São Paulo, segunda-feira, 03 de dezembro de 2007

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Partido de Putin leva mais de 60% do voto legislativo

Oposição denuncia fraude e comunistas, em 2º lugar, dizem que vão recorrer

De olho no cargo de premiê, Putin ganha respaldo para permanecer no poder; votação indica que só 4 partidos terão deputados

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Conforme o esperado e sob acusações difusas de fraudes, o presidente Vladimir Putin obteve uma vitória arrasadora nas eleições parlamentares de ontem na Rússia. A expectativa, baseada em projeções sobre resultados iniciais e numa pesquisa de boca-de-urna, é que o partido que escolheu para liderar no pleito terá mais de 60% das 450 cadeiras da Duma, a Câmara baixa do Parlamento.
O Rússia Unida, que já tem maioria na Casa, continuará aprovando qualquer coisa na segunda potência nuclear do mundo. O popular Putin, movido pela bonança que o alto preço do petróleo proporciona à Rússia, poderá usar o alto comparecimento (acima de 60%) no pleito para dizer ao mundo que seu poder é legítimo -como ele se manterá nele depois de deixar o cargo em março de 2008 é a única dúvida.
O Partido Comunista, que deverá ser o segundo maior na Duma, com cerca de 10% dos deputados, anunciou que pedirá a anulação da votação sob a alegação de que seus observadores registraram 10 mil fraudes. As chances de a iniciativa prosperar são quase nulas.
A eleição envolveu números grandiosos. Foram 95 mil zonas eleitorais nas 87 regiões em 11 fusos, com 450 mil policiais tomando conta do processo, 20 mil bem visíveis em Moscou. Significativamente, pela primeira vez o FSB, o serviço secreto sucessor da KGB, onde Putin fez sua carreira, teve autoridade sobre a polícia.
Os resultados finais são esperados para a manhã de segunda-feira, mas o próprio anúncio do fim do pleito, às 21h de Moscou (16h em Brasília), já trazia o gosto do inexorável.
Os primeiros números que o presidente da Comissão Central Eleitoral, Vladimir Churov, mostrou eram praticamente os da última pesquisa divulgada. Por um instituto estatal de pesquisa, que deu 61% para o Rússia Unida na boca-de-urna.
Cerca de 330 monitores internacionais participaram do pleito. Somente a OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) queria enviar 400 observadores, mas alegou não ter recebido os vistos. A Rússia negou o problema, e Putin acusou os EUA de estarem por trás da queixa para desacreditar a eleição.
Para a ONG política Golos, a forte presença policial coagiu eleitores nas regiões mais distantes da Rússia. À Folha empregados de estatais e de empresas privadas falaram que seus chefes foram procurados por oficiais eleitorais para sugerir alto comparecimento de seus funcionários.
Para um dos poucos representantes da OSCE presente, Klas Bergman, não houve, contudo, fraudes flagrantes. "Não vi violação do pleito." A União de Forças de Direita, partido anti-Putin que deve ficar abaixo da cláusula de barreira de 7%, disse não ter visto fraude.

Os outros
Conforme os resultados iniciais, os outros dois partidos que deverão entrar na Duma são o Liberal Democrático, do ultranacionalista Vladimir Jirinovski (8,8% na boca-de-urna), e o Rússia Justa (8,4%), que defende bandeiras de esquerda mirando os pensionistas e o funcionalismo público.
Ambos apóiam Putin abertamente, e o Comunista (11,5% na boca-de-urna) não faz uma oposição ferrenha, apesar da retórica de seu líder, Gennadi Ziuganov. "Essas foram as eleições mais sujas e desonestas que a Rússia já viu."
Entre os sete partidos que ficarão sem vaga estão os liberais Yabloko e União de Forças de Direita. Outros oposicionistas pregaram o voto nulo. O enxadrista Garry Kasparov, membro da frente suprapartidária Outra Rússia e potencial candidato a presidente em 2008, anulou seu voto.
Kasparov não é levado muito a sério pelos russos, mas é popular na mídia ocidental e capitalizou sua prisão por participar de atos anti-Putin. "Não estão apenas forçando o voto [nos governistas], estão estuprando todo o sistema eleitoral."
O presidente falou só platitudes após votar. O chefe do Rússia Unida, Boris Grizlov, negou-se a especular se ele será premiê em 2008 ou um "líder nacional", como querem seus apoiadores. "A eleição é um referendo, e Putin saiu vitorioso."
O "Plano Putin" propagandeado pelo partido foi aprovado. Falta saber do que se trata.


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