São Paulo, sábado, 03 de agosto de 2002

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"Ameaça difusa confunde militares"

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Como as atividades terroristas não são explícitas, é difícil para o governo de um país defender-se delas, e a prudência pode transformar-se em paranóia. Essa ameaça difusa acaba confundindo os estrategistas militares.
A análise é de James Lindsay, ex-diretor para questões globais e assuntos multilaterais do Conselho de Segurança Nacional dos EUA (1996-1997).
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.

Folha - Como o sr. interpreta a nova atitude do Pentágono em relação aos líderes da Al Qaeda?
James Lindsay -
Ela reflete a frustração de Donald Rumsfeld [secretário da Defesa" com o que ele crê ser um excesso de prudência do Comando Central. O general Tommy Franks, que chefia o Comando Central, é reputado por ser muito cuidadoso no que faz.
Passando o comando das operações a alguém considerado mais agressivo, como o general Charles Holland, que lidera o Comando de Operações Especiais, Rumsfeld demonstra querer mais ousadia nas missões realizadas.

Folha - Isso poderá surtir os efeitos esperados por Rumsfeld?
Lindsay -
Na verdade, não creio que ninguém tenha certeza disso. Isso depende de sabermos ou não onde os líderes da Al Qaeda se encontram. Não digo saber especificamente, mas ter uma idéia clara do paradeiro deles. A verdadeira questão é a seguinte: por que Osama bin Laden e seus asseclas ainda não foram encontrados?
Há algumas respostas possíveis. Primeiro, eles continuam desaparecidos porque, em sua maioria, já estão mortos devido aos bombardeios dos EUA. Segundo, porque eles conseguiram escapar à vigilância dos militares americanos e desapareceram. Terceiro, porque as forças de segurança americanas têm sido "prudentes demais" em suas missões. Talvez tenhamos uma idéia da resposta correta em alguns meses.

Folha - Trata-se de um fantasma que assombra os militares?
Lindsay -
A grande diferença entre a guerra ao terrorismo e a Guerra Fria é que, no primeiro caso, o inimigo é quase invisível. Na Guerra Fria, todos sabiam quem eram os adversários, e, contando tanques e mísseis, o comando militar tinha uma boa noção do potencial de seu oponente e da ameaça que pairava sobre o país.
No que se refere à Al Qaeda, ninguém tem uma real noção da magnitude da ameaça. Rumsfeld e [George W." Bush não sabem muito mais do que os analistas. As atividades da rede não são convencionais, o que abre caminho para que a prudência se transforme em paranóia. Essa ameaça difusa confunde os militares.



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