|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Libertado, ex-governador critica Uribe
Alan Jara, que passou quase oito anos como refém das Farc, diz que presidente nada fez por libertações e pede negociação
Ex-sequestrado encontra mulher e filho de 15 anos; deputado deve ser solto amanhã, na última fase de missão com apoio brasileiro
Mauricio Duenas/France Presse
|
|
Alan Jara (esq.) abraça o filho, Felipe, ao descer do helicóptero brasileiro, e estende os braços para o abraço da mulher, Claudia
DA REPORTAGEM LOCAL
Às 14h12 (17h12 no Brasil), o
helicóptero Cougar do Exército
brasileiro que transportava
Alan Jara aterrissou na cidade
colombiana de Villavicencio,
pondo fim a quase oito anos de
seu cativeiro na selva. O filho
do ex-governador de Meta
-único, de 15 anos- correu até
ele e o abraçou antes mesmo
que ele descesse da aeronave.
Jara puxou a mulher para o
abraço conjunto.
A imagem foi o desfecho da
segunda etapa da missão humanitária coordenada pelo Comitê Internacional da Cruz
Vermelha (CICV) e liderada
pela senadora oposicionista
Piedad Córdoba. Ela negociou a
libertação unilateral de seis reféns pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), que, fracas e desmoralizadas, tentam algum oxigênio político. A missão tem o apoio logístico do Brasil.
Magro, com cabelo grisalho,
Jara, 51, disse que estava bem,
no geral, mas que sofria de um
problema na tireoide e em um
olho. Ele seria submetido a checagem médica ainda ontem.
Em suas primeiras declarações, o ex-refém criticou duramente as Farc e o governo do
presidente Álvaro Uribe. Disse
que ambos querem guerra na
Colômbia. "Uribe não fez nada
por nossa libertação."
O ex-governador fez uma defesa enfática de uma negociação política com a guerrilha e
anunciou sua entrada para o
grupo de Córdoba, os Colombianos pela Paz. Questionado,
criticou a estratégia de cerco
humanitário do governo
-pressão militar ao redor de
um perímetro onde há reféns.
"Uma operação equivale a uma
sentença de morte."
Descreveu as Farc como
acossadas militarmente, mas
não derrotadas. Disse que a
guerrilha segue atraindo jovens. "As Farc não estão derrotas de jeito nenhum. Há muita
gente lá, jovens. Não vejo outra
saída que não a negociada."
O presidente Álvaro Uribe,
desde a caribenha Santa Marta,
felicitou Jara, mas devolveu as
críticas ao grupo de Córdoba,
que ontem disse ter conversado
com um guerrilheiro "sério"
sobre libertações: "A paz nasce
de uma grande determinação
de derrotar o terrorismo. [...] A
paz não nasce de ficar cortejando os terroristas."
Comoção e bom humor
O ex-governador falou por
quase duas horas com os jornalistas em Villavicencio, capital
de Meta, a 115 km de Bogotá.
"Estou disponível. Descansei
sete anos e meio. Tenho todo o
tempo do mundo." A rádio Caracol transmitiu pela internet.
Mesclava relatos dramáticos
do cativeiro de "2.670 dias"
-como o caminhar pela selva
atado a correntes- com observações bem-humoradas sobre a
fauna ou o cardápio monótono.
Conhecido como "professor"
da selva -dava aula de inglês e
russo todos os dias-, o engenheiro civil formado em Kiev
(Ucrânia) citou colegas sequestrados por nome. Contou que
dois deles, punidos pela guerrilha, estão presos um ao outro
por correntes há dois anos.
"Ouvi meu filho crescer por
sete anos e meio", disse, citando os programas de rádio pelos
quais ouvia o adolescente Alan
Felipe, que tinha 7 anos quando
o pai foi capturado em 2001.
"Nos roubaram esse tempo."
A mulher de Jara, Claudia
Rujeles, fez campanha por sua
libertação durante todo o período. À Folha, no domingo,
Felipe disse que um de seus
primeiros planos era explicar
ao pai os avanços tecnológicos.
"Quero explicar para ele como
funciona tudo agora."
O ex-governador do Partido
Liberal, o mesmo de Córdoba,
foi o quinto refém libertado pelas Farc. Amanhã, deve ser entregue o sexto e último, o ex-deputado Sigifredo López.
No domingo, foram libertados três policiais e um soldado,
em uma ação perturbada por
voos militares colombianos e
pela quebra da confidencialidade por parte de um dos mediadores a bordo -ele falou com a
cadeia chavista Telesur.
Ontem, a Colômbia agradeceu o Brasil, que também foi
elogiado pelo Departamento de
Estado americano pela atuação
na missão. A rádio Caracol registrou que, ante a emoção da
chegada de Jara, a tripulação
brasileira do Cougar comemorou abrindo uma bandeira brasileira.
FLÁVIA MARREIRO, Com agências internacionais
Texto Anterior: Alemães: Merkel cobra bento 16 sobre holocausto Próximo Texto: Frases Índice
|