São Paulo, sexta-feira, 04 de janeiro de 2002

Próximo Texto | Índice

COLAPSO DA ARGENTINA

Moeda deixa de valer US$ 1; haverá um câmbio fixo, de exportação; em outros casos, peso flutua

Peso argentino deve ter dois valores

DA REDAÇÃO

A Argentina abandona oficialmente hoje o modelo econômico baseado na conversibilidade do peso em dólar. Após dez anos, acaba a lei que estipulava o valor de um peso em um dólar e que estabelecia o livre intercâmbio dessas moedas. O país vai desvalorizar sua moeda de 30% a 40% e terá dois sistemas de câmbio.
Num deles, o valor do dólar seria fixado provisoriamente em talvez 1,40 peso (ou seria fixada uma banda de flutuação, entre 1,35 e 1,45 peso, por exemplo). Exportadores, além de importadores de artigos de primeira necessidade (como remédios), trocariam seus pesos pela taxa fixa. O restante da economia operaria num sistema de flutuação livre do peso, mais ou menos como no Brasil, mas sem intervenção do banco central. A médio prazo, quando (e se) o país contar com apoio financeiro internacional, todo o câmbio seria flutuante.
Ontem, no Palácio Alvorada, o governador da Província de Córdoba, o peronista José Manuel de la Sota, explicou ao presidente Fernando Henrique Cardoso como serão as medidas que serão anunciadas hoje pelo ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov. "Estamos abandonando o regime de conversibilidade e a faculdade de determinar a política cambial volta para o Executivo", anunciou.
A paridade do dólar com o peso, implantada no governo do peronista Carlos Menem (1989-1999) por Domingo Cavallo, serviu para controlar a hiperinflação. No entanto tal sistema encarecia as exportações, criando dificuldades para o financiamento externo da economia. Em caso de instabilidade ou desaceleração na economia mundial, o sistema de paridade provoca redução de salários e grave recessão.
O problema da desvalorização é o controle de seus efeitos sociais e econômicos perversos. A desvalorização pode levar à inflação. De resto, num país em que cerca de 80% de empresas e famílias estão endividadas em dólares, a queda do peso pode causar enorme onda de inadimplência, falência de empresas e a uma crise bancária.
Para tentar contornar o problema, o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, anunciaria algum sistema de conversão de dívidas em dólares em pesos -ou "pesificando" todo o valor dos débitos ou estendendo seu prazo de pagamento, com um desconto do valor do débito. Seriam "pesificados" aluguéis, tarifas públicas e outros contratos privados.
O governo Eduardo Duhalde imagina contar com ajuda financeira internacional para financiar as perdas de empresas e talvez até de bancos. As empresas endividadas em dólares no exterior, no entanto, não devem ter apoio.
Sem uma vasta "pesificação", porém, há o risco de que Duhalde enfrente novos panelaços de argentinos quebrados. Quanto ao "curralzinho", como os argentinos chamam o odiado limite de saques bancários, a idéia é aumentar o prazo atual das aplicações financeiras de modo que os depositantes e investidores não corram para os bancos a fim de retirar seus fundos, colocando em risco as instituições financeiras. Duhalde e De la Sota dizem que os argentinos receberão o que depositaram, e na moeda em que depositaram. Falta definir quando.
As despesas do governo seriam financiadas com a emissão do equivalente em US$ 3 bilhões de Lecop uma moeda paralela criada no governo De la Rúa, na verdade um certificado de dívida pública.


Colaboraram CLAUDIA DIANNI E FABRICIO VIEIRA


Próximo Texto: País dá calote em juros da dívida externa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.