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Sob Obama, cresce fluxo de visitantes cubanos aos EUA
Presidente é pressionado a liberar viagens de americanos à ilha; até dois terços da população são favoráveis à medida
Democrata já acabou com restrições de viagens para cubano-americanos que desejem visitar as suas famílias no país caribenho
DE NOVA YORK
O presidente dos EUA, Barack Obama, acabou em abril
com os limites de remessas e
com as restrições de viagens de
cubano-americanos que desejem visitar suas famílias na ilha
socialista. Mesmo sem alterar
as regras para outros tipos de
viagens, o fluxo inverso, de visitantes cubanos aos EUA, está
em alta.
Dados do Departamento de
Estado citados pelo jornal
"Miami Herald" mostram que,
de outubro de 2008 a agosto de
2009, 16.217 cubanos visitaram
os EUA. No mesmo período entre os anos de 2007 e 2008, o
total de visitantes foi de 10.661.
Outra indicação de que os cubanos têm enfrentado menos
dificuldades para visitar os
EUA é o índice de rejeição de
vistos de turismo ou negócios,
com permanência de 90 dias ou
menos. No ano fiscal de 2009,
encerrado em setembro, foram
rejeitados 31,3% dos pedidos. O
patamar ainda é elevado, mas
bastante inferior ao de anos anteriores. Em 2006, por exemplo, no governo de George W.
Bush, a rejeição foi de 61,3%.
O intercâmbio cultural entre
os países também dá sinais de
crescimento. No mês passado, a
cantora Omara Portuondo esteve nos EUA para fazer shows.
A última vez que viera ao país
tinha sido em 2003.
Ela não foi a única a obter autorização. Outros exemplos incluem pintores e até atores que
vieram montar uma versão de
"Sonho de uma Noite de Verão", de William Shakespeare.
Ainda existem, porém, sinais
negativos. A Filarmônica de
Nova York desistiu de fazer
uma apresentação em Cuba
diante das exigências. E a blogueira cubana Yoani Sánchez
não obteve autorização de Havana para viajar a fim de receber um prêmio nos EUA -todo
cubano precisa de autorização
para deixar o país legalmente.
De outro lado, crescem as
pressões para a liberação de
viagens de americanos a Cuba.
Neste ano, os atores Bill Murray, Robert Duvall e Benicio del
Toro foram autorizados a visitar a ilha. A indústria do turismo tem feito lobby para a aprovação do Freedom to Travel to
Cuba Act, proposta de alteração da lei.
Já ocorreram outras tentativas, mas desta vez há mais
apoio. Segundo o Council on
Hemispheric Affairs, de 60% a
67% da população aprova a liberação de viagens de americanos para Cuba. O conselho estima que haja um mercado potencial de até 1 milhão de visitantes americanos por ano.
A Sociedade Americana de
Turismo divulgou carta aberta
em que afirma que a mudança
teria efeito benéfico para o setor, que sofreu os efeitos da recessão. Na Assembleia Geral da
ONU, o ministro de Relações
Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, defendeu a liberação
de viagens de americanos.
Se, de um lado, o fluxo de viagens está aumentando, de outro, o número de imigrantes
que tentam entrar no país de
forma irregular está em queda.
Entre outubro de 2007 e setembro de 2008, quase 2.200
cubanos foram interceptados
pela Guarda Costeira na Flórida, e quase 3.000 chegaram às
praias da região. Neste ano, o
total de cubanos interceptados
caiu mais de 50%.
Apesar dos avanços, há quem
afirme que mudanças mais
profundas dependem de Cuba
e não dos EUA. Para Rafael Romero, 58, taxista cubano que
mora em Miami desde 1980, os
problemas ainda superam as
vantagens de visitar a ilha.
"O governo americano diz
uma coisa, mas quem tem a última palavra é Cuba, que impõe
todo tipo de burocracia e pagamentos", afirmou. "Queria voltar a Cuba, mas com a situação
atual tenho de abaixar a cabeça."
(JANAINA LAGE)
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