São Paulo, terça-feira, 03 de novembro de 2009

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Sob Obama, cresce fluxo de visitantes cubanos aos EUA

Presidente é pressionado a liberar viagens de americanos à ilha; até dois terços da população são favoráveis à medida

Democrata já acabou com restrições de viagens para cubano-americanos que desejem visitar as suas famílias no país caribenho

DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, Barack Obama, acabou em abril com os limites de remessas e com as restrições de viagens de cubano-americanos que desejem visitar suas famílias na ilha socialista. Mesmo sem alterar as regras para outros tipos de viagens, o fluxo inverso, de visitantes cubanos aos EUA, está em alta.
Dados do Departamento de Estado citados pelo jornal "Miami Herald" mostram que, de outubro de 2008 a agosto de 2009, 16.217 cubanos visitaram os EUA. No mesmo período entre os anos de 2007 e 2008, o total de visitantes foi de 10.661.
Outra indicação de que os cubanos têm enfrentado menos dificuldades para visitar os EUA é o índice de rejeição de vistos de turismo ou negócios, com permanência de 90 dias ou menos. No ano fiscal de 2009, encerrado em setembro, foram rejeitados 31,3% dos pedidos. O patamar ainda é elevado, mas bastante inferior ao de anos anteriores. Em 2006, por exemplo, no governo de George W. Bush, a rejeição foi de 61,3%.
O intercâmbio cultural entre os países também dá sinais de crescimento. No mês passado, a cantora Omara Portuondo esteve nos EUA para fazer shows. A última vez que viera ao país tinha sido em 2003.
Ela não foi a única a obter autorização. Outros exemplos incluem pintores e até atores que vieram montar uma versão de "Sonho de uma Noite de Verão", de William Shakespeare. Ainda existem, porém, sinais negativos. A Filarmônica de Nova York desistiu de fazer uma apresentação em Cuba diante das exigências. E a blogueira cubana Yoani Sánchez não obteve autorização de Havana para viajar a fim de receber um prêmio nos EUA -todo cubano precisa de autorização para deixar o país legalmente.
De outro lado, crescem as pressões para a liberação de viagens de americanos a Cuba. Neste ano, os atores Bill Murray, Robert Duvall e Benicio del Toro foram autorizados a visitar a ilha. A indústria do turismo tem feito lobby para a aprovação do Freedom to Travel to Cuba Act, proposta de alteração da lei.
Já ocorreram outras tentativas, mas desta vez há mais apoio. Segundo o Council on Hemispheric Affairs, de 60% a 67% da população aprova a liberação de viagens de americanos para Cuba. O conselho estima que haja um mercado potencial de até 1 milhão de visitantes americanos por ano.
A Sociedade Americana de Turismo divulgou carta aberta em que afirma que a mudança teria efeito benéfico para o setor, que sofreu os efeitos da recessão. Na Assembleia Geral da ONU, o ministro de Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez, defendeu a liberação de viagens de americanos.
Se, de um lado, o fluxo de viagens está aumentando, de outro, o número de imigrantes que tentam entrar no país de forma irregular está em queda. Entre outubro de 2007 e setembro de 2008, quase 2.200 cubanos foram interceptados pela Guarda Costeira na Flórida, e quase 3.000 chegaram às praias da região. Neste ano, o total de cubanos interceptados caiu mais de 50%.
Apesar dos avanços, há quem afirme que mudanças mais profundas dependem de Cuba e não dos EUA. Para Rafael Romero, 58, taxista cubano que mora em Miami desde 1980, os problemas ainda superam as vantagens de visitar a ilha.
"O governo americano diz uma coisa, mas quem tem a última palavra é Cuba, que impõe todo tipo de burocracia e pagamentos", afirmou. "Queria voltar a Cuba, mas com a situação atual tenho de abaixar a cabeça." (JANAINA LAGE)


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