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TABAGISMO
Segundo pesquisadores britânicos, abandono do vício até os 35 anos reduz em 90% riscos de câncer de pulmão
Fumo matará 1 bi no século 21, diz estudo
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Um bilhão de pessoas morrerão
em todo o mundo ao longo do século 21 por doenças relacionadas
ao fumo se não houver redução
no atual índice de consumo de cigarros, segundo um estudo divulgado ontem na Inglaterra.
Segundo o estudo, que será publicado pela revista "British Medical Journal", cerca de 100 milhões
de pessoas morreram em todo o
mundo em consequência do tabagismo durante o século 20.
Os prognósticos sombrios, no
entanto, podem ser revertidos, segundo os autores do estudo, se os
atuais fumantes deixarem o vício.
Entre os britânicos, que há 50
anos tinham uma das maiores taxas de mortalidade por câncer de
pulmão, o abandono do hábito de
fumar por adultos reduziu esses
índices pela metade nos últimos
35 anos.
"A mensagem que queremos
passar é que em qualquer idade
vale a pena parar", disse o epidemiologista Richard Peto, do Imperial Cancer Research Fund, que
dirigiu a pesquisa com Richard
Doll, o primeiro pesquisador a
identificar a ligação entre fumo e
câncer no Reino Unido, em 1950.
"A variação no número de mortes nos próximos 50 anos estará
muito mais relacionada aos adultos que conseguirão parar de fumar do que com os adolescentes
que começarão a fumar", disse
Peto.
Ele enfatiza a importância de
prevenir que jovens comecem a
fumar, mas diz que isso não reduziria o número de mortes relacionadas ao tabaco pelas próximas
décadas.
Isso porque a maioria das doenças relacionadas ao consumo do
tabaco aparece décadas depois do
início do hábito de fumar, segundo os autores do estudo.
"O consumo de cigarros é muito mais danoso do que pensávamos antes", disse Doll, ex-fumante que largou o vício há quatro décadas. Citando seu próprio caso
como exemplo, o médico octogenário disse: "Deixar de fumar traz
benefícios em qualquer idade".
Quando ele fez seu primeiro estudo sobre fumo e câncer de pulmão, em 1950, o Reino Unido tinha uma das taxas de mortalidade
pela doença mais altas do mundo.
Naquela época, quase 80% dos
homens adultos e 40% das mulheres adultas fumavam.
Hoje há no Reino Unido duas
vezes mais ex-fumantes acima
dos 50 anos que fumantes. Mas as
doenças relacionadas ao fumo
ainda são a maior causa de morte
prematura. Cerca de 6 milhões de
pessoas morreram no Reino Unido nos últimos 50 anos por doenças relacionadas ao fumo, metade
delas com idades entre 35 e 69
anos, que perderam uma média
de 20 anos de vida.
"Temos 12 milhões de fumantes
no Reino Unido. Metade morrerá
por causa do fumo se não parar
antes. A única forma de salvar esses 6 milhões é fazer os adultos
pararem de fumar", disse Peto.
Nos Estados Unidos, onde cerca
de 50 milhões de pessoas fumam,
25 milhões morrerão se não deixarem de fumar. Com 1,1 bilhão
de fumantes em todo o mundo
(pouco mais de um sexto da população total), o número de mortes potenciais relacionadas ao fumo é impressionante.
"Com os níveis atuais de consumo de tabaco, haverá 150 milhões
de mortes relacionadas ao fumo
nos 25 primeiros anos do século e
300 milhões no segundo quarto",
disse Peto. "A maioria dos que
morrerão em consequência do fumo na primeira metade do século
já começou a fumar", disse.
Peto e Doll salientaram o efeito
de se deixar de fumar por um longo período. A maioria das mortes
relacionadas ao tabaco ocorre décadas após as pessoas adquirirem
o hábito de fumar.
O estudo mostra que, entre os
homens que continuam a fumar,
16% morrerão em consequência
de câncer no pulmão antes dos 75
anos. Mas, para os homens que
param de fumar antes dos 50
anos, o risco é de apenas 6%. Para
os que param antes dos 30, o risco
cai para 2%.
"Parando de fumar antes dos 35
anos você se livra de mais de 90%
dos riscos atribuídos ao cigarro
para desenvolver câncer de pulmão", disse Doll.
Segundo o diretor da organização britânica antitabagismo Action on Smoking and Health, Clive Bates, o estudo divulgado ontem mostra que "ninguém deveria pensar que é tarde demais para
deixar de fumar". "As pessoas podem reduzir o risco de morte
substancialmente e muito rápido
se renunciarem ao tabaco em
qualquer idade", disse.
Indústria denunciada
A Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou ontem que
documentos da indústria do tabaco mostram que os fabricantes de
cigarro se empenharam, por muitos anos, em influenciar e desacreditar os esforços antifumo da
organização.
A OMS também acusa consultores das indústrias de terem conseguido postos nas afiliadas da organização para combater suas posições.
As denúncias foram feitas em
meio à campanha que a OMS e
outros grupos internacionais estão promovendo para manter a
atenção sobre a questão após a
Justiça americana ter feito um
acordo com os fabricantes, pelo
qual eles concordaram em restringir a propaganda e a financiar
campanhas antifumo.
Como o acordo só se aplica aos
EUA, os grupos antifumo acreditam que os fabricantes continuarão usando os mesmos métodos
em outros países.
Em um comunicado público, a
Philip Morris, maior fabricante de
cigarros, disse ontem que os documentos citados pela OMS têm
mais de uma década e refletiriam
um momento diferente. Segundo
a empresa, suas práticas foram
mudadas.
A British-American Tobbaco,
outra das empresas citadas pela
OMS, foi mais crítica. "É muito
triste que a OMS tenha cedido à
obsessão de denunciar com base
em documentos antigos em vez
de trabalhar em conjunto conosco para mudar a situação", disse o
porta-voz da companhia, Michael
Pridaux.
No mês passado, um júri da Flórida condenou os cinco maiores
fabricantes de cigarros dos EUA a
pagar US$ 145 bilhões em indenizações a fumantes daquele Estado
por danos causados pelo fumo, na
maior indenização judicial da história do país.
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