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São Paulo, quinta-feira, 03 de abril de 2003

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ANÁLISE

Aproximação de Bagdá é mais lenta que teria sido possível se os americanos tivessem mais tropas

Avanço "metódico" expõe erro dos EUA

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O erro americano de não atacar com forças bem mais poderosas está ficando claro agora que suas tropas estão próximas de Bagdá.
Em vez da continuação de um avanço rápido, decisivo e esmagador, estão sendo feitos metódicos ataques às unidades da defesa iraquiana, uma de cada vez. A maioria dos analistas prevê a tomada de Bagdá em semanas, não em dias, a não ser que haja um colapso repentino -e imprevisível- da defesa.
A agência de notícias Reuters, por exemplo, ouviu 25 especialista em defesa e em Oriente Médio, 19 dos quais deram estimativas entre duas semanas a seis meses para a tomada da capital do Iraque. Os outros seis preferiram não se comprometer com prazos. A maioria prevê ainda de quatro a oito semanas de combate.
Uma "doutrina" militar é um conjunto de idéias aceitas pelos militares sobre como combater em uma guerra. A doutrina do ataque pode até ser o "Choque e Pavor" defendido pelo secretário da Defesa Donald Rumsfeld.
Mas, neste momento, está havendo uma adaptação, na prática, à doutrina rival da "Força Decisiva" -mas sem o poderio esmagador que esta preconiza.
A única esperança de a guerra acabar rápido, em questão de dias, seria um colapso repentino das forças iraquianas, em função do bombardeio de 24 horas a que estão sujeitas. Mas mesmo tropas de qualidade inferior podem resistir por muito tempo, se estiverem bem abrigadas -ou se a opção for entre combater ou o fuzilamento por deserção.
Não teria havido uma pausa das forças terrestres dos EUA se houvesse mais divisões para se revezarem no combate e poderem manter pressão constante sobre o inimigo.
Hoje o processo de "degradação" do poder de combate iraquiano em curso envolveria ataques terrestres simultâneos a todas as divisões da Guarda Republicana de Saddam Hussein, e não apenas duas às que estão em contato direto com a 3ª Divisão de Infantaria Mecanizada e os fuzileiros navais (marines).
Chega um ponto em que uma unidade militar simplesmente diz "chega" e se rende ou foge. Foi o que aconteceu com o Taleban em 2001, era o que acontecia com as vítimas da Blitzkrieg, a "guerra relâmpago" alemã que conquistou boa parte da Europa na Segunda Guerra.
"Choque e Pavor" soa como uma Blitzkrieg requentada. O alvo principal não é a tropa no terreno, mas sim a liderança e o sistema de comando inimigos.
O resultado seria a paralisia de toda a defesa; soldados inimigos cercados se renderiam em grande quantidade. Na prática, também é preciso destruir parte desses soldados no terreno.
Mesmo a Blitzkrieg alemã só funcionou a contento nos primeiros anos da guerra. Depois seus inimigos aprenderam como contê-la, criando uma situação em que ganha o lado que mata mais gente, mais rápido -uma situação de "atrito", no jargão militar.
Para evitar que os iraquianos "atritados" escapem entrando em Bagdá, é possível que os EUA usem suas forças mais móveis (como a 101ª Divisão Aerotransportada) para bloquear sua retirada.


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