São Paulo, domingo, 03 de setembro de 2006

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Ataques na Turquia trazem à tona nova organização curda

Analistas divergem sobre a relação de grupo que assumiu atentados com o nacionalista PKK, atuante desde 1984


Um dos objetivos das ações, concordam os especialistas, é afugentar os turistas e prejudicar o setor, vital para a economia do país

PEDRO AGUIAR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ISTAMBUL

O terrorismo ganhou mais uma face na Turquia, onde, na semana passada, cinco explosões em três cidades mataram três pessoas e deixaram 47 feridas, incluindo dez turistas.
Embora nem todas tenham sido assumidas pelo grupo Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK), o governo turco e analistas acreditam que as ações foram obra da mesma nova corrente de nacionalistas curdos que, após a invasão do Iraque em 2003, ganhou força e ameaça sair do controle. Os curdos são uma minoria étnica presente na região de fronteira entre Turquia, Iraque, Irã e Síria.
Na noite do domingo passado, três explosões atingiram o balneário de Mármaris, ferindo 22 pessoas, das quais dez eram britânicos -a nacionalidade mais freqüente entre os turistas da região. Horas depois, outra bomba foi detonada em Istambul, deixando seis turcos com ferimentos leves. No dia seguinte, um quinto artefato explodiu em Antália, também no litoral, desta vez matando três turcos e ferindo outros 20.
Segundo Murat Somer, especialista em conflitos étnicos e na questão curda, os atentados da semana passada diferem do estilo do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), o movimento armado de extrema esquerda que luta pela autonomia curda desde 1984 e costuma atacar soldados e policiais turcos. Para ele, é provável que o TAK seja um braço do PKK ou um novo grupo inspirado na guerrilha nacionalista.
"O PKK negou ter qualquer ligação com o TAK, mas é possível que membros do partido estejam organizando estas atividades clandestinamente. A possibilidade mais perigosa, para a Turquia e a comunidade internacional, é se o TAK for algum tipo de metralhadora giratória, um grupo radical sem liderança de fato e sem controle central, como a Al Qaeda", diz.
De acordo com Somer, o TAK já assumira a responsabilidade por um ataque a um ônibus que matou cinco pessoas, incluindo dois turistas, em julho de 2005. No mês passado, reivindicou a autoria de incêndios que devastaram florestas no oeste turco.
"O PKK parece ter moderado seus objetivos. Agora, eles querem ser conhecidos como um partido político legalizado e renunciaram à violência contra civis. Em contraste, o TAK parece por ora ter alvejado especificamente civis turcos e estrangeiros e a economia da parte ocidental", compara Somer.
Outro especialista crê que o PKK está por trás do TAK e que a questão, caso não seja contida, pode fazer o conflito se alastrar pelo Oriente Médio. "O TAK é uma extensão do PKK com laços orgânicos, recebendo ordens do comitê central", diz o major Nihat Ali Özcan, consultor em contraterrorismo do Instituto de Pesquisa em Política Econômica da Turquia.
O sociólogo Ahmet Icduygu, da Universidade Koç, afirma que a sociedade turca e a comunidade internacional associam hoje a causa dos curdos ao terrorismo, mas ressalta que houve três tentativas de fundar partidos curdos e que, em todas elas, a Justiça do país cancelou os registros sob a alegação que a lei não permite partidos étnicos ou religiosos. Para ele, a falta de vontade política da Turquia em permitir a participação democrática da minoria curda ajuda a agravar o problema.
Os analistas concordam, entretanto, que um dos objetivos dos ataques é afugentar os turistas e prejudicar a economia da Turquia, onde o turismo movimenta 18 bilhões por ano e responde por 6% do PIB.


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