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ANÁLISE
Presidente pode sobreviver à crise e sair fortalecido
GINGER THOMPSON
DO "THE NEW YORK TIMES", EM CARACAS
Durante sua visita ao Brasil, anteontem, um radiante presidente
Hugo Chávez assegurou ao mundo que sobreviverá à greve geral
de mais de um mês de duração
que tenta forçá-lo a deixar o poder. Mas, em casa, os venezuelanos se perguntam se seu país, como eles o conhecem, poderá sobreviver.
O discurso do presidente pode
ser só bravata, mas os analistas
políticos venezuelanos e do exterior concordam que ele parece
mais uma vez ter conseguido sair
das cordas para golpear a oposição, cuja greve geral conseguiu
paralisar o coração da economia
venezuelana: a companhia estatal
petrolífera, PDVSA (Petróleos de
Venezuela S.A.).
Chávez pode não apenas sobreviver a esse último desafio à sua
Presidência, como analistas e alguns de seus opositores começam
a admitir, mas ele também pode
emergir com uma nova força,
mesmo se seu país ficar mais polarizado e economicamente demais deteriorado que antes.
"A oposição subestimou a determinação do presidente Chávez
de ficar no poder a todo custo",
diz Luis Pacheco, executivo da estatal petrolífera em greve. "Qualquer outro líder ocidental veria
esta situação como uma agonia
econômica e social e deixaria o
cargo. Mas Chávez pretende governar sobre ruínas", afirma.
Em abril, após um breve golpe
frustrado contra ele, Hugo Chávez disse que, como um gesto de
reconciliação, não demitiria os
executivos da PDVSA acusados
de tomar parte no golpe. Desta
vez, ele prometeu não ser tão indulgente.
Há duas semanas, o presidente,
que há muito tempo queria fortalecer seu controle sobre a companhia petrolífera, anunciou a suspensão de cerca de cem executivos e gerentes acusados de apoiar
a greve.
A ação atingiu seu objetivo, e, a
cada dia que ele consegue manter
a companhia petrolífera -e seu
país- avançando, ainda que com
dificuldade, é mais um dia que ele
perturba e enfraquece a estratégia
de seus opositores.
De maneira semelhante, em
abril o presidente expurgou altos
oficiais militares. Hoje as Forças
Armadas estão firmes sob seu comando e têm se mantido leais a
ele durante a atual crise.
O tempo, dizem os analistas, joga a favor de Chávez. A oposição,
que pedia novas eleições, agora
voltou suas energias para organizar um referendo não-obrigatório
sobre o mandato de Chávez no
dia 2 de fevereiro. A Suprema
Corte ainda deve se pronunciar
sobre a legalidade dessa votação.
Em todo caso, qualquer que seja o
resultado, o presidente diz que
pretende ficar no poder.
Mas o preço para a economia
venezuelana, os analistas concordam, é quase insustentável.
Chávez pode ter sucesso em assegurar seu controle sobre a
PDVSA, mas, por ora, ela não está
produzindo muito. No mês passado, as exportações da empresa
desabaram de mais de 2,5 milhões
de barris ao dia para menos de 2
milhões em todo o mês.
O economista Ramón Espinasa,
ex-executivo da PDVSA e consultor do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), diz que,
sem a retomada da produção, o
PIB (Produto Interno Bruto) venezuelano provavelmente cairia
até 10% neste ano.
O governo já começou a gastar
suas reservas e provavelmente será forçado a emitir mais moeda
neste ano, o que poderia catapultar a inflação de seu já preocupante nível de 30%. Outros analistas
prevêem uma onda de quebras,
desemprego e migrações que poderiam mexer com a economia
por vários meses.
Além dos problemas econômicos, semanas de uma carregada
disputa retórica entre Chávez e
seus opositores deixaram os nervos da nação expostos. As divisões sociais que há tempos marcam a vida no país se transformaram em campos minados.
De um lado, Chávez, um ex-pára-quedista que se considera o
campeão dos pobres, se recusa a
fazer concessões nas negociações
com seus opositores, chamando
seus líderes de "terroristas" e
"golpistas". Enquanto isso, o chamado à violência, antes escondido, agora é feito abertamente na
mídia controlada pela oposição e
nas marchas opositoras.
Mesmo com as perspectivas
sombrias para a Venezuela em
2003, Chávez se vangloria de sua
força. Ele se gaba de que os países
vizinhos correram em sua ajuda,
enviando carregamentos de alimentos e gasolina que ajudaram o
governo a atender às necessidades
mais prementes do país. Ele disse
que buscaria especialistas em petróleo estrangeiros para recolocar
em funcionamento os poços e as
refinarias. Ele prometeu normalizar a indústria petrolífera dentro
de um mês.
A maioria das pessoas acredita
que o otimismo de Chávez seja
exagerado. A PDVSA tem algumas das mais sofisticadas instalações de refino do mundo, segundo os executivos em greve. Elas
precisariam se manter em atividade para continuar funcionando
adequadamente; quanto mais
tempo elas ficarem paradas, mais
tempo levará a normalização.
Larry Birns, diretor do Conselho sobre Assuntos do Hemisfério, com sede em Washington, diz
que a estratégia da oposição pode
explodir antes do tempo.
"A oposição contava com que as
pessoas ficassem cansadas do
presidente Chávez", diz. "Mas a
oposição provocou esta crise, e
Chávez tem todo o direito de tentar consertar a situação."
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