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MÍDIA
Editor afirma que jornais 'sérios' britânicos não se diferenciam eticamente dos populares
Culpar os tablóides sensacionalistas é hipocrisia da imprensa, diz estudioso
do enviado especial a Londres
A grande imprensa do Reino
Unido está sendo hipócrita ao culpar o jornalismo dos tablóides pela
morte da princesa Diana.
A crítica é de Jeffrey Goodman,
editor da revista "British Journalism Review". A publicação trimestral circula nos meios acadêmicos e é lida pelos dirigentes das
principais empresas de comunicação do país.
"Há uma hipocrisia tremenda
entre os grandes jornais, quase
sem exceção", disse à Folha.
Segundo Goodman, 76, a atitude
dos jornais "sérios" é igual, ou às
vezes pior, à dos tablóides. "Eles
fingem ser mais éticos, mas mesmo assim publicam as mesmas reportagens, citando os tablóides, e
também usam as fotos obtidas pelos 'paparazzi'."
Para ele, a situação se agravou
nos últimos dois anos, com os chamados jornais de qualidade se tornando cada vez mais parecidos
com os tablóides.
A razão seria a necessidade de
vender mais em um mercado extremamente competitivo. No Reino Unido, os tablóides são os campeões absolutos de tiragem.
O "The Sun", o maior deles,
vende cerca de 4 milhões de exemplares. Por contraste, o "The
Daily Telegraph", maior jornal da
chamada grande imprensa, vende
cerca de 1 milhão de cópias diárias.
O único jornal que não é alvo de
críticas de Goodman, o "Financial Times", tem tiragem de 300
mil exemplares.
Mudança na lei
O editor se declara cético quanto
à chance de êxito prático de uma
legislação que tente conter os excessos da imprensa.
Para ele, a responsabilidade sobre a atitude dos jornais não é de
editores, repórteres ou fotógrafos,
que dependem do êxito das publicações para preservar seus empregos, mas dos "publishers" (os
proprietários dos jornais).
"Há uma guerra de circulação,
liderada especialmente por Rupert
Murdoch, do grupo News International", afirmou.
O empresário de origem australiana é dono de alguns dos principais jornais britânicos, incluindo
os jornais "The Times", "The
Sun" e "The News of the World".
Goodman, que trabalhou nos
principais jornais do país, acredita
que qualquer legislação de proteção à privacidade será inócua se
não for precedida por um acordo
entre os donos de jornais.
"Não é possível que qualquer lei
de proteção à privacidade funcione sem um acordo prévio sobre
preços e circulação", disse.
O jornalista prevê que, pelo menos por algum tempo, a imprensa
britânica se afaste do estilo de jornalismo contemplado pelos tablóides, por causa do choque causado pela morte de Diana.
Por causa da pressão da opinião
pública, o tema também deve dominar, a partir de agora, a agenda
política do país.
O assunto deve ser abordado em
regime de urgência na volta do recesso parlamentar na Câmara dos
Comuns, em outubro, e nas convenções dos grandes partidos, no
mês seguinte.
Quanto ao futuro, Goodman é
cético. "Daqui a seis meses a coisa
vai começar a ser esquecida, e poderemos ver nos jornais as mesmas histórias sobre sexo, fofoca,
escândalos, e assim por diante",
afirmou.
(PHB e FCz)
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