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Blair sofre revés eleitoral pós-guerra
MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES
O Partido Trabalhista britânico,
do primeiro-ministro Tony Blair,
sofreu duras perdas nas eleições
locais de anteontem no país, primeiro teste político desde a guerra
no Iraque. Os trabalhistas perderam 828 cadeiras nas Câmaras
Municipais, o Partido Conservador ganhou 544 e o Partido Liberal-Democrata, 192. Mas a abstenção foi alta. As eleições no país
não são obrigatórias e apenas
pouco mais de um terço dos eleitores votou.
No cômputo geral de votos, o
partido de Blair ficou com 30%,
uma perda de seis pontos percentuais desde a última eleição local,
em 1999. Os liberal-democratas ficaram com 30%, o maior ganho
da história do partido, e os conservadores com 34%, um aumento de dois pontos desde 1999. Os
restantes 6% foram para pequenos partidos, entre eles os Verdes
e o Partido Nacional Britânico, de
extrema direita.
Os trabalhistas foram derrotados em redutos tradicionais do
partido e em regiões de maioria
muçulmana, onde era grande a
oposição à guerra. Em Birmingham, segunda maior cidade da
Inglaterra e que estava sob controle dos trabalhistas desde 1983,
os conservadores venceram.
O governo esperava ser favorecido pelo que chamava de "reação
de Bagdá" -expressão que resumia o que Londres considerava
ter sido uma bem-sucedida campanha no Iraque-, mas sofreu o
que alguns analistas estão chamando de "revés de Bagdá".
Apesar disso, os trabalhistas
consideram que a guerra no Iraque não teve peso. "Dezenas de
milhares de muçulmanos votaram no Partido Trabalhista", afirmou o presidente do partido, Ian
McCartney. Para boa parte das lideranças trabalhistas, a principal
preocupação dos eleitores são assuntos locais e as reformas dos
serviços públicos.
"Existe desilusão entre tradicionais eleitores do Partido Trabalhista, mas não é só por causa da
guerra. Muitos se opõem a praticamente quase todas as políticas
de Blair", avalia Gwyn Prins, analista político e pesquisador da
London School of Economics, em
Londres. Para ele, os resultados
mostram que os eleitores tradicionais dos trabalhistas -que se
originaram nas esquerdas- não
querem o financiamento privado
de hospitais ou as parcerias entre
setor público e privado para a
área de transporte público.
"Blair está sendo punido por
eleitores tradicionais do Partido
Trabalhista, e os conservadores
estão recuperando alguns de seus
eleitores tradicionais", disse
Prins. A abstenção elevada, segundo ele, pode ser outro indicador de que os eleitores tradicionais ficaram em casa, porque se
opõem às propostas de Blair.
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