São Paulo, domingo, 03 de abril de 2011

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"Revolta árabe está chegando ao fim", afirma analista

Para Hilal Khashen, divisões sectárias e religiosas impedirão levantes populares como os de Tunísia e Egito

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL
A BEIRUTE (LÍBANO)


A revolta árabe está no fim. A previsão é do especialista em Oriente Médio Hilal Khashen, que vê a Síria como parada final dos levantes que derrubaram os regimes da Tunísia e do Egito e despertaram guerra civil na Líbia.
Para Khashen, chefe do Departamento de Ciência Política da Universidade Americana de Beirute, o regime do ditador sírio, Bashar Assad, ficará no poder graças a uma eficiente máquina de repressão e porque o risco de guerra sectária inibirá intervenções externas como a da Líbia.

 

Folha - O regime de Assad pode ter o mesmo fim do tunisiano e do egípcio?
Hilal Khashen
- Não prevejo a queda do regime sírio. Assad está numa posição sólida. O regime tem impressionante máquina de coerção, o Exército está sob rígido controle da comunidade alauíta [minoria à qual pertence o presidente] e a oposição síria é fragmentada.
Não se deve esperar uma revolução. Ao contrário da Síria, o Exército manteve, no Egito e na Tunísia, um papel neutro. Egito e Tunísia são Estados nacionais. A Síria é país sectário.
Além disso, nenhum país da região ou de fora está interessado em sua saída. Líderes rivais, da Arábia Saudita, do Kuait e do Bahrein, telefonaram para Assad para manifestar apoio por saberem que, se houver conflito sectário na Síria, ele se espalhará.

Gaddafi quase não tem amigos, mas Assad é aliado do Irã. Isso torna mais complexa uma intervenção na Síria?
É uma das razões. Outra está no fato de que a Líbia é um país tribal, periférico do mundo árabe. Já a Síria está no núcleo. Mudanças podem alterar o contexto da região.

Os protestos têm origem na exigência por democracia?
As políticas de Assad são sectárias. A popularidade do presidente é artificial. As manifestações pró-regime em Damasco tiveram crianças de escola e burocratas que foram coagidos a participar. Não há muitos manifestantes contra o regime, mas isso não significa baixa adesão.
A Síria é conhecida como a república do silêncio. Há um medo enraizado. O ocorrido em Hama, quando o pai de Assad (Hafez), matou 30 mil residentes em protestos contra o regime [em 1982], entrou na memória coletiva.

Entre a estabilidade e a democracia, o sr. acha que o Ocidente optará pela primeira opção na Síria?
Nenhum país vai mandar sua aviação ou tropas à Síria. O regime de Assad vai prevalecer porque tem um um aparato de coerção que não vai abandoná-lo e porque os vizinhos e seus aliados do Ocidente sabem que é melhor manter Assad do que enfrentar uma guerra sectária.
Se o regime da Síria entrar em colapso, isso mandará uma poderosa mensagem a outros povos dominados por minorias na região, de que podem derrubar o regime. Uma intervenção na Síria pode levar a uma guerra civil entre sunitas e alauítas, e isso certamente se espalhará.

A permanência de Assad sinaliza o fim das revoltas?
A democratização só pode prevalecer nos Estados árabes nacionais. Na Tunísia, há um forte sentimento de nacionalismo. O mesmo ocorre no Egito. O Iraque, por exemplo, não pode ter uma revolução porque a sociedade iraquiana é definida em linhas sectárias e religiosas.
Não espero que haja mais revoltas no mundo árabe.


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