São Paulo, quinta-feira, 03 de agosto de 2000


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TABAGISMO
Segundo pesquisadores britânicos, abandono do vício até os 35 anos reduz em 90% riscos de câncer de pulmão
Fumo matará 1 bi no século 21, diz estudo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Um bilhão de pessoas morrerão em todo o mundo ao longo do século 21 por doenças relacionadas ao fumo se não houver redução no atual índice de consumo de cigarros, segundo um estudo divulgado ontem na Inglaterra.
Segundo o estudo, que será publicado pela revista "British Medical Journal", cerca de 100 milhões de pessoas morreram em todo o mundo em consequência do tabagismo durante o século 20.
Os prognósticos sombrios, no entanto, podem ser revertidos, segundo os autores do estudo, se os atuais fumantes deixarem o vício.
Entre os britânicos, que há 50 anos tinham uma das maiores taxas de mortalidade por câncer de pulmão, o abandono do hábito de fumar por adultos reduziu esses índices pela metade nos últimos 35 anos.
"A mensagem que queremos passar é que em qualquer idade vale a pena parar", disse o epidemiologista Richard Peto, do Imperial Cancer Research Fund, que dirigiu a pesquisa com Richard Doll, o primeiro pesquisador a identificar a ligação entre fumo e câncer no Reino Unido, em 1950.
"A variação no número de mortes nos próximos 50 anos estará muito mais relacionada aos adultos que conseguirão parar de fumar do que com os adolescentes que começarão a fumar", disse Peto.
Ele enfatiza a importância de prevenir que jovens comecem a fumar, mas diz que isso não reduziria o número de mortes relacionadas ao tabaco pelas próximas décadas.
Isso porque a maioria das doenças relacionadas ao consumo do tabaco aparece décadas depois do início do hábito de fumar, segundo os autores do estudo.
"O consumo de cigarros é muito mais danoso do que pensávamos antes", disse Doll, ex-fumante que largou o vício há quatro décadas. Citando seu próprio caso como exemplo, o médico octogenário disse: "Deixar de fumar traz benefícios em qualquer idade".
Quando ele fez seu primeiro estudo sobre fumo e câncer de pulmão, em 1950, o Reino Unido tinha uma das taxas de mortalidade pela doença mais altas do mundo. Naquela época, quase 80% dos homens adultos e 40% das mulheres adultas fumavam.
Hoje há no Reino Unido duas vezes mais ex-fumantes acima dos 50 anos que fumantes. Mas as doenças relacionadas ao fumo ainda são a maior causa de morte prematura. Cerca de 6 milhões de pessoas morreram no Reino Unido nos últimos 50 anos por doenças relacionadas ao fumo, metade delas com idades entre 35 e 69 anos, que perderam uma média de 20 anos de vida.
"Temos 12 milhões de fumantes no Reino Unido. Metade morrerá por causa do fumo se não parar antes. A única forma de salvar esses 6 milhões é fazer os adultos pararem de fumar", disse Peto.
Nos Estados Unidos, onde cerca de 50 milhões de pessoas fumam, 25 milhões morrerão se não deixarem de fumar. Com 1,1 bilhão de fumantes em todo o mundo (pouco mais de um sexto da população total), o número de mortes potenciais relacionadas ao fumo é impressionante.
"Com os níveis atuais de consumo de tabaco, haverá 150 milhões de mortes relacionadas ao fumo nos 25 primeiros anos do século e 300 milhões no segundo quarto", disse Peto. "A maioria dos que morrerão em consequência do fumo na primeira metade do século já começou a fumar", disse.
Peto e Doll salientaram o efeito de se deixar de fumar por um longo período. A maioria das mortes relacionadas ao tabaco ocorre décadas após as pessoas adquirirem o hábito de fumar.
O estudo mostra que, entre os homens que continuam a fumar, 16% morrerão em consequência de câncer no pulmão antes dos 75 anos. Mas, para os homens que param de fumar antes dos 50 anos, o risco é de apenas 6%. Para os que param antes dos 30, o risco cai para 2%.
"Parando de fumar antes dos 35 anos você se livra de mais de 90% dos riscos atribuídos ao cigarro para desenvolver câncer de pulmão", disse Doll.
Segundo o diretor da organização britânica antitabagismo Action on Smoking and Health, Clive Bates, o estudo divulgado ontem mostra que "ninguém deveria pensar que é tarde demais para deixar de fumar". "As pessoas podem reduzir o risco de morte substancialmente e muito rápido se renunciarem ao tabaco em qualquer idade", disse.

Indústria denunciada
A Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou ontem que documentos da indústria do tabaco mostram que os fabricantes de cigarro se empenharam, por muitos anos, em influenciar e desacreditar os esforços antifumo da organização.
A OMS também acusa consultores das indústrias de terem conseguido postos nas afiliadas da organização para combater suas posições.
As denúncias foram feitas em meio à campanha que a OMS e outros grupos internacionais estão promovendo para manter a atenção sobre a questão após a Justiça americana ter feito um acordo com os fabricantes, pelo qual eles concordaram em restringir a propaganda e a financiar campanhas antifumo.
Como o acordo só se aplica aos EUA, os grupos antifumo acreditam que os fabricantes continuarão usando os mesmos métodos em outros países.
Em um comunicado público, a Philip Morris, maior fabricante de cigarros, disse ontem que os documentos citados pela OMS têm mais de uma década e refletiriam um momento diferente. Segundo a empresa, suas práticas foram mudadas.
A British-American Tobbaco, outra das empresas citadas pela OMS, foi mais crítica. "É muito triste que a OMS tenha cedido à obsessão de denunciar com base em documentos antigos em vez de trabalhar em conjunto conosco para mudar a situação", disse o porta-voz da companhia, Michael Pridaux.
No mês passado, um júri da Flórida condenou os cinco maiores fabricantes de cigarros dos EUA a pagar US$ 145 bilhões em indenizações a fumantes daquele Estado por danos causados pelo fumo, na maior indenização judicial da história do país.


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