São Paulo, quinta-feira, 03 de junho de 2004

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ÁSIA

Caso de Satomi Mitarai, degolada por outra aluna dentro de escola primária, deflagra debate sobre "valor da vida" no país

Menina de 11 mata colega e choca Japão

NATALIE OBIKO PEARSON
DA ASSOCIATED PRESS, EM TÓQUIO

A polícia vasculhou e-mails, examinou mensagens de celular e investigou relatos sobre uma disputa no pátio de uma escola, anteontem, em busca da razão que levou ao assassinato sangrento de uma menina de 12 anos, por uma colega de classe, no sul do Japão.
Enquanto isso, autoridades educacionais, chocadas, pediram aos professores que revissem os currículos escolares, para dar ênfase maior ao ensino da compaixão e do respeito pela vida.
"É uma tragédia terrível que um incidente como esse tenha ocorrido dentro de uma escola. Eu gostaria de pedir a todos que tomem medidas adicionais para assegurar que algo assim nunca volte a acontecer", disse um representante do Ministério da Educação, Yasunao Seki, numa reunião convocada por educadores.
Algumas escolas anunciaram que vão realizar inspeções em salas de aula e trancar instrumentos afiados. Hidehito Komori, diretor de uma escola primária ao norte de Tóquio, declarou: "Estamos revendo a maneira como ensinamos às crianças sobre a preciosidade da vida humana".
Na terça-feira, a suposta assassina, uma menina de 11 anos, levou Satomi Mitarai a uma sala de aula vazia na hora do recreio, decepou seu pescoço e seus braços com um estilete e a deixou sangrar até morrer. O diretor da escola, Eiko Desaki, contou que uma professora encontrou o corpo ensangüentado de Mitarai numa sala de aula do terceiro andar depois de a suspeita ter voltado para baixo suja de sangue.
Um dos investigadores que trabalham no caso, Masanori Nakamura, contou a jornalistas que os pais da suspeita estão chocados com os atos de sua filha. "Os pais disseram que não tiveram trabalho em sua criação, que suas notas são boas e que ela é uma menina confiável e esforçada", disse ele.
A polícia investiga a possibilidade de o crime ter sido motivado por uma briga das duas meninas pela internet. A imprensa mencionou uma amizade que, de repente, deu errado. As duas meninas eram colegas de classe que se comunicavam constantemente por e-mails. Uma deixava mensagens na home page da outra.
De acordo com o site do jornal "Asahi Shimbun", a suposta assassina teria dito aos investigadores: "Não achei graça do que ela escreveu na home page, então a chamei para fora da sala de aula. Eu pretendia matá-la". Segundo a Nippon Television Network, outros alunos disseram recordar que as duas meninas brigaram em um evento esportivo escolar recente.
A suspeita foi transferida para um centro de detenção juvenil, enquanto seu caso é submetido à Justiça. Seguindo as normas legais japonesas de proteção a infratores menores de idade, a polícia não divulgou seu nome.
Pais, alunos e professores abalados pela tragédia se reuniram em assembléia especial na escola elementar Okubo, em Sasebo, 980 km a sudoeste de Tóquio, para lamentar a morte de Mitarai. "Estamos preocupados em como cuidar das crianças traumatizadas com o que aconteceu", disse Junichiro Kamogawa, do conselho de ensino de Sasebo.
O crime chocou o Japão, onde o aumento dramático da delinqüência juvenil e da violência escolar nos últimos dez anos abalou a crença de que o país estaria imune à violência comum na Europa e nos EUA. Segundo a Agência Nacional de Polícia, em 2003 foram presos 21.539 menores de 14 anos, um aumento de 5,2% em relação ao ano anterior.


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