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ARGENTINA
Atual chefe da Armada diz que escola da Marinha foi usada para violações aos direitos humanos indesculpáveis
Militar admite "barbárie" durante ditadura
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
O chefe da Armada (Marinha)
argentina, almirante Jorge Godoy,
admitiu ontem que a Esma (Escola de Mecânica da Armada) foi
utilizada durante a última ditadura no país (1976-83) "para a execução de atos qualificados como
aberrantes e ofensivos à dignidade humana, à ética e à lei".
"Assim como não se pode tapar
o sol com a peneira, não se pode
encontrar argumentos válidos para negar ou desculpar a ocorrência de atos violentos e trágicos" na
Esma, disse Godoy, para quem o
lugar se tornou "um símbolo da
barbárie e da irracionalidade".
É a primeira vez que um oficial
em atividade da Armada faz um
"mea culpa" sobre os crimes cometidos na Esma, principal centro de repressão da ditadura. Organizações de direitos humanos
estimam que 5.000 pessoas tenham sido torturadas e mortas ou
tenham desaparecido no local.
A reação variou da indignação à
surpresa. "É um discurso hipócrita e sinistro de um homem que
quer lavar uma culpa que nós não
perdoaremos", disse em nota a
Associação das Mães da Praça de
Maio.
"É uma surpresa", disse Nora de
Cortiñas, da Mães da Praça de
Maio, Linha Fundadora. "É a primeira vez que um militar em atividade fala assim tão abertamente", disse. Ela exigiu resultados
concretos nas investigações sobre
os crimes cometidos.
As declarações do almirante
têm um conteúdo político importante para o presidente Néstor
Kirchner, que adotou os direitos
humanos como um dos eixos de
seu governo. Recentemente,
Kirchner anunciou que a Esma
será um museu para as vítimas da
repressão.
Estima-se que cerca de 30 mil
pessoas tenham sido mortas ou
desapareceram durante a "guerra
suja" - termo usado para descrever a campanha de detenção
ilegal, tortura e assassinatos impulsionada pelos militares.
Os crimes cometidos na Esma
estão sob investigação judicial no
país, em causa reaberta ano passado depois que o Congresso argentino anulou as leis de "Obediência Devida" e "Ponto Final",
que anistiava os militares envolvidos em violações aos direitos humanos.
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