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TRÍPLICE FRONTEIRA
Pessoas de origem árabe enviaram dinheiro por meio de instituições financeiras do Paraguai
Extremistas receberam US$ 50 mi de Foz do Iguaçu
ROBERTO COSSO
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
Grupos extremistas árabes, considerados terroristas pelo governo americano, receberam ao menos US$ 50 milhões, nos últimos
três anos, de pessoas de origem
árabe residentes na região de Foz
do Iguaçu (PR), por meio de instituições financeiras do Paraguai.
Investigações realizadas em
conjunto pelos governos paraguaio e norte-americano analisam todas as remessas ao exterior
feitas por bancos e casas de câmbio de Ciudad del Este nos últimos 36 meses e já obtiveram provas de que o grupo libanês Hizbollah e o palestino Hamas foram
abastecidos com recursos de gente que mora no Brasil.
O Paraguai foi incluído em uma
lista de países que colaboram com
o financiamento do terrorismo
no Oriente Médio, divulgada em
28 de outubro, em Washington
(EUA), na última reunião do Gafi
(Grupo de Ação Financeira Internacional, principal organismo de
combate à lavagem de dinheiro).
A partir disso, o país se empenhou nas investigações.
"Estamos muito contentes com
o apoio das autoridades paraguaias. Temos indicações fortes
não só da presença de pessoas
vinculadas ao terrorismo mas
também de um fluxo muito expressivo de dinheiro desde a tríplice fronteira até grupos fundamentalistas terroristas no Oriente
Médio", afirmou Mark Davidson,
porta-voz da Embaixada dos Estados Unidos no Paraguai.
"Temos comprovado o envio de
dinheiro [a grupos terroristas".
Estou praticamente certo de que
existem cidadãos ligados ao Hizbollah [na área da tríplice fronteira"", disse o ministro paraguaio
Julio Cesar Fanego (Interior).
Paraguai e EUA confirmam a
comprovação de envio de US$ 50
milhões até o momento, mas dizem que pode ser mais. "Provavelmente o valor exato vai ficar
entre US$ 50 milhões e US$ 500
milhões", declara Davidson. "O
dinheiro saiu para pagar importações, mas as mercadorias não entraram no país", diz Fanego.
O ministro afirma que a maioria
das remessas são de valor baixo,
entre US$ 500 e US$ 2.000. Para
ele, isso gera desconfianças sobre
a finalidade das operações.
Considerado uma organização
terrorista pelos EUA, o Hizbollah
é um partido político reconhecido
no Líbano, realiza atividades humanitárias e recebe doações de
árabes do mundo inteiro. Os ataques que realizou contra soldados
e cidades israelenses foram fundamentais para forçar as tropas
israelenses a abandonar o Líbano.
"Os muçulmanos têm obrigação religiosa de fazer doações a
entidades assistenciais, e o Hizbollah trabalha com crianças carentes, o que pode justificar as remessas de dinheiro", afirma a brasileira Adrienne Senna, presidente do
Coaf (Conselho de Controle de
Atividades Financeiras), que está
em contato com as autoridades
paraguaias.
"Um islâmico deve entregar
20% do que ganha para ajudar as
crianças pobres, os desempregados", diz o libanês Ali Hussein, 30,
que mora em Foz do Iguaçu. "Se
eu posso ajudar o Hizbollah, eu
ajudo, porque o Hizbollah levou a
paz ao Líbano."
Apesar disso, a embaixada norte-americana condena quaisquer
doações aos grupos: "Hizbollah e
Hamas são grupos terroristas que
mataram norte-americanos e civis inocentes de outros países",
diz seu porta-voz.
Na edição de 18 de novembro, a
Folha revelou que brasileiros de
origem árabe, residentes na região de Foz, mandaram dinheiro
para grupos terroristas no Oriente Médio via bancos paraguaios.
A hipótese de o dinheiro enviado servir ao terrorismo é reforçada por lista da Secretaria de Prevenção de Lavagem de Dinheiro
do Paraguai, que relaciona 45 pessoas responsáveis por remessas
superiores a US$ 100 mil. Seus nomes são mantidos em sigilo.
"Estamos concentrando nossas
investigações nos 45 nomes que
constam da lista elaborada pela
Secretaria de Prevenção de Lavagem de Dinheiro e em outras quatro pessoas que estão em listas de
suspeitos elaboradas pela polícia
norte-americana", diz Angel Gabriel Ganzález Cáceres, superintendente de bancos do Banco
Central do Paraguai.
As quatro pessoas a que se refere o superintendente Cáceres são
o comerciante libanês Assad Ahmad Barakat, que mora em Foz
do Iguaçu e tem uma loja em Ciudad del Este, e três supostos funcionários dele: Sobhi Mahmoud
Fayad, Mazen Ali Saleh e Saleh
Mahamoud Fayed, que estão presos no Paraguai.
Hizbollah agradece
Carta enviada do Líbano a Sobhi
comprova que, só em 2000, ele remeteu mais de US$ 3,5 milhões à
Organização Benéfica Social "O
Mártir", ligada ao Hizbollah. O
documento, escrito em árabe, foi
apreendido na loja de Barakat.
Traduzida, a carta traz o título
"A todos os que cumpriram com
o chamado do enviado de Deus" e
o seguinte texto: "Colocamos em
suas mãos os resultados diretos
de sua colaboração para a manutenção dos órfãos dos mártires,
durante o ano de 2000. O total pago durante o ano 2000 alcançou a
soma de US$ 3.535.149".
A Organização Benéfica Social
"O Mártir" é responsável por cuidar das crianças cujos pais, considerados mártires, morreram a
serviço do Hizbollah.
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