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Ataques na Turquia trazem à tona nova organização curda
Analistas divergem sobre a relação de grupo que assumiu atentados com o nacionalista PKK, atuante desde 1984
Um dos objetivos das ações,
concordam os especialistas,
é afugentar os turistas e
prejudicar o setor, vital
para a economia do país
PEDRO AGUIAR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ISTAMBUL
O terrorismo ganhou mais
uma face na Turquia, onde, na
semana passada, cinco explosões em três cidades mataram
três pessoas e deixaram 47 feridas, incluindo dez turistas.
Embora nem todas tenham
sido assumidas pelo grupo Falcões da Liberdade do Curdistão
(TAK), o governo turco e analistas acreditam que as ações
foram obra da mesma nova corrente de nacionalistas curdos
que, após a invasão do Iraque
em 2003, ganhou força e ameaça sair do controle. Os curdos
são uma minoria étnica presente na região de fronteira entre
Turquia, Iraque, Irã e Síria.
Na noite do domingo passado, três explosões atingiram o
balneário de Mármaris, ferindo
22 pessoas, das quais dez eram
britânicos -a nacionalidade
mais freqüente entre os turistas da região. Horas depois, outra bomba foi detonada em Istambul, deixando seis turcos
com ferimentos leves. No dia
seguinte, um quinto artefato
explodiu em Antália, também
no litoral, desta vez matando
três turcos e ferindo outros 20.
Segundo Murat Somer, especialista em conflitos étnicos e
na questão curda, os atentados
da semana passada diferem do
estilo do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), o
movimento armado de extrema esquerda que luta pela autonomia curda desde 1984 e
costuma atacar soldados e policiais turcos. Para ele, é provável
que o TAK seja um braço do
PKK ou um novo grupo inspirado na guerrilha nacionalista.
"O PKK negou ter qualquer
ligação com o TAK, mas é possível que membros do partido
estejam organizando estas atividades clandestinamente. A
possibilidade mais perigosa,
para a Turquia e a comunidade
internacional, é se o TAK for algum tipo de metralhadora giratória, um grupo radical sem liderança de fato e sem controle
central, como a Al Qaeda", diz.
De acordo com Somer, o TAK
já assumira a responsabilidade
por um ataque a um ônibus que
matou cinco pessoas, incluindo
dois turistas, em julho de 2005.
No mês passado, reivindicou a
autoria de incêndios que devastaram florestas no oeste turco.
"O PKK parece ter moderado
seus objetivos. Agora, eles querem ser conhecidos como um
partido político legalizado e renunciaram à violência contra
civis. Em contraste, o TAK parece por ora ter alvejado especificamente civis turcos e estrangeiros e a economia da parte
ocidental", compara Somer.
Outro especialista crê que o
PKK está por trás do TAK e que
a questão, caso não seja contida, pode fazer o conflito se alastrar pelo Oriente Médio. "O
TAK é uma extensão do PKK
com laços orgânicos, recebendo ordens do comitê central",
diz o major Nihat Ali Özcan,
consultor em contraterrorismo
do Instituto de Pesquisa em
Política Econômica da Turquia.
O sociólogo Ahmet Icduygu,
da Universidade Koç, afirma
que a sociedade turca e a comunidade internacional associam
hoje a causa dos curdos ao terrorismo, mas ressalta que houve três tentativas de fundar
partidos curdos e que, em todas
elas, a Justiça do país cancelou
os registros sob a alegação que a
lei não permite partidos étnicos ou religiosos. Para ele, a falta de vontade política da Turquia em permitir a participação
democrática da minoria curda
ajuda a agravar o problema.
Os analistas concordam, entretanto, que um dos objetivos
dos ataques é afugentar os turistas e prejudicar a economia
da Turquia, onde o turismo
movimenta 18 bilhões por
ano e responde por 6% do PIB.
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