São Paulo, sexta-feira, 03 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Putin explora terror contra críticos

DA ASSOCIATED PRESS

O presidente russo, Vladimir Putin, apresenta os rebeldes na Tchetchênia como parte da ameaça terrorista internacional encabeçada pela Al Qaeda. Mas, ainda que a insurgência tchetchena tenha recebido apoio de combatentes islâmicos estrangeiros, os analistas dizem que ela continua sendo principalmente um movimento nacionalista pela independência em relação à Rússia.
As freqüentes afirmações de Putin que ligam os rebeldes ao principal alvo dos EUA na guerra contra o terrorismo são vistas como um esforço para diminuir as críticas ocidentais contra a mão pesada russa na campanha de pacificação da Tchetchênia.
O objetivo de Putin, diz Alexander Golts, analista militar russo, era "pôr a Rússia entre os que lutam contra o terrorismo para dizer: "Veja, nós lutamos contra o mesmo inimigo, mas em outro front, na Tchetchênia'". "É a melhor forma de evitar qualquer tipo de crítica", diz Golts.
Apesar do apoio estrangeiro e do recente aumento de fervor pelo islamismo, o fragmentado movimento continua mais voltado para o conflito com a Rússia do que para a "jihad" (guerra santa) contra a América.
"A resistência continua nacionalista", afirma Golts. "Mas, após dez anos de guerra brutal, é mais ou menos natural que ela se torne aberta a toda idéia selvagem vinda do Oriente Médio com dinheiro, instrutores e aventureiros."
Durante e depois da guerra de 1994-96, que levou a uma retirada temporária russa, um senhor da guerra saudita lutando sob o nome de Khattab apareceu como um importante comandante -mas se espelhava nas "jihads" dos anos 80 contra a invasão da URSS no Afeganistão, indicando fontes sauditas de recursos.
Os árabes, com sua estrita observância do islã, entraram em atrito com outros comandantes tchetchenos e com a população local, de uma tradição muçulmana mais leniente.
O levante, que começou como uma disputa puramente nacionalista por independência, tornou-se então mais islamizado.
Os laços atuais com o islã são complexos, mesmo com a redução do apoio financeiro, de acordo com Malashenko, especialista na região. "No início, o conflito não tinha relação com o islã", disse. Entretanto, nos últimos quatro anos, "uma parte dos tchetchenos e muçulmanos de outras regiões da Rússia mais e mais se identificou com a "jihad" global, e cada vez mais pensa que não luta apenas contra a Rússia".
"Há uma troca de experiência", diz o analista. "O uso de mulheres-bomba não foi inventado pelos tchetchenos."


Texto Anterior: Rússia já teve resgates desastrosos
Próximo Texto: Iraque sob tutela: França acredita em libertação de repórteres
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.