São Paulo, quarta-feira, 03 de outubro de 2007

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Duas Coréias se reúnem em Pyongyang

Ditador norte-coreano e presidente do Sul têm agenda que exclui formalizar o ponto final à guerra concluída em 1953

Acordo de paz depende dos EUA, que exigem conclusão do desmonte de instalação atômica da Coréia do Norte; Kim foi formal com visitante

France Presse
Norte-coreanos saúdam Roh em Pyongyang; cúpula histórica pode beneficiar interesses mútuos

DA REDAÇÃO

O presidente da Coréia do Sul, acompanhado de diplomatas e cerca de 200 empresários, percorreu ontem por terra os 200 quilômetros que separam Seul da capital norte-coreana, Pyongyang, para a segunda reunião de cúpula desde que, há 54 anos, os dois países terminaram uma guerra de três anos que os manteve divididos.
O ditador norte-coreano, Kim Jong-il, recebeu friamente o presidente Roh Moo-hyun, apertando-lhe a mão durante a cerimônia de boas-vindas de 12 minutos e lhe dizendo apenas: ""É um prazer encontrá-lo".

Flores cor-de-rosa
Em junho de 2000, quando pela primeira vez Kim se avistou com um governante sul-coreano, o então presidente Kim Dae-jung, foram longos os abraços diante de fotógrafos e um entoar improvisado conjunto de canções folclóricas.
Mesmo assim, agora o regime comunista enfeitou a cidade com flores de papel cor-de-rosa para a recepção ao visitante do sul e mobilizou dezenas de milhares de pessoas para gritarem um ensaiado "reunifiquemos a nossa pátria".
Kim não participou da reunião de trabalho com Roh. Delegou a missão a Kim Yong-nam, nominalmente o chefe de Estado, mas com poderes bem menores que o seu. Kim e Roh devem se reunir apenas hoje. A delegação sul-coreana voltará amanhã a Seul.
Os dois países estão separados desde 1953 por uma simples declaração de cessar-fogo. Tecnicamente, ainda estão em estado de guerra. Um tratado definitivo de paz precisaria da participação dos Estados Unidos e da China, também envolvidos naquele conflito.
Mas o presidente George W. Bush diz que apenas dará esse passo caso a Coréia do Norte, que há um ano testou uma bomba atômica, cumpra integralmente a promessa de se desnuclearizar. Pyongyang já desativou seu reator atômico, fonte para a obtenção de plutônio. Mas ainda não forneceu informações detalhadas sobre seus estoques de matéria físsil.
Roh tem apenas cinco meses de mandato como presidente pela frente e uma eleição presidencial em que a oposição é por enquanto a favorita. Ele procura obter do Norte uma simples "declaração de paz" que possa lhe render votos, dizem alguns especialistas. Para isso está disposto a não tocar em direitos humanos, tema em que a ditadura de Pyongyang é em muitos sentidos vulnerável.
Por sua vez, a Coréia do Norte está interessada em obter do vizinho capitalista US$ 20 bilhões para obras de infra-estrutura. O sucesso da zona comercial de Kaesong (capital sul-coreano e mão-de-obra norte-coreana) pode gerar experiências semelhantes em cidades como Nampo, Wonsan e Sinuiju.
Embora em fim de gestão, Roh também acredita que a assinatura de um acordo comercial seria o embrião de uma unificação política de longo prazo. Mais que a bomba norte-coreana, Seul teme um colapso abrupto do regime comunista, que a deixaria com o ônus de nutrir uma população hoje submetida a uma economia mal equipada e falida.

Lenda histórica
O encontro em Pyongyang coincide com as comemorações, hoje, dos 4.300 anos de uma data mais lendária que histórica, que é a da criação da nação coreana.
Em seu trajeto até a capital do Norte, Roh deteve-se a 45 km ao norte de Seul e atravessou a pé a zona desmilitarizada do paralelo 38, que o armistício de 1953 fixou como o limite entre os dois países e que se tornou, com o tempo, a última fronteira problemática que sobreviveu à Guerra Fria.


Com agências internacionais


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