São Paulo, segunda-feira, 04 de fevereiro de 2002

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ESCÂNDALO

Relatório revela que executivos da companhia usaram fraude para faturar milhões de dólares à custa dos acionistas

Enron inflou lucros de 2001 em US$ 1 bi

DA REDAÇÃO

Executivos da empresa de energia norte-americana Enron ganharam milhões de dólares que "jamais deveriam ter recebido", de acordo com um relatório preparado a pedido do conselho da empresa. Apenas no ano passado, os diretores teriam inflado os lucros da companhia energética norte-americana em US$ 1 bilhão.
O relatório, de 217 páginas, foi divulgado no sábado à noite, em Nova York. O conselho de acionistas da corporação nomeou um comitê com o objetivo de esclarecer por que a Enron, até pouco tempo uma das maiores e mais admiradas companhias dos EUA, quebrou tão rapidamente.
As práticas irregulares ocorriam em vários níveis. Os diretores foram acusados de enriquecer à custa dos acionistas, ao elaborar um intricado esquema que envolvia várias parcerias e lhes garantia milhões em comissões. São criticados ainda o departamento jurídico e a Arthur Andersen, auditora da contabilidade da Enron.
Acusados de fraudar balanços, diretores da Enron respondem a vários inquéritos no Congresso, na Justiça civil e criminal e nos órgãos de fiscalização do mercado de ações e do setor energético. Acionistas e funcionários também brigam nos tribunais para recuperar o que perderam.

Dinheiro fácil
O relatório vem à luz no momento em que se alastra a repercussão do escândalo, e deverá injetar combustível nas investigações.
Kenneth Lay, ex-presidente da corporação, é esperado hoje no Congresso para falar o que sabe sobre o caso. Outros executivos também deverão ser ouvidos nesta semana, caso não invoquem o direito de permanecer calados.
Segundo o relatório divulgado no sábado, os diretores usavam as parceiras para obter ganhos pessoais, deixando os encargos para a companhia. "Os funcionários envolvidos nas parcerias enriqueceram em dezenas de milhões de dólares que jamais deveriam ter recebido", diz o texto.
Andrew Fastow, antigo diretor financeiro e um dos principais executivos da companhia, embolsou US$ 30 milhões com as transações. Michael Kopper, que trabalhava com Fastow, ficou com US$ 10 milhões. A fraude teria garantido a outros dois executivos US$ 1 milhão cada, enquanto outros dois faturaram centenas de milhares de dólares, concluiu o inquérito interno.
A Andersen, que vem sendo acusada de ser conivente com as irregularidades, não deu crédito ao documento. "Os autores desse relatório, cuja independência já foi questionada, foram escolhidos a dedo", afirmou Charlie Leonard, porta-voz da auditoria.
Em apenas uma transação, Fastow investiu US$ 25 mil em uma parceria e, em dois meses, faturou US$ 4,5 milhões. No mesmo negócio, dois outros funcionários investiram US$ 5.800 e ganharam perto de US$ 1 milhão.
O colapso da Enron começou em outubro. Depois de anunciar perda de US$ 1,4 bilhão entre julho e setembro, as ações começaram a cair. A situação se agravou quando a Dynegy, sua concorrente, não aceitou uma proposta de fusão. Na sequência, surgiram as primeiras desconfianças sobre a contabilidade. Com o crédito abalado, a Enron pediu concordata no dia 2 de dezembro.
Cada ação da empresa, que chegou a valer US$ 90, hoje é negociada a menos de US$ 0,90. Entre os investidores que amargaram o prejuízo está a sogra do presidente dos EUA, George W. Bush.



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