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COLAPSO DA ARGENTINA
Moeda deixa de valer US$ 1; haverá um câmbio fixo, de exportação; em outros casos, peso flutua
Peso argentino deve ter dois valores
DA REDAÇÃO
A Argentina abandona oficialmente hoje o modelo econômico
baseado na conversibilidade do
peso em dólar. Após dez anos,
acaba a lei que estipulava o valor
de um peso em um dólar e que estabelecia o livre intercâmbio dessas moedas. O país vai desvalorizar sua moeda de 30% a 40% e terá dois sistemas de câmbio.
Num deles, o valor do dólar seria fixado provisoriamente em
talvez 1,40 peso (ou seria fixada
uma banda de flutuação, entre
1,35 e 1,45 peso, por exemplo). Exportadores, além de importadores de artigos de primeira necessidade (como remédios), trocariam
seus pesos pela taxa fixa. O restante da economia operaria num sistema de flutuação livre do peso,
mais ou menos como no Brasil,
mas sem intervenção do banco
central. A médio prazo, quando (e
se) o país contar com apoio financeiro internacional, todo o câmbio seria flutuante.
Ontem, no Palácio Alvorada, o
governador da Província de Córdoba, o peronista José Manuel de
la Sota, explicou ao presidente
Fernando Henrique Cardoso como serão as medidas que serão
anunciadas hoje pelo ministro da
Economia, Jorge Remes Lenicov.
"Estamos abandonando o regime
de conversibilidade e a faculdade
de determinar a política cambial
volta para o Executivo", anunciou.
A paridade do dólar com o peso,
implantada no governo do peronista Carlos Menem (1989-1999)
por Domingo Cavallo, serviu para
controlar a hiperinflação. No entanto tal sistema encarecia as exportações, criando dificuldades
para o financiamento externo da
economia. Em caso de instabilidade ou desaceleração na economia mundial, o sistema de paridade provoca redução de salários e
grave recessão.
O problema da desvalorização é
o controle de seus efeitos sociais e
econômicos perversos. A desvalorização pode levar à inflação. De
resto, num país em que cerca de
80% de empresas e famílias estão
endividadas em dólares, a queda
do peso pode causar enorme onda de inadimplência, falência de
empresas e a uma crise bancária.
Para tentar contornar o problema, o ministro da Economia, Jorge Remes Lenicov, anunciaria algum sistema de conversão de dívidas em dólares em pesos -ou
"pesificando" todo o valor dos débitos ou estendendo seu prazo de
pagamento, com um desconto do
valor do débito. Seriam "pesificados" aluguéis, tarifas públicas e
outros contratos privados.
O governo Eduardo Duhalde
imagina contar com ajuda financeira internacional para financiar
as perdas de empresas e talvez até
de bancos. As empresas endividadas em dólares no exterior, no entanto, não devem ter apoio.
Sem uma vasta "pesificação",
porém, há o risco de que Duhalde
enfrente novos panelaços de argentinos quebrados. Quanto ao
"curralzinho", como os argentinos chamam o odiado limite de
saques bancários, a idéia é aumentar o prazo atual das aplicações financeiras de modo que os
depositantes e investidores não
corram para os bancos a fim de
retirar seus fundos, colocando em
risco as instituições financeiras.
Duhalde e De la Sota dizem que os
argentinos receberão o que depositaram, e na moeda em que depositaram. Falta definir quando.
As despesas do governo seriam
financiadas com a emissão do
equivalente em US$ 3 bilhões de
Lecop uma moeda paralela criada
no governo De la Rúa, na verdade
um certificado de dívida pública.
Colaboraram CLAUDIA DIANNI E FABRICIO VIEIRA
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