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Partido de Putin leva mais de 60% do voto legislativo
Oposição denuncia fraude e comunistas, em 2º lugar, dizem que vão recorrer
De olho no cargo de premiê, Putin ganha respaldo para permanecer no poder; votação indica que só 4 partidos terão deputados
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Conforme o esperado e sob
acusações difusas de fraudes, o
presidente Vladimir Putin obteve uma vitória arrasadora nas
eleições parlamentares de ontem na Rússia. A expectativa,
baseada em projeções sobre resultados iniciais e numa pesquisa de boca-de-urna, é que o
partido que escolheu para liderar no pleito terá mais de 60%
das 450 cadeiras da Duma, a
Câmara baixa do Parlamento.
O Rússia Unida, que já tem
maioria na Casa, continuará
aprovando qualquer coisa na
segunda potência nuclear do
mundo. O popular Putin, movido pela bonança que o alto preço do petróleo proporciona à
Rússia, poderá usar o alto comparecimento (acima de 60%)
no pleito para dizer ao mundo
que seu poder é legítimo -como ele se manterá nele depois
de deixar o cargo em março de
2008 é a única dúvida.
O Partido Comunista, que
deverá ser o segundo maior na
Duma, com cerca de 10% dos
deputados, anunciou que pedirá a anulação da votação sob a
alegação de que seus observadores registraram 10 mil fraudes. As chances de a iniciativa
prosperar são quase nulas.
A eleição envolveu números
grandiosos. Foram 95 mil zonas eleitorais nas 87 regiões em
11 fusos, com 450 mil policiais
tomando conta do processo, 20
mil bem visíveis em Moscou.
Significativamente, pela primeira vez o FSB, o serviço secreto sucessor da KGB, onde
Putin fez sua carreira, teve autoridade sobre a polícia.
Os resultados finais são esperados para a manhã de segunda-feira, mas o próprio anúncio
do fim do pleito, às 21h de Moscou (16h em Brasília), já trazia o
gosto do inexorável.
Os primeiros números que o
presidente da Comissão Central Eleitoral, Vladimir Churov,
mostrou eram praticamente os
da última pesquisa divulgada.
Por um instituto estatal de pesquisa, que deu 61% para o Rússia Unida na boca-de-urna.
Cerca de 330 monitores internacionais participaram do
pleito. Somente a OSCE (Organização para Segurança e Cooperação na Europa) queria enviar 400 observadores, mas alegou não ter recebido os vistos.
A Rússia negou o problema, e
Putin acusou os EUA de estarem por trás da queixa para desacreditar a eleição.
Para a ONG política Golos, a
forte presença policial coagiu
eleitores nas regiões mais distantes da Rússia. À Folha empregados de estatais e de empresas privadas falaram que
seus chefes foram procurados
por oficiais eleitorais para sugerir alto comparecimento de
seus funcionários.
Para um dos poucos representantes da OSCE presente,
Klas Bergman, não houve, contudo, fraudes flagrantes. "Não
vi violação do pleito." A União
de Forças de Direita, partido
anti-Putin que deve ficar abaixo da cláusula de barreira de
7%, disse não ter visto fraude.
Os outros
Conforme os resultados iniciais, os outros dois partidos
que deverão entrar na Duma
são o Liberal Democrático, do
ultranacionalista Vladimir Jirinovski (8,8% na boca-de-urna),
e o Rússia Justa (8,4%), que defende bandeiras de esquerda
mirando os pensionistas e o
funcionalismo público.
Ambos apóiam Putin abertamente, e o Comunista (11,5% na
boca-de-urna) não faz uma
oposição ferrenha, apesar da
retórica de seu líder, Gennadi
Ziuganov. "Essas foram as eleições mais sujas e desonestas
que a Rússia já viu."
Entre os sete partidos que ficarão sem vaga estão os liberais
Yabloko e União de Forças de
Direita. Outros oposicionistas
pregaram o voto nulo. O enxadrista Garry Kasparov, membro da frente suprapartidária
Outra Rússia e potencial candidato a presidente em 2008,
anulou seu voto.
Kasparov não é levado muito
a sério pelos russos, mas é popular na mídia ocidental e capitalizou sua prisão por participar de atos anti-Putin. "Não estão apenas forçando o voto [nos
governistas], estão estuprando
todo o sistema eleitoral."
O presidente falou só platitudes após votar. O chefe do Rússia Unida, Boris Grizlov, negou-se a especular se ele será premiê em 2008 ou um "líder nacional", como querem seus
apoiadores. "A eleição é um referendo, e Putin saiu vitorioso."
O "Plano Putin" propagandeado pelo partido foi aprovado. Falta saber do que se trata.
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