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VENEZUELA
Para Grupo de Amigos, presidente mostra que não quer diálogo ao se declarar vitorioso após o fim da greve geral
Intransigência de Chávez irrita o Brasil
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Grupo de Amigos da Venezuela já não está tão amistoso assim, e o próprio presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que liderou o
movimento para criá-lo, já começa a reclamar da intransigência do
presidente Hugo Chávez e a admitir que pode ter se metido onde
não devia.
Em troca de telefonemas, ontem, diplomatas dos países-membros do grupo lamentaram a reação de Chávez ao fim da greve geral iniciada em 2 de dezembro.
Em vez de conclamar a nação para o diálogo, Chávez se declarou
vitorioso e tripudiou sobre os líderes oposicionistas.
Para o grupo, essa reação não
foi a de quem deseja abrir o diálogo com os oposicionistas, mas
sim a de quem quer manter o confronto e a radicalização.
Conforme a Folha apurou, o
Grupo de Amigos -o Brasil em
particular- já vinha admitindo
estar "incomodado" com as posições intransigentes de Chávez. Esse sentimento piorou sensivelmente na reunião dos representantes dos sete países-membros,
sexta-feira passada, em Caracas.
Um dos presentes, irritado, ameaçou retirar o seu país do grupo.
Motivo: o "tom de vencedor" de
Chávez, que insistiu todo o tempo
em ampliar o grupo, dessa vez
exigindo a inclusão da França. Em
tom áspero, o mais insatisfeito teria retrucado: "Se o sr. não está satisfeito, quer que nós nos retiremos do grupo?".
O representante brasileiro na
reunião, embaixador Gilberto Saboia, subsecretário de Assuntos
Políticos do Itamaraty, negou que
o clima tenha sido assim tão ruim.
Segundo ele, foi só "uma primeira
experiência". E o resultado? "Moderadamente positivo", disse. Em
linguagem diplomática, significa,
no mínimo, que não foi bom.
O primeiro compromisso dos
vice-chanceleres dos países do
grupo em Caracas foi um jantar,
na quinta-feira, na residência oficial do embaixador brasileiro na
Venezuela, Ruy Nogueira. O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gavíria, estava presente.
No dia seguinte, eles voltaram a
se reunir, dessa vez com o presidente venezuelano. Apesar de Saboia não confirmar, o encontro
foi tão tenso que o grupo decidiu
mudar totalmente o tom da nota
que Gavíria havia preparado com
antecedência para falar do andamento das conversas.
Depois do encontro com Chávez, o tom da nota, considerado
"positivo" demais, foi substituído
por outro mais lacônico e formal.
Fazem parte do grupo, além do
Brasil (que o idealizou), também
EUA, Espanha, Portugal, México
e Chile. Antes, Chávez falava em
ampliá-lo para incluir Cuba, Rússia, França e Jamaica. Agora, fixou-se na França, país que tenta
se fixar como pólo de oposição a
políticas mundiais dos EUA.
Os integrantes do grupo não
aceitam mexer na sua composição original e começam a se declarar, em conversas reservadas entre eles, um pouco "cansados" do
tom sempre radical, intransigente
e arrogante de Chávez -não condizente, inclusive, com sua condição política extremamente frágil.
Essa mesma sensação Lula teve
em 18 de janeiro, quando Chávez
veio ao Brasil para uma conversa
com ele e já desembarcou em Brasília criticando o grupo, ao qual
chamou de meramente embrionário.
A conversa entre os dois, na
Granja do Torto, não foi boa, tanto que Chávez amenizou o tom ao
embarcar de volta a Caracas. O
tom ameno, porém, só durou um
dia, como ironizava um diplomata ontem.
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