São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Em campanha por maior apoio iraquiano e internacional, presidente muda seu discurso sobre ocupação

Bush afirma "entender" os insurgentes

DA REDAÇÃO

"Nem todos os que combatem a presença americana no Iraque são terroristas", disse o presidente dos EUA, George W. Bush, em entrevista a ser publicada hoje pela "Paris Match". Após meses referindo-se aos insurgentes como "bandidos e terroristas", Bush declarou à revista popular francesa que consegue "entender" o sentimento dos que se opõem à ocupação -indício de que o discurso americano foi revisado dentro da iniciativa para melhorar a imagem do país entre os iraquianos.
"Nem todos são terroristas. Os homens-bomba são, mas os demais combatentes não. Eles não suportam a ocupação", disse Bush. "É por isso que estamos lhes dando de volta sua soberania", acrescentou, referindo-se à transição que culmina dia 30 com a posse do governo interino.
A entrevista precede a viagem do presidente hoje à Europa, onde deve dar continuidade à campanha para atrair maior apoio externo para as operações no Iraque. Dentro dessa iniciativa, Londres e Washington revisaram sua proposta de resolução na ONU, incluindo a expressão "soberania total" (em oposição a "soberania parcial") e a especificação de que as forças multinacionais, comandadas pelos EUA, ficarão no país "até a conclusão do processo político" -interpretada como a posse do governo eleito diretamente, prevista para janeiro de 2006.
Mas os opositores da guerra reagiram com renitência. "Embora seja uma boa base para discussão, ainda são necessárias novas melhorias para confirmar a total soberania do governo iraquiano, sobretudo no escopo militar", disse o presidente da França, Jacques Chirac. Rússia e Alemanha emitiram parecer semelhante.

Moral versus violência
Já no front doméstico, o alvo do governo é o moral das tropas, minado por constantes baixas e pelo escândalo da tortura de iraquianos por soldados americanos. Ontem o presidente voltou a discursar sobre o que classifica como avanços no Iraque e no combate ao terrorismo, traçando um paralelo com a missão americana na Segunda Guerra Mundial.
"Assim como os eventos na Europa determinaram o desfecho da Guerra Fria, os eventos no Oriente Médio determinarão o curso de nossa luta presente", declarou Bush a quase 30 mil militares na Academia da Força Aérea, no Colorado. "Se essa região for deixada para os ditadores e terroristas, será uma fonte constante de violência e alarme. Se houver democracia, prosperidade e esperança, o movimento terrorista perderá patrocinadores, recrutas e as injustiças que o mantêm."
Mas o otimismo do discurso contrastou com a tensão no Iraque, onde a explosão de dois carros-bomba deixou ao menos cinco mortos e 37 feridos na capital. Outros quatro iraquianos morreram em confrontos entre as tropas dos EUA e a milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr em Kufa (sul), onde deveria vigorar um acordo de cessar-fogo.
Comparações entre o atual conflito no Iraque, onde a violência fugiu do controle dos EUA, e a bem sucedida campanha americana na Segunda Guerra têm sido freqüentes pelo governo, que usa uma data histórica para incentivar seus soldados. Domingo será comemorado o 60º aniversário do Dia D, quando as tropas aliadas desembarcaram na Normandia (França) e avançaram para derrubar as forças alemãs.

Chalabi
Ahmed Chalabi, um dos membros do extinto Conselho de Governo Iraquiano e antigo aliado dos EUA, está sendo investigado pelo FBI por ter passado informações secretas ao Irã. Segundo um congressista americano que pediu anonimato, Chalabi teria dito a Teerã que Washington quebrou o código de comunicação usado pelo serviço secreto iraniano.


Com agências internacionais

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