São Paulo, quarta, 3 de setembro de 1997.



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MÍDIA
Editor afirma que jornais 'sérios' britânicos não se diferenciam eticamente dos populares
Culpar os tablóides sensacionalistas é hipocrisia da imprensa, diz estudioso

do enviado especial a Londres

A grande imprensa do Reino Unido está sendo hipócrita ao culpar o jornalismo dos tablóides pela morte da princesa Diana.
A crítica é de Jeffrey Goodman, editor da revista "British Journalism Review". A publicação trimestral circula nos meios acadêmicos e é lida pelos dirigentes das principais empresas de comunicação do país.
"Há uma hipocrisia tremenda entre os grandes jornais, quase sem exceção", disse à Folha.
Segundo Goodman, 76, a atitude dos jornais "sérios" é igual, ou às vezes pior, à dos tablóides. "Eles fingem ser mais éticos, mas mesmo assim publicam as mesmas reportagens, citando os tablóides, e também usam as fotos obtidas pelos 'paparazzi'."
Para ele, a situação se agravou nos últimos dois anos, com os chamados jornais de qualidade se tornando cada vez mais parecidos com os tablóides.
A razão seria a necessidade de vender mais em um mercado extremamente competitivo. No Reino Unido, os tablóides são os campeões absolutos de tiragem.
O "The Sun", o maior deles, vende cerca de 4 milhões de exemplares. Por contraste, o "The Daily Telegraph", maior jornal da chamada grande imprensa, vende cerca de 1 milhão de cópias diárias.
O único jornal que não é alvo de críticas de Goodman, o "Financial Times", tem tiragem de 300 mil exemplares.
Mudança na lei
O editor se declara cético quanto à chance de êxito prático de uma legislação que tente conter os excessos da imprensa.
Para ele, a responsabilidade sobre a atitude dos jornais não é de editores, repórteres ou fotógrafos, que dependem do êxito das publicações para preservar seus empregos, mas dos "publishers" (os proprietários dos jornais).
"Há uma guerra de circulação, liderada especialmente por Rupert Murdoch, do grupo News International", afirmou.
O empresário de origem australiana é dono de alguns dos principais jornais britânicos, incluindo os jornais "The Times", "The Sun" e "The News of the World".
Goodman, que trabalhou nos principais jornais do país, acredita que qualquer legislação de proteção à privacidade será inócua se não for precedida por um acordo entre os donos de jornais.
"Não é possível que qualquer lei de proteção à privacidade funcione sem um acordo prévio sobre preços e circulação", disse.
O jornalista prevê que, pelo menos por algum tempo, a imprensa britânica se afaste do estilo de jornalismo contemplado pelos tablóides, por causa do choque causado pela morte de Diana.
Por causa da pressão da opinião pública, o tema também deve dominar, a partir de agora, a agenda política do país.
O assunto deve ser abordado em regime de urgência na volta do recesso parlamentar na Câmara dos Comuns, em outubro, e nas convenções dos grandes partidos, no mês seguinte.
Quanto ao futuro, Goodman é cético. "Daqui a seis meses a coisa vai começar a ser esquecida, e poderemos ver nos jornais as mesmas histórias sobre sexo, fofoca, escândalos, e assim por diante", afirmou. (PHB e FCz)



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