São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2004

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ISRAEL

Atentado contra colonos em dia de referendo interno favorece a vitória do "não"; premiê diz que não vai renunciar

Plano de Sharon é rejeitado pelo Likud

Nir Kafri/France Presse
Corpos dos cinco membros da família Hatuel, mortos na faixa de Gaza, são enterrados em cemitério em Ashkelon, no sul de Israel


DA REDAÇÃO

O plano do primeiro-ministro Ariel Sharon de retirar unilateralmente as tropas e as colônias israelenses de Gaza foi rejeitado ontem pela maioria dos membros do Likud, o partido do premiê, num referendo interno.
Comentando a votação, Sharon emitiu uma nota na qual diz que está desapontado com o resultado, mas que o respeitaria. Afirma também que não renunciará e que vai consultar seus parceiros na coalizão de governo para decidir que ações tomará. A derrota coloca o premiê no centro de uma complexa crise política.
A votação, da qual puderam participar apenas filiados do Likud, ocorreu no mesmo dia em que terroristas palestinos mataram, numa emboscada, uma colona israelense grávida e suas quatro filhas. O atentado foi mais um fator a contribuir para a derrota de Sharon, que qualificou o ataque como tentativa de sabotar sua proposta. Antes do ataque, pesquisas já indicavam a vitória da facção contrária ao plano.
Embora as apurações ainda não tenham se encerrado, todas as pesquisas de boca-de-urna apontavam para a derrota do plano, que conta com o apoio dos EUA, da ONU e da União Européia. Na projeção mais favorável a Sharon, a do Canal 2, ele perde por 56% a 44%. Na pior, a do Canal 1, a derrota é estimada em 62% a 38%. Compareceram à votação apenas cerca de 30% dos 193.190 membros filiados do partido.
Sharon tem agora diante de si várias possibilidades. Ele poderia desistir do plano de retirada, como exigem alguns membros mais radicais do Likud. Mas, antes do referendo, o premiê havia dado indícios de que não o faria. Pelo contrário, sugeriu que a saída das tropas de Gaza e, numa segunda fase, de partes da Cisjordânia, ocorreria de qualquer forma.
Para seguir com o plano, Sharon poderia submetê-lo a uma votação pelo gabinete e, em seguida, pelo Knesset (Parlamento). O problema agora é que a vitória do "não" no referendo do Likud deixa vários ministros dessa legenda, que já apoiavam a proposta apenas relutantemente, com dificuldades para acompanhar Sharon. Uma eventual rejeição do plano no gabinete seria ainda mais catastrófica para o premiê.
Outro caminho, que lideranças próximas a Sharon já indicaram que deverá ser sua escolha, é submeter o plano a um referendo nacional. Os filiados ao Likud são mais próximos dos colonos do que a população geral de Israel. De acordo com pesquisas, 60% dos israelenses são favoráveis à retirada de Gaza. Estão convencidos de que não vale a pena manter a área. Para oferecer proteção aos 7.000 colonos na região, cercados por 1,3 milhão de palestinos, o Exército mantém uma grande e dispendiosa estrutura militar. O problema, aqui, é que a organização de um plebiscito levaria meses. Também é possível a convocação de novas eleições, como defendeu ontem o líder da oposição trabalhista, Shimon Peres. Sharon, contudo, não parece inclinado a colocar seu mandato em jogo, especialmente num momento em que ele se encontra fragilizado dentro de seu próprio partido.
Outra possibilidade, também considerada remota, é modificar o plano para que ele seja aceito pela maioria dos likudistas. A dificuldade é que as lideranças contrárias à retirada adotam o discurso de não desistir de nenhum centímetro de terra. Alterações no projeto também poderiam levar o presidente dos EUA, George W. Bush, a rever seu apoio à iniciativa. Aliás, ter conseguido o decidido apoio de Bush ao plano foi a grande aposta de Sharon para a aprovação da proposta.
Para agravar um pouco mais o quadro, Sharon enfrenta problemas com a Justiça israelense. Seu nome está envolvido num escândalo de corrupção e está nas mãos do procurador-geral decidir se ele vai ou não ser indiciado no caso. Embora o indiciamento não implique em perda do mandato ou renúncia, sua situação política ficaria mais difícil de sustentar.
O plano de Sharon prevê a retirada de Gaza desmantelando todos os seus 21 assentamentos. A proposta também prevê a retirada de partes da Cisjordânia. Lá, porém, Sharon não pretende desmantelar todos os cerca de 120 assentamentos. O premiê falou em manter pelo menos cinco blocos de colônias onde vivem mais de 90 mil israelenses.
Os palestinos, embora se oponham à unilateralidade do plano, são favoráveis à saída das tropas de Gaza. Criticam, porém, o fato de que Israel pretende manter o controle sobre as fronteiras, o espaço aéreo, as águas territoriais e a divisa com o Egito.


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