São Paulo, domingo, 03 de novembro de 2002

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Pequim moderniza Exército para ser potência militar

Reuters - 30.out.2002
Oficiais da Força Aérea chinesa participam de nova modalidade de treinamento militar em Jinan, capital da Província de Shandong


CRAIG S. SMITH
DO "THE NEW YORK TIMES"

Uma nova geração de generais chineses está remodelando as inchadas e superadas Forças Armadas da China, transformando-as numa força de combate moderna e integrada que está emergindo como potência regional, dizem especialistas ocidentais.
Por enquanto, os esforços dos generais visam quase exclusivamente preparar uma ameaça digna de crédito a Taiwan, ilha sobre a qual Pequim está decidida a reconquistar a soberania. A longo prazo, a meta é criar uma força capaz de projetar o poderio da China para muito além de sua costa.
"Eles não têm a intenção de chegar até o Havaí, mas, com o tempo, de estabelecer uma capacidade de projeção num raio de entre 300 km e 500 km, conhecido como "negação aérea e marítima"", disse David Shambaugh, autor de "Modernizing China's Military", a ser lançado neste ano.
Antes de 11 de setembro, a China era vista por Washington como sua mais importante adversária militar potencial. Embora a ameaça terrorista tenha desviado a atenção dos EUA de Pequim, a campanha chinesa para conquistar status de potência regional não perdeu força. Shambaugh e muitos outros analistas ocidentais dizem que, no ritmo atual, a China irá conquistar superioridade aérea e naval no estreito de Taiwan até o final da década.
Shambaugh disse que a meta dos generais chineses é transformar o Exército de Libertação Popular numa força móvel e tecnologicamente competente, capaz de travar "guerras limitadas sob condições de alta tecnologia".
Para tanto, o país está enxugando seu contingente militar. O total de 1,3 milhão de soldados foi desmobilizado nos últimos 15 anos, e o Exército está mudando sua unidade organizacional básica dos Exércitos menores, de entre 40 mil e 70 mil homens, para brigadas compostas por 15 mil soldados. Está investindo mais dinheiro no treinamento desses soldados, com exercícios militares de alto custo, e dando destaque à coordenação entre sua infantaria e suas forças navais e aéreas.
A Marinha chinesa não possui os porta-aviões necessários para projetar poderio para muito longe, dizem os analistas, mas o Exército está dominando a técnica de reabastecimento de seus caças em pleno vôo. Pequim está construindo uma nova geração de submarinos, alguns movidos a energia nuclear, capazes de lançar mísseis intercontinentais com ogivas nucleares. A maior parte disso visa simplesmente fazer os EUA pensarem duas vezes antes de intervir na região.
O país também está próximo de viabilizar seus próprios mísseis de cruzeiro, em desenvolvimento desde a Guerra do Golfo.
Apesar de seus esforços de modernização, a China está longe de representar uma ameaça aos EUA, dizem analistas militares. Embora possua o maior Exército do mundo pronto para entrar em ação e o terceiro maior orçamento militar, perdendo apenas para os EUA e o Japão, ela ainda não deu início à espécie de escalada que seria necessária para transformar-se em superpotência.
Os valores reais gastos pela China com seu setor militar provavelmente são duas ou três vezes superiores a seu orçamento militar declarado de US$ 20 bilhões, passando à frente do orçamento russo e crescendo ao ritmo de 17% ao ano, dizem os analistas. Mesmo assim, são pequenos comparados aos gastos anuais dos EUA, US$ 400 bilhões, e a queda da União Soviética ensinou a Pequim que tentar equiparar-se aos EUA em termos militares é um jogo economicamente devastador.
Como o orçamento militar chinês é gasto com salários e manutenção geral, e não com novos armamentos, a liderança tecnológica dos EUA cresce a cada dia.
Embora ninguém sugira que a China esteja interessada em ampliar seu território, a percepção que se tem é que ela deseja ampliar sua área de influência sobre a Ásia oriental e o Sudeste Asiático.
O país é cada vez mais dependente de petróleo importado, por exemplo, e quer ser capaz de defender as vias marítimas estrategicamente importantes que, no momento, podem facilmente ser cortadas pelos EUA.
Falta ainda ao país uma indústria de armas que lhe permita produzir suas próprias armas "high-tech", obrigando-o a depender da compra de armas no exterior, principalmente da Rússia. A China aposta num instrumento bruto de poderio militar: mísseis balísticos de curto alcance que ela própria pode fabricar. Estima-se que o país já possua cerca de 350 mísseis carregando ogivas convencionais posicionados em sua costa sudeste, de frente para Taiwan.
Os mísseis são úteis principalmente como armas de intimidação política. Relativamente imprecisos e com poder destrutivo limitado, eles poderiam ser usados para desmoralizar a população de Taiwan, mas, sozinhos, não bastariam para garantir uma vitória militar.


Tradução de Clara Allain

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