São Paulo, sábado, 03 de abril de 2010

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Padre iguala ataque a papa a antissemitismo

Porta-voz do Vaticano, porém, diz que afirmação, feita durante celebração presidida por Bento 16, não reflete posição oficial da igreja

Agência de notícias revela novo caso em que o então cardeal Joseph Ratzinger teria demorado a agir contra suspeito de abusos sexuais

Giampiero Sposito/Reuters
Papa Bento 16 faz oração durante missa pela Paixão de Cristo na basílica de São Pedro, parte das celebrações da Semana Santa

DA REDAÇÃO

Os recentes ataques contra a Igreja Católica e o papa Bento 16 gerados por escândalos de pedofilia são comparáveis aos "aspectos mais vergonhosos do antissemitismo", disse ontem o pregador do Vaticano, padre Raniero Cantalamessa.
A afirmação foi feita durante a celebração da Sexta-Feira da Paixão -que marca, para os católicos, o dia em que Jesus foi crucificado-, na basílica de São Pedro, presidida pelo papa.
"Com desgosto acompanho o ataque violento e focado contra a igreja e o papa", disse Cantalamessa, cuja função é escrever o sermão para o rito dedicado à "Paixão do Senhor". "O emprego de estereótipos e a transformação de responsabilidades e culpas pessoais em culpa coletiva me fazem recordar os aspectos mais vergonhosos do antissemitismo", afirmou.
O pregador havia afirmado que, como o tema do sermão era a violência, principalmente a praticada contra a mulher e dentro do ambiente familiar, não iria abordar os abusos cometidos por sacerdotes católicos contra menores, já que "se fala muito deles lá fora".
No entanto, ao citar uma carta de solidariedade recebida de um amigo judeu e comparar os ataques contra a igreja com a hostilidade aos judeus como grupo, o padre Cantalamessa terminou por reavivar o debate.
O Vaticano se apressou a dizer que a comparação reflete apenas a opinião pessoal do padre. Após ter recebido críticas feitas por líderes judeus e grupos de vítimas de abusos, o porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, afirmou que Cantalamessa não estava falando como autoridade do Vaticano.
Neste ano, as comemorações da Semana Santa -principal data do calendário católico- têm sido eclipsadas pelas acusações de que a igreja lidou mal e acobertou episódios de abuso sexual de crianças e adolescentes por sacerdotes.
Nas denúncias -que já atingiram Irlanda, Holanda, Itália, Áustria e EUA-, Bento 16 tem sido acusado de negligência ao lidar com casos de pedofilia enquanto era bispo na Alemanha e em Roma.
O Vaticano nega que os casos tenham sido acobertados e, como resposta, tem acusado a mídia de uma tentativa "ignóbil" de atingir o papa a todo custo.
Ontem, mais um caso foi revelado: correspondências do Vaticano analisadas pela agência Associated Press mostraram que a igreja esperou mais de uma década para remover um sacerdote pedófilo de sua paróquia, mesmo depois de o bispo do Estado do Arizona (EUA), Manuel Moreno, ter implorado ao futuro papa Bento 16, então comandante da Congregação para a Doutrina da Fé, para que uma decisão fosse tomada.
Segundo os documentos, o então cardeal Joseph Ratzinger disse ao bispo em 1992 que estava assumindo o caso. Cinco anos mais tarde, Moreno escreveu uma carta ao cardeal pedindo urgência na remoção do padre, já que apenas o Vaticano tem esse poder. No entanto, o sacerdote só foi removido de suas funções em 2004.

Mea-culpa
Também ontem, o presidente da Conferência de Bispos da Alemanha, o arcebispo Robert Zollitsch, disse, durante sermão da Sexta-Feira da Paixão, que a igreja na terra natal do papa falhou em ajudar as vítimas de abuso sexual porque queria proteger sua reputação.
O arcebispo condenou o que chamou de "apavorantes crimes de abuso sexual" e pediu à igreja que encare seu doloroso histórico em lidar com esses casos. "Feridas que são difíceis de curar foram infligidas", disse.
No país, diversas denúncias de pedofilia foram reveladas após a confirmação de que um padre foi transferido em 1980 para trabalhar com crianças na Arquidiocese de Munique -dirigida pelo bispo Ratzinger-, mesmo sendo suspeito de ter cometido abusos em Essen.
Com agências internacionais



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