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Padre iguala ataque a papa a antissemitismo
Porta-voz do Vaticano, porém, diz que afirmação, feita durante celebração presidida por Bento 16, não reflete posição oficial da igreja
Agência de notícias revela novo caso em que o então cardeal Joseph Ratzinger teria demorado a agir contra suspeito de abusos sexuais
Giampiero Sposito/Reuters
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Papa Bento 16 faz oração durante missa pela Paixão de Cristo na basílica de São Pedro, parte das celebrações da Semana Santa
DA REDAÇÃO
Os recentes ataques contra a
Igreja Católica e o papa Bento
16 gerados por escândalos de
pedofilia são comparáveis aos
"aspectos mais vergonhosos do
antissemitismo", disse ontem o
pregador do Vaticano, padre
Raniero Cantalamessa.
A afirmação foi feita durante
a celebração da Sexta-Feira da
Paixão -que marca, para os católicos, o dia em que Jesus foi
crucificado-, na basílica de São
Pedro, presidida pelo papa.
"Com desgosto acompanho o
ataque violento e focado contra
a igreja e o papa", disse Cantalamessa, cuja função é escrever
o sermão para o rito dedicado à
"Paixão do Senhor". "O emprego de estereótipos e a transformação de responsabilidades e
culpas pessoais em culpa coletiva me fazem recordar os aspectos mais vergonhosos do
antissemitismo", afirmou.
O pregador havia afirmado
que, como o tema do sermão
era a violência, principalmente
a praticada contra a mulher e
dentro do ambiente familiar,
não iria abordar os abusos cometidos por sacerdotes católicos contra menores, já que "se
fala muito deles lá fora".
No entanto, ao citar uma carta de solidariedade recebida de
um amigo judeu e comparar os
ataques contra a igreja com a
hostilidade aos judeus como
grupo, o padre Cantalamessa
terminou por reavivar o debate.
O Vaticano se apressou a dizer que a comparação reflete
apenas a opinião pessoal do padre. Após ter recebido críticas
feitas por líderes judeus e grupos de vítimas de abusos, o porta-voz da Santa Sé, Federico
Lombardi, afirmou que Cantalamessa não estava falando como autoridade do Vaticano.
Neste ano, as comemorações
da Semana Santa -principal
data do calendário católico-
têm sido eclipsadas pelas acusações de que a igreja lidou mal
e acobertou episódios de abuso
sexual de crianças e adolescentes por sacerdotes.
Nas denúncias -que já atingiram Irlanda, Holanda, Itália,
Áustria e EUA-, Bento 16 tem
sido acusado de negligência ao
lidar com casos de pedofilia enquanto era bispo na Alemanha
e em Roma.
O Vaticano nega que os casos
tenham sido acobertados e, como resposta, tem acusado a mídia de uma tentativa "ignóbil"
de atingir o papa a todo custo.
Ontem, mais um caso foi revelado: correspondências do
Vaticano analisadas pela agência Associated Press mostraram que a igreja esperou mais
de uma década para remover
um sacerdote pedófilo de sua
paróquia, mesmo depois de o
bispo do Estado do Arizona
(EUA), Manuel Moreno, ter
implorado ao futuro papa Bento 16, então comandante da
Congregação para a Doutrina
da Fé, para que uma decisão
fosse tomada.
Segundo os documentos, o
então cardeal Joseph Ratzinger
disse ao bispo em 1992 que estava assumindo o caso. Cinco
anos mais tarde, Moreno escreveu uma carta ao cardeal pedindo urgência na remoção do padre, já que apenas o Vaticano
tem esse poder. No entanto, o
sacerdote só foi removido de
suas funções em 2004.
Mea-culpa
Também ontem, o presidente da Conferência de Bispos da
Alemanha, o arcebispo Robert
Zollitsch, disse, durante sermão da Sexta-Feira da Paixão,
que a igreja na terra natal do
papa falhou em ajudar as vítimas de abuso sexual porque
queria proteger sua reputação.
O arcebispo condenou o que
chamou de "apavorantes crimes de abuso sexual" e pediu à
igreja que encare seu doloroso
histórico em lidar com esses casos. "Feridas que são difíceis de
curar foram infligidas", disse.
No país, diversas denúncias
de pedofilia foram reveladas
após a confirmação de que um
padre foi transferido em 1980
para trabalhar com crianças na
Arquidiocese de Munique -dirigida pelo bispo Ratzinger-,
mesmo sendo suspeito de ter
cometido abusos em Essen.
Com agências internacionais
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