São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

Próximo Texto | Índice

Afeganistão cancela 2º turno e ratifica Karzai

Um dia após opositor Abdullah retirar candidatura, comissão eleitoral declara vitória de presidente, que terá novo mandato de 5 anos

Decisão põe fim a mais de dois meses de indefinição política, desencadeada por fraudes registradas no primeiro turno, em agosto

DA REDAÇÃO

Autoridades afegãs anunciaram ontem o cancelamento do segundo turno da eleição presidencial do país, marcado para sábado, e proclamaram o atual ocupante do cargo, Hamid Karzai, reeleito.
A decisão foi tomada um dia após o ex-chanceler Abdullah Abdullah ter retirado sua candidatura, alegando que as fraudes registradas na primeira votação, em 20 de agosto, seriam repetidas, já que o governo se recusara a substituir o chefe da Comissão Eleitoral Independente (CEI), Azizullah Lodin, apontado como pró-Karzai.
"Sua Excelência, Hamid Karzai, que teve a maioria dos votos no primeiro turno e é o único candidato no segundo, é declarado pela CEI como o presidente eleito do Afeganistão", anunciou Lodin. Ele afirmou que a Constituição afegã só permite um segundo turno se houver dois candidatos.
O porta-voz de Abdullah, Fazel Sancharaki, disse, porém, que a decisão não reflete a lei afegã, mas negou-se a dizer se o ex-chanceler irá questioná-la. "Esperávamos que essa comissão anunciasse algo parecido porque essa comissão nunca foi independente e sempre apoiou o presidente Karzai", afirmou.
Já na comunidade internacional houve quem comemorasse o anúncio. Em visita surpresa a Cabul, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que "lições devem ser aprendidas" do que chamou de "difícil processo eleitoral". "O Afeganistão agora enfrenta desafios significativos, e o novo presidente deve rapidamente formar um governo que seja capaz de conseguir o apoio tanto da população afegã quanto da comunidade internacional."
Reino Unido, França e Alemanha parabenizaram Karzai e cobraram mais esforços contra a corrupção e a insurgência.
Além de colocar fim a mais de dois meses de indefinição política, o cancelamento do pleito representou um alívio para seus organizadores, que enfrentavam as ameaças do rigoroso inverno afegão -que deixa parte do país inacessível- e de uma onda de violência gerada pelo Taleban, que ameaçou atacar qualquer um que participasse da votação.
Karzai comanda o Afeganistão desde 2001, quando as forças militares lideradas pelos EUA invadiram o país e tiraram o Taleban do poder. Em 2004, ele foi oficialmente eleito presidente, e a vitória anunciada ontem dará a ele mais cinco anos no cargo. O presidente tem sido criticado por sua falta de esforços contra a corrupção. Sua legitimidade também foi questionada depois de um primeiro turno marcado por irregularidades que forçaram a realização de uma nova votação.
Existe ainda o temor de que um governo fraco comandado por Karzai possa representar um golpe contra o presidente dos EUA, Barack Obama, que analisa a possibilidade de enviar até 40 mil soldados para reforçar a luta contra a crescente insurgência do Taleban. A decisão ainda pode levar semanas para ser anunciada.
Do outro lado, analistas afirmam que Abdullah saiu fortalecido do episódio, como líder da antes fragmentada oposição afegã. Para ter um governo com mais credibilidade, Karzai pode ter de incluir alguns partidários do opositor em seu gabinete.
Abdullah se disse aberto a negociações, mas afirmou que não fechou acordos em troca de sua desistência. Ele deve fazer novo pronunciamento hoje.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Frase
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.