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Argentina volta a julgar ex-ditador
Rafael Videla, 84, começou a ser julgado pela execução de 31 presos políticos na cidade de Córdoba em 1976
General governou país nos primeiros cinco anos do regime e é considerado o arquiteto do plano de repressão
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
O ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla, 84, começou a ser julgado ontem pela
execução de 31 presos políticos na cidade de Córdoba durante o último regime militar
do país (1976-1983).
Videla governou a Argentina nos primeiros cinco anos
do regime e é considerado o
principal arquiteto do plano
de repressão estatal que resultou em 30 mil mortos e desaparecidos.
Em 1985, ele e outros comandantes militares foram
condenados à prisão perpétua por crimes como tortura e
assassinato. Cinco anos depois, no entanto, todos foram
soltos graças aos indultos assinados pelo ex-presidente
Carlos Menem (1989-1999).
O julgamento iniciado ontem se refere a assassinatos
ocorridos entre abril e outubro de 1976. Segundo o Ministério Público, o Estado simulou tentativas de fuga para disfarçar a execução de integrantes de organizações armadas de esquerda que estavam presos em Córdoba.
Comunicados enviados à
época por Videla a comandantes das prisões vinculam
o ex-presidente às 31 execuções. Por carta, ele era informado da condição dos detidos e decidia o destino de cada um, segundo o promotor
Maximiliano Hairabedian.
Grande parte dessas vítimas, segundo ele, havia sido
presa ainda durante o governo civil de Isabelita Perón.
Antes de ser deposta, em
1976, Isabelita já mantinha
aparato de repressão clandestino e havia emitido decreto autorizando os militares a "aniquilar" a guerrilha.
Além de Videla, outras 30
pessoas, entre ex-militares e
ex-policiais, são acusados
pelas execuções de Córdoba.
Ontem, no tribunal, o ex-ditador teve de ser contido pelos juízes ao tentar se manifestar em um momento impróprio. A previsão é que o
julgamento se estenda por ao
menos seis meses.
Videla responde a uma série de processos por violação
de direitos humanos e deve
enfrentar ao menos outros
dois julgamentos neste ano.
Em um deles, o ex-ditador é
acusado de ser o mentor da
apropriação sistemática de
bebês nascidos em cativeiro
durante o regime militar.
Quando prisioneiras davam à luz, agentes repressores entregavam as crianças a
militares e amigos do regime
que as adotavam clandestinamente.
Em razão desse processo,
o ex-ditador voltou a ser preso preventivamente em
2008, quando deixou a prisão domiciliar e foi levado a
uma unidade militar.
Em abril deste ano, um outro ex-ditador argentino,
Reynaldo Bignone, 82, foi
julgado por crimes contra a
humanidade. Último presidente do regime militar, Bignone foi condenado a 25 anos
de prisão.
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