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Mundo vê pouco avanço na questão dos desaparecidos
Dos 51 mil casos notificados a mais de 90 países, 41 mil não foram esclarecidos
Aprovação em junho de uma convenção para a proteção de pessoas contra o desaparecimento forçado foi um marco positivo
ADRIANA MARCOLINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Os familiares das pessoas desaparecidas em todo o mundo
tiveram em 30 de agosto, o Dia
dos Desaparecidos, um motivo
a mais para se sentirem encorajados a esclarecer o destino de
seus parentes. Em junho, o
Conselho de Direitos Humanos
da ONU aprovou a Convenção
Internacional para a Proteção
de todas as Pessoas contra o
Desaparecimento Forçado.
O tratado proíbe essa prática
tanto em períodos de paz como
de guerra e obriga os Estados a
classificá-la como crime. A
Convenção, a ser aprovada pela
assembléia do ONU para entrar
em vigor, não é uma solução
mágica, mas deve inibir os governos que costumam adotar o
desaparecimento forçado de
pessoas como uma forma de
coibir a livre expressão.
Criado em 1980 para fazer
frente aos inúmeros casos de
desaparecidos durante as ditaduras militares na América Latina, o Grupo de Trabalho (GT)
em Desaparecimentos Forçados ou Involuntários da comissão expandiu ao longo dos anos
seu raio de ação. Até hoje, já notificou cerca de 51 mil casos aos
governos de mais de 90 países-membros da ONU. Desse total,
cerca de 41 mil, em 79 países,
não foram esclarecidos. Em
2005, 535 novos casos foram
notificados a 22 governos.
As situações de conflitos internos, como no caso colombiano, são responsáveis pela maioria dos desaparecimentos forçados atualmente. Desde 1980
o GT já recebeu denúncias de
1.154 desaparecimentos forçados naquele país. Os grupos paramilitares, diz o grupo, são os
principais responsáveis.
No caso das guerras na antiga
Iugoslávia, das cerca de 40 mil
pessoas dadas como desaparecidas, aproximadamente 20 mil
ainda não foram identificadas,
segundo a Comissão Internacional de Pessoas Desaparecidas, com sede em Sarajevo.
A angústia provocada pela incerteza em relação ao paradeiro de um familiar é difícil de ser
medida. Segundo a psicóloga
sérvia Vesna Petrovic, que trabalha em Belgrado com famílias de desaparecidos de Kosovo, "no caso de alguém que desapareceu, não há a possibilidade de confirmar que, de fato,
houve uma morte."
De acordo com Petrovic, os
familiares dos desaparecidos
entendem que seguir adiante
sem ter certeza sobre o destino
de seus parentes é uma traição
e sentem-se culpados por isso.
O chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz
Vermelha (CICV) em Lima,
Philippe-Antoine Gaillard,
conta que o Peru tem oficialmente 12 mil desaparecidos.
No Brasil, a Lei 9.140, promulgada em 1995, reconheceu de
imediato como mortos os 136
desaparecidos políticos da ditadura militar, a maioria participantes da Guerrilha do Araguaia. "A lei determinou a indenização financeira às famílias,
mas lançou todo o ônus da prova sobre os familiares", explica
a historiadora Janaína de Almeida Teles, da USP.
Teles lembra que, em 2003, o
governo Lula recorreu da decisão da juíza Solange Salgado,
que determinara a quebra do
sigilo das operações militares
no Araguaia e a indicação dos
locais de sepultamento dos
mortos. "Desde 1980 houve várias escavações, mas só um corpo foi identificado."
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