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Mudanças climáticas entram na estratégia de militares dos EUA
Aquecimento global é tema de conferência do Estado-Maior da Força Aérea
HERVÉ KEMPF
DO "MONDE", EM CHAPELL HILL
O aquecimento global se tornou um componente essencial
da segurança dos EUA e parte
dos cálculos estratégicos feitos
pelos militares do país para as
próximas décadas.
"Nós teremos de evoluir gradualmente da guerra contra o
terrorismo para o novo conceito de segurança sustentável",
disse John Ackerman, da Escola de Comando e Estado-Maior
da Força Aérea dos EUA. Ele
participou no fim de março de
uma conferência em Chapell
Hill (Carolina do Norte) para
explorar os desafios relacionados às alterações climáticas.
A primeira constatação foi a
necessidade de levar em conta
os fatores novos de desestabilização: secas, epidemias ou expansões de incidência de doenças tropicais, crises de abastecimento de água, eventos meteorológicos extremos.
São fenômenos que requererão intervenções militares, especialmente no caso de crises
humanitárias. Muitos dos presentes destacaram a necessidade de organizar planos para
episódios de mudança súbita
de clima. Foram evocadas diferentes maneiras pelas quais o
aquecimento global pode suscitar mudanças regionais.
A escassez cada vez maior de
água no subcontinente indiano
poderia afetar a estabilidade da
região, com a Índia tentando
garantir seu acesso a recursos
hídricos controlados ou utilizados por países vizinhos. O mesmo se aplica à Ásia Central ou
ao Oriente Médio. A abertura
do Oceano Ártico devido ao recuo da camada permanente de
gelo criará novas rotas marítimas e alternativas estratégicas.
Como aponta Nazli Choucri,
do Instituto de Tecnologia de
Massachusetts (MIT), "as alterações climáticas imporão mudanças desproporcionais aos
pobres e reforçarão a clivagem
social e a marginalização". Nem
tudo é negativo, porque as alterações climáticas poderiam
forçar as nações a cooperar.
Como o Exército americano
pode se preparar para esses desafios? Em curto prazo, é preciso que sejam planejadas três
mudanças, resume Thomas
Morehouse, do Instituto de
Análise de Defesa: "Eles terão
de se preparar para um número
maior de missões humanitárias; adaptar sua infra-estrutura costeira; e elaborar uma estrutura energética mais eficaz".
O Exército dos Estados Unidos é o maior consumidor de
energia do mundo, o que lhe
custa cerca de US$ 11 bilhões ao
ano. "No campo de batalha,
70% da tonelagem logística é
consumida por combustíveis",
disse o analista.
As mudanças serão tão importantes que será preciso imaginar um novo quadro estratégico. É isso que proporá, nos
próximos dias, um relatório do
Centro de Análise Naval, instituição criada em 1942 por oficiais da reserva da Marinha.
Isso não representa uma
contradição com a política
atual do governo Bush? "A Marinha não está a serviço de um
governo específico", disse um
oficial, "mas a serviço do país".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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