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São Paulo, terça-feira, 04 de fevereiro de 2003

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VENEZUELA

Para Grupo de Amigos, presidente mostra que não quer diálogo ao se declarar vitorioso após o fim da greve geral

Intransigência de Chávez irrita o Brasil

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Grupo de Amigos da Venezuela já não está tão amistoso assim, e o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que liderou o movimento para criá-lo, já começa a reclamar da intransigência do presidente Hugo Chávez e a admitir que pode ter se metido onde não devia.
Em troca de telefonemas, ontem, diplomatas dos países-membros do grupo lamentaram a reação de Chávez ao fim da greve geral iniciada em 2 de dezembro. Em vez de conclamar a nação para o diálogo, Chávez se declarou vitorioso e tripudiou sobre os líderes oposicionistas.
Para o grupo, essa reação não foi a de quem deseja abrir o diálogo com os oposicionistas, mas sim a de quem quer manter o confronto e a radicalização.
Conforme a Folha apurou, o Grupo de Amigos -o Brasil em particular- já vinha admitindo estar "incomodado" com as posições intransigentes de Chávez. Esse sentimento piorou sensivelmente na reunião dos representantes dos sete países-membros, sexta-feira passada, em Caracas. Um dos presentes, irritado, ameaçou retirar o seu país do grupo.
Motivo: o "tom de vencedor" de Chávez, que insistiu todo o tempo em ampliar o grupo, dessa vez exigindo a inclusão da França. Em tom áspero, o mais insatisfeito teria retrucado: "Se o sr. não está satisfeito, quer que nós nos retiremos do grupo?".
O representante brasileiro na reunião, embaixador Gilberto Saboia, subsecretário de Assuntos Políticos do Itamaraty, negou que o clima tenha sido assim tão ruim. Segundo ele, foi só "uma primeira experiência". E o resultado? "Moderadamente positivo", disse. Em linguagem diplomática, significa, no mínimo, que não foi bom.
O primeiro compromisso dos vice-chanceleres dos países do grupo em Caracas foi um jantar, na quinta-feira, na residência oficial do embaixador brasileiro na Venezuela, Ruy Nogueira. O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gavíria, estava presente.
No dia seguinte, eles voltaram a se reunir, dessa vez com o presidente venezuelano. Apesar de Saboia não confirmar, o encontro foi tão tenso que o grupo decidiu mudar totalmente o tom da nota que Gavíria havia preparado com antecedência para falar do andamento das conversas.
Depois do encontro com Chávez, o tom da nota, considerado "positivo" demais, foi substituído por outro mais lacônico e formal.
Fazem parte do grupo, além do Brasil (que o idealizou), também EUA, Espanha, Portugal, México e Chile. Antes, Chávez falava em ampliá-lo para incluir Cuba, Rússia, França e Jamaica. Agora, fixou-se na França, país que tenta se fixar como pólo de oposição a políticas mundiais dos EUA.
Os integrantes do grupo não aceitam mexer na sua composição original e começam a se declarar, em conversas reservadas entre eles, um pouco "cansados" do tom sempre radical, intransigente e arrogante de Chávez -não condizente, inclusive, com sua condição política extremamente frágil.
Essa mesma sensação Lula teve em 18 de janeiro, quando Chávez veio ao Brasil para uma conversa com ele e já desembarcou em Brasília criticando o grupo, ao qual chamou de meramente embrionário.
A conversa entre os dois, na Granja do Torto, não foi boa, tanto que Chávez amenizou o tom ao embarcar de volta a Caracas. O tom ameno, porém, só durou um dia, como ironizava um diplomata ontem.


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