado do Exército iraquiano, na traseira do qual
exibiram, com orgulho, um canhão sem recuo de 106 mm que
também haviam capturado.
O comandante Babiri demonstrava cautela e tentava evitar qualquer declaração que fomente suspeitas turcas de que os curdos estejam avançando deliberadamente na província de Mossul.
"Não deixamos nossas posições
durante o combate", disse, ainda
que fosse difícil conceber, caso isso seja verdade, de que maneira
ele e os soldados haviam conseguido avançar dez quilômetros na
estrada para Mossul. "Só avançaremos até o limite das terras curdas", disse Babiri, referindo-se
aos territórios curdos dos quais
seus conterrâneos foram expulsos
ao longo dos últimos 30 anos pelas sistemáticas campanhas de
limpeza étnica de Saddam.
Os peshmergas tiveram apenas
cinco mortos no combate, enquanto os aldeões dizem que até
200 iraquianos morreram ou foram feridos nos ataques aéreos.
Isso sublinha o fato de que o Exército iraquiano não consegue resistir sequer a forças leves de infantaria, como as dos curdos, quando estas contam com o apoio do
poderio aéreo norte-americano
em campo aberto.
Na verdade, os peshmergas curdos não precisam avançar até Kirkuk ou Mossul. Assim que o Exército iraquiano se retirar ou dissolver, cerca de 300 mil refugiados
curdos das duas Províncias, muitos dos quais armados, expressam
toda intenção de ir para casa, tão
logo o possam.
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