São Paulo, terça-feira, 04 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Próximo Texto | Índice

ENTRE A VIDA E A MORTE
Segundo rede de TV, Keizo Obuchi teve morte cerebral; chefe de Gabinete assume sob fortes críticas
Premiê do Japão entra em coma

France Presse
O premiê interino Aoki (centro), com o chanceler Kono (esq.) e o ministro das Finanças Miyazawa


HOWARD FRENCH
do "The New York Times", em Tóquio

O cenário político japonês foi abalado ontem com a notícia de que o premiê Keizo Obuchi entrou em coma, após sofrer um derrame na manhã de domingo.
Segundo a rede de TV Tokyo Broadcasting System, ele já estaria com morte cerebral.
Os japoneses descobriram a gravidade do estado de Obuchi ontem, quase 36 horas depois de sua internação em razão de um mal-estar generalizado.
A notícia foi divulgada numa entrevista coletiva organizada pelo chefe do Gabinete japonês, Mikio Aoki, que aproveitou a oportunidade para anunciar que estava assumindo interinamente o posto de primeiro-ministro.
Numa mudança radical de tom, os conturbados eventos do dia pareceram se acelerar após o primeiro pronunciamento oficial.
No final da tarde de ontem, redes de TV já anunciavam que Obuchi estava respirando com o auxílio de aparelhos, que medidas de urgência haviam sido tomadas para evitar que ele sofresse uma queda grave de pressão arterial e que o premiê talvez não se recuperasse para reassumir o posto.
"No momento, ele está em coma", afirmou Aoki, utilizando a frase normalmente reservada, no Japão, para pessoas em estado bastante grave.
Enquanto mensagens de solidariedade de toda a classe política japonesa chegavam ao hospital, o futuro incerto do premiê colocou em polvorosa o cenário político em Tóquio, com líderes de facções dentro de seu partido, o PLD (Partido Liberal-Democrático), e a oposição se preparando para fazer campanha para sua sucessão.
Os políticos japoneses já haviam começado um intenso processo de negociações, por trás das cortinas, antes mesmo do problema de Obuchi, pois sabiam que as eleições tinham de ocorrer, no máximo, até 19 de outubro.
Há vários meses, o governo Obuchi vinha sofrendo uma queda de popularidade em virtude de uma série de escândalos financeiros envolvendo autoridades, de altos índices de desemprego e do marasmo econômico.
Com a provável saída de Obuchi por razões de saúde, analistas políticos japoneses sustentavam ontem que o país provavelmente terá eleições legislativas antes da reunião do Grupo dos Oito (os sete países mais industrializados mais a Rússia), que ocorrerá em julho no Japão.
Especulações sobre eventuais candidatos do PLD à sucessão de Obuchi parecem mostrar que os nomes mais prováveis seriam o de Yoshiro Mori, secretário-geral do partido, e o de Yohei Kono, ministro das Relações Exteriores. Poucos crêem que Aoki possa ficar no poder.
Para muitos, a crise política de ontem mostrou os defeitos do processo sucessório japonês e que a opinião pública conta pouco para o governo em caso de crise.
Um dos exemplos mais citados dessas fraquezas foi a maneira com que o governo enganou os jornalistas que cobriam o dia do premiê, anteontem. Um porta-voz anunciou que Obuchi havia acordado cedo e passava o dia em sua residência oficial. Mais tarde, soube-se que ele tinha dado entrada no Hospital Universitário de Juntendo, horas antes da confirmação oficial.
A imprensa especulava, no final da tarde de ontem, que Aoki estendeu o máximo possível a ausência de informação oficial para favorecer o processo de consultas políticas, mais uma vez secretas, que define a política japonesa.
Outros críticos salientaram que Aoki assumiu baseado simplesmente numa suposta conversa informal com Obuchi, na qual o premiê lhe teria pedido para fazê-lo caso fosse necessário.


Tradução de Márcio Senne de Moraes


Próximo Texto: Mercado não sente o choque
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.