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Favela de palafitas pode ter sido ponto de desembarque
DO ENVIADO A MUMBAI
Uma pequena favela de palafitas, vizinha a rochedos em
pleno mar Arábico, pode ter sido um dos locais de desembarque dos terroristas responsáveis pelo mais ousado atentado
da Índia.
A polícia indiana acredita
que os dez terroristas chegaram divididos a bordo de barcos infláveis. A quantidade de
favelas ao redor da costa é tão
grande que elas se tornaram
passagem privilegiada para os
terroristas -acredita-se que
eles treinaram o desembarque
algumas vezes nos últimos dois
anos.
Moradores ainda assustados,
pedindo anonimato, disseram à
Folha que a polícia raramente
passa por ali. Ao contrário das
favelas brasileiras, não é o medo ou ameaças que afastam a
presença dos policiais.
"Aqui é bem calmo, e somos
invisíveis", resumiu um jovem
pescador na área conhecida como "o píer da Colônia de Pescadores", cheia de barracos com
chapas de madeira pintadas de
azul.
A favela é vizinha a um complexo militar que supostamente é fechado para estrangeiros.
Mas a reportagem da Folha
circulou por ali sem ser barrada e até visitou uma igreja
construída em 1830 por militares britânicos.
A menos de um quilômetro
de distância, fica outro dos locais em que os terroristas teriam desembarcado -e um dos
pontos turísticos mais famosos
de Mumbai, o Portal da Índia,
arco construído para celebrar a
visita do rei britânico George
5º em 1911, com 26 metros de
altura.
Quase em frente, atravessando um largo calçadão, fica o Taj
Mahal, o hotel mais conhecido
da cidade, sitiado pelos terroristas por 60 horas.
Os dez terroristas armados
com fuzis AK-47, granadas, celulares por satélite e mochilas
chegaram por volta das 21h da
quarta-feira da semana passada e se dividiram em duplas.
Cada dupla abordou um táxi
e foi diretamente para alguns
dos pontos mais freqüentados
pela elite local e por turistas,
além de um centro judaico, a
poucos metros dali.
Dois táxis explodiram pouco
depois.
Segurança relaxada
A região ainda estava irreconhecível ontem. Um grande
cordão de segurança evita a
presença de curiosos ao redor
do Portal e do Taj Mahal. Táxis
e carros são impedidos de circular em um perímetro de quatro quarteirões.
Lojas, alguns bares e cinemas
do bairro de Colaba instalaram
detectores de metais na entrada e fazem revista de cada
cliente.
À noite, porém, a reportagem
pôde entrar no perímetro isolado sem precisar apresentar o
cartão de imprensa. Os policiais fizeram sinal de "siga em
frente".
Vários indianos fizeram o
mesmo e driblaram a segurança local para prestar homenagens aos mortos -havia dezenas de velas perto do Portal da
Índia.
Nas galerias comerciais ao
redor do Taj, uma das áreas
mais elegantes de Mumbai, dezenas de sem-teto dormiam
apenas de shorts sob as arcadas, sem se incomodar com a
forte presença policial.
No fim de tarde, centenas de
pessoas voltaram a se reunir na
Marine Drive, a avenida costeira de Mumbai, criando um tapete branco no calçadão a partir de várias cartolinas. Os manifestantes deixavam mensagens de homenagem aos mortos e aos policiais e com críticas
aos políticos.
"Esses protestos normalmente não dão em nada, mas é
a primeira vez que a elite local
foi atingida. Quem sabe agora
algo muda?", pergunta-se o arquiteto Saket Sethi.
Sem detector de metais, o café Leopold, um dos lugares atacados pelos terroristas, foi reaberto na noite de segunda-feira. Ontem ele estava cheio e havia fila para se conseguir uma
mesa.
(RJL)
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