São Paulo, Segunda-feira, 03 de Maio de 1999
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VIOLÊNCIA NA INTERNET
Tirada do ar pela polícia, página de Eric Harris, que matou 13 e se suicidou em colégio dos EUA, ganha réplicas
Site de atirador de Littleton prolifera na rede

MARCELO STAROBINAS
especial para a Folha

Retirado do ar pelo FBI, o conteúdo do web site de Eric Harris, um dos dois autores do massacre na escola Columbine, em Littleton, Colorado (EUA), foi copiado e está hoje exposto em pelo menos uma dezena de lugares na Internet.
Os proprietários dessas páginas se dizem "defensores da liberdade de expressão". E reproduzem um material de conteúdo explosivo: um poema suicida, receitas de bombas caseiras, desenhos e até uma versão personalizada de um jogo de computador violento.
No último dia 20, Harris, 18, e seu colega de classe Dylan Klebold, 17 -que diziam pertencer à "máfia do casaco"-, entraram na escola armados com explosivos e rifles semi-automáticos. Mataram 12 alunos e um professor. E se suicidaram depois.
Segundo as investigações, a dupla planejava matar mais de 500 pessoas -sonhavam em sequestrar um avião e jogá-lo sobre Nova York. Trechos do site de Harris indicam que ele desejava fazer o maior número de vítimas possível.
"Estilhaços, como pregos ou parafusos, são muito importantes se você quer matar ou ferir um grande número de pessoas", afirma Harris, no texto em que ensina a fazer em casa bombas poderosas. "Bombas de canos são um dos jeitos mais fáceis e mortais para matar um grupo de pessoas ou destruir algumas coisas."
Assim como os textos, as imagens de sua home page também retratam o que pareciam ser seus assuntos favoritos: armas e morte.
Uma página de caderno, com desenhos em que ele retrata homens com armas de fogo e facas, caveiras e um demônio, foi escaneada e circula hoje em sites e e-mails pela Internet.
O psiquiatra infantil Haim Grunspun, que analisou o desenho à pedido da Folha, diz que as figuras não revelam uma personalidade assassina ou suicida.
"O desenho é típico de um adolescente na atualidade. Facas, armas, ameaça de tiros, caveiras, são os temas comuns", explica Grunspun. "Não vejo sinais de depressão em nenhuma das figuras."
Mas a discussão sobre violência juvenil e controle de armas suscitada no país pela tragédia de Littleton chegou à Internet. E muitas são as críticas àqueles que seguem expondo o legado de Eric Harris.
Os internautas proprietários dos "espelhos" do web site de Harris dizem discordar da violência de seu conteúdo. Mas defendem que o material deve continuar a ser exibido on line.
Um deles, que utiliza o codnome "moon692", conta que mantém uma queda de braço com a Tripod -empresa que oferece páginas de Internet gratuitas- que já tirou seu site do ar por três vezes.
"Até onde sei, não há conteúdo ilegal neste site", afirma o internauta. "Se a Tripod desabilitar para sempre o site, será o fim da curta vida desta página da "máfia do casaco'", reclama.


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