São Paulo, sexta-feira, 03 de abril de 2009

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Brasil busca encontro entre Chávez e Obama

Reunião seria na Cúpula das Américas, entre 17 e 19 de abril; venezuelano pediu diálogo, e americano não rechaça ideia

Atenções de Washington se voltam para Cuba; Havana pediu a governos aliados que não abordem distensão no evento para evitar atrito

Presidência do Irã/France Presse
Presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad (esq.) aperta mão de seu par venezuelano, Hugo Chávez, em visita oficial a Teerã

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

O governo brasileiro está tentando promover um encontro bilateral entre os presidentes Hugo Chávez e Barack Obama, durante a próxima Cúpula das Américas, marcada para entre 17 e 19 de abril em Port of Spain (Trinidad e Tobago).
A iniciativa brasileira é decorrência indireta de um pedido do próprio Chávez quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva agendou um encontro com Obama, em Washington, há três semanas. Lula disse claramente ao colega americano que o venezuelano lhe pedira "um canal de diálogo" com os EUA, com o qual Chávez acumula antigo contencioso.
Lula fez questão de dizer a Obama que Chávez não é um perigo, é apenas boquirroto.
Obama não discordou do "canal de diálogo", até porque sua política externa está sendo toda baseada em criar canais do gênero com países mais complicados, na relação com os EUA, do que a Venezuela (como Irã).
O que atrapalhou a gestão foi o fato de Chávez, mesmo sabendo que Obama estava predisposto ao diálogo, passar a fazer ao novo presidente críticas quase tão desaforadas como as que fazia a George Walker Bush. Não adiantou funcionários brasileiros sugerirem que Chávez delegasse ao segundo ou terceiro escalão qualquer resposta a eventuais críticas de funcionários americanos ou do próprio Obama.
De todo modo, o encontro bilateral não saiu da agenda. Continua sendo trabalhado, até porque o presidente Lula se confessa "um entusiasta de Obama" e está firmemente convencido de que a América Latina tem uma oportunidade inédita de manter um novo relacionamento com o grande vizinho do Norte.

Cuba
Já os americanos estão mais preocupados com Cuba, em relação à cúpula de Trinidad e Tobago. Perguntaram a funcionários brasileiros se o tema Cuba seria dominante na reunião. Aliás, ontem o chanceler Celso Amorim conversou com a secretária de Estado Hillary Clinton sobre a cúpula, e Cuba surgiu naturalmente na conversa.
Mas a Folha não conseguiu saber mais detalhes.
O que se sabe é que o governo brasileiro tranquilizou os americanos dizendo que a própria Cuba já mandou recado a todos os governantes amigos para que não agitem o tema em Trinidad e Tobago. O risco é grande: na cúpula da Unasul, na Bahia, em dezembro, o boliviano Evo Morales sugeriu que os países sul-americanos dessem um prazo a Obama, que nem sequer havia assumido à época, para levantar as sanções contra a ilha sob pena de todos os sul-americanos retirarem seus embaixadores de Washington.
Lula descartou a ideia sem contemplação. Mas nada impede que, em Trinidad e Tobago, Evo ou Chávez retome a tese, mesmo com os apelos cubanos.
Cuba, envolvida em uma complicada transição, não quer criar ruídos na relação com os EUA justamente agora que Obama anuncia medidas que reduzem as restrições à ilha.
O governo brasileiro, aliás, também avisou Obama que o melhor, em relação a Cuba, é adotar medidas unilaterais, sem condicioná-las à contrapartidas cubanas (tipo liberação de presos, respeito aos direitos humanos, democracia).
Antes de ser socialista, o cubano é nacionalista e, por isso, rejeita fortemente a ingerência externa, foi o recado transmitido ao novo governo americano.


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