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Portugal julga acusados de matar brasileiro
Crime cometido por grupo de adolescentes em fevereiro abre debate sobre pena para menores no país
VITORINO CORAGEM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LISBOA
Começa hoje em Portugal o
julgamento dos adolescentes
acusados de assassinar o travesti brasileiro Gisberto Salce
Júnior na cidade do Porto, em
fevereiro último. O processo
transcorrerá a portas fechadas.
Os 14 réus do chamado "caso
Gisberta" têm entre 13 e 16
anos, e 12 deles eram internos
da Oficina de São José e do
Centro Juvenil da Campanha,
instituições da Igreja Católica
para menores de famílias com
problemas. O crime foi descoberto quando um dos adolescentes contou o que aconteceu
a uma professora.
Em Portugal desde 1990, Gisberto vivia em uma construção
abandonada no centro do Porto. Morreu afogado após ter sido agredido sexualmente, apedrejado e jogado em um fosso
de 15 metros de profundidade.
O crime chocou o país e abriu
uma discussão sobre o enquadramento penal de menores.
Onze dos jovens já estão em
centros educativos, mas não
em regime fechado. Outro, de
16 anos, foi entregue aos pais
após um relatório final não o
incriminar.
Uma das possibilidades é que
os adolescentes sejam enviados
de volta pelo juiz para a própria
Oficina de São José. Mas o presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho, ordenou que o local fosse
inspecionado após emergirem
na imprensa relatos de que alunos da instituição participam
de gangues violentas do Porto.
Comoção
O caso teve grande impacto
sobre as associações européias
gay e de Direitos Humanos.
No dia 24 de junho, durante a
parada do orgulho gay de Lisboa, a morte de Gisberto foi recordada com um minuto de silêncio. O rosto do travesti
transformou-se na imagem da
manifestação, em máscaras
utilizadas pelos manifestantes
e em camisetas. A morte do
brasileiro também foi lembrada em outras cidades européias, como Madri, Barcelona,
Paris, Marselha, Estrasburgo,
Atenas, Viena, Bruxelas, Berlim e Amesterdã.
No último dia 8, ongs de transexuais exigiram diante da Assembléia da República, em Lisboa, que o Estado português assuma a responsabilidade no caso. "A última coisa que queremos é sacrificar crianças. O Estado é que deve ser responsabilizado, pois é o tutor", afirmou à
agência Lusa Jó Bernardo, presidente da Associação para o
Estudo e Defesa do Direito à
Identidade de Gênero.
"Gis", como era conhecido,
nasceu em uma família pobre
do interior de São Paulo e queria mudar de sexo para assumir
a sua identidade feminina.
Conseguiu terminar a primeira
fase do processo, submetendo-se a um tratamento hormonal e
ao implante mamário, mas não
chegou à cirurgia genital.
Antes de vir para Portugal,
morou na França, onde participava de shows e trabalhava como prostituta. Em Portugal,
onde vivia desde 1990, fazia
shows em casas noturnas, imitando principalmente a cantora Daniela Mercury.
No ano passado, por meio de
uma associação de apoio a portadores do HIV, foi internado
em uma instituição no sul do
país. Mas fugiu pouco tempo
depois, passando a viver nas
ruas.
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