São Paulo, Segunda-feira, 03 de Maio de 1999
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BOMBAS EM LONDRES
David Copeland, 22, teria agido sozinho, embora grupos neonazistas tenham assumido ataques a minorias
Polícia acusa engenheiro por atentados

Associated Press
Policiais contém manifestantes durante ato no bairro do Soho, em Londres, em rortesto aos recentes atentados a bomba contra minorias


SYLVIA COLOMBO
de Londres

A polícia britânica informou ontem que o engenheiro David Copeland, 22, será acusado pelas três explosões de bombas de pregos ocorridas em Londres nas duas últimas semanas, que deixaram três mortos e mais de cem feridos.
Segundo a polícia, Copeland, que foi detido no sábado, não tinha ligação com os grupos neonazistas que assumiram a responsabilidade pelos três atentados. Ele "agiu sozinho, por motivos próprios", segundo Alan Fry, da Polícia Metropolitana de Londres.
Os atentados visavam grupos minoritários que vivem na capital britânica. A primeira explosão, que deixou 48 feridos, ocorreu em 17 de abril no bairro de Brixton (sul de Londres), onde vivem muitos negros.
Uma semana depois, uma segunda bomba de pregos explodiu em Brick Lane (leste da capital), região habitada pela comunidade asiática. Sete pessoas ficaram feridas.
O atentado mais grave aconteceu na última sexta-feira no bairro do Soho (região central).
A bomba, de maior poder explosivo, foi colocada no bar Admiral Duncan, frequentado por homossexuais, e matou três pessoas. Outras 70 ficaram feridas -15 delas ainda estão em estado grave.
As ameaças feitas nos últimos dias por grupos racistas a membros de diferentes minorias étnicas não estão sendo, inicialmente, atribuídas ao acusado.
Copeland, que foi identificado por um vídeo feito pelo sistema de segurança de uma loja de Brixton, está sob custódia policial e será entregue à Justiça britânica hoje.
Seus vizinhos, no bairro de Hampshire, disseram à polícia que a casa em que ele vivia estava sempre às escuras durante o dia.
À noite, porém, segundo os vizinhos, havia movimentação de pessoas que vestiam "roupas escuras e camisetas de bandas de heavy metal".
A polícia também revelou ontem a identidade de duas das três vítimas fatais da bomba do Soho.
Andrea Dykes, 27, grávida de quatro meses, e o padrinho do seu casamento, John Light, 32, morreram na hora da explosão. O marido de Andrea, Julian Dykes, 25, está internado em estado grave e ainda não sabe da morte da mulher.
Eles estavam casados desde 1997 e foram ao Admiral Duncan enquanto aguardavam o início de uma peça de teatro. O pub fica próximo a diversos teatros, numa das regiões mais turísticas e movimentadas de Londres.
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair (Partido Trabalhista), disse que "os terroristas vão fracassar porque esses fanáticos covardes não fazem parte da Inglaterra moderna". "Eles estão proscritos", afirmou.
Ontem, cerca de 2.000 pessoas se reuniram numa praça no bairro do Soho, onde fizeram um minuto de silêncio pelos mortos no atentado.
"O Soho é um lugar dos londrinos e dos turistas. O responsável por essa atrocidade não mudará isso", disse o ator Ian McKellen.


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