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São Paulo, sábado, 03 de maio de 2003

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Blair sofre revés eleitoral pós-guerra

MARIA LUIZA ABBOTT
DE LONDRES

O Partido Trabalhista britânico, do primeiro-ministro Tony Blair, sofreu duras perdas nas eleições locais de anteontem no país, primeiro teste político desde a guerra no Iraque. Os trabalhistas perderam 828 cadeiras nas Câmaras Municipais, o Partido Conservador ganhou 544 e o Partido Liberal-Democrata, 192. Mas a abstenção foi alta. As eleições no país não são obrigatórias e apenas pouco mais de um terço dos eleitores votou.
No cômputo geral de votos, o partido de Blair ficou com 30%, uma perda de seis pontos percentuais desde a última eleição local, em 1999. Os liberal-democratas ficaram com 30%, o maior ganho da história do partido, e os conservadores com 34%, um aumento de dois pontos desde 1999. Os restantes 6% foram para pequenos partidos, entre eles os Verdes e o Partido Nacional Britânico, de extrema direita.
Os trabalhistas foram derrotados em redutos tradicionais do partido e em regiões de maioria muçulmana, onde era grande a oposição à guerra. Em Birmingham, segunda maior cidade da Inglaterra e que estava sob controle dos trabalhistas desde 1983, os conservadores venceram.
O governo esperava ser favorecido pelo que chamava de "reação de Bagdá" -expressão que resumia o que Londres considerava ter sido uma bem-sucedida campanha no Iraque-, mas sofreu o que alguns analistas estão chamando de "revés de Bagdá".
Apesar disso, os trabalhistas consideram que a guerra no Iraque não teve peso. "Dezenas de milhares de muçulmanos votaram no Partido Trabalhista", afirmou o presidente do partido, Ian McCartney. Para boa parte das lideranças trabalhistas, a principal preocupação dos eleitores são assuntos locais e as reformas dos serviços públicos.
"Existe desilusão entre tradicionais eleitores do Partido Trabalhista, mas não é só por causa da guerra. Muitos se opõem a praticamente quase todas as políticas de Blair", avalia Gwyn Prins, analista político e pesquisador da London School of Economics, em Londres. Para ele, os resultados mostram que os eleitores tradicionais dos trabalhistas -que se originaram nas esquerdas- não querem o financiamento privado de hospitais ou as parcerias entre setor público e privado para a área de transporte público.
"Blair está sendo punido por eleitores tradicionais do Partido Trabalhista, e os conservadores estão recuperando alguns de seus eleitores tradicionais", disse Prins. A abstenção elevada, segundo ele, pode ser outro indicador de que os eleitores tradicionais ficaram em casa, porque se opõem às propostas de Blair.


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