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Polícia do Zimbábue prende jornalistas estrangeiros
Oposição vê "início de perseguição'; sem resultado da eleição presidencial, partido de Mugabe diz que ele "não perdeu" e "vai lutar"
ANDREA MURTA
ENVIADA ESPECIAL A HARARE
FABIO ZANINI
EM HARARE
A prisão de ao menos um jornalista estrangeiro e buscas em
hotéis pela polícia do Zimbábue expuseram ontem a piora
da crise desatada na estrutura
de poder do país após as eleições gerais de sábado, que derrubaram a maioria governista
na Câmara dos Deputados e cujos resultados para a Presidência ainda são desconhecidos.
O "New York Times" confirmou que Barry Bearek, seu correspondente na África do Sul,
que cobria as eleições em Harare, foi detido no começo da noite. "Não sabemos onde ele está
sendo mantido e quais são as
acusações", afirmou em comunicado o diretor-executivo do
jornal americano, Bill Keller.
No hotel York Lodge, onde o
jornalista foi detido, segundo
fontes ouvidas pela Folha, as
luzes estavam apagadas ontem
à noite. Um funcionário não
permitiu a entrada da reportagem e se recusou a comentar o
episódio. "A polícia ainda esta
aqui", afirmou, sob a escuridão
que engolia toda a rua no bairro de classe alta de Highlands.
Para o partido opositor MDC
(Movimento pela Mudança
Democrática), o fato é o "início
de uma operação de perseguição". Além do York Lodge, ao
menos outro hotel, no centro,
foi vasculhado pela polícia.
Um jornalista europeu que
pediu anonimato afirmou à
Folha que a polícia o procurou,
e outro disse ter tido o quarto
revistado. O Centro de Proteção aos Jornalistas (CPJ) citou
"informações alarmantes de
que dois repórteres estrangeiros foram detidos em Harare".
Especula-se que os presos
não tivessem credencial para
trabalho jornalístico no país.
Com raras exceções, repórteres
dos EUA e da Europa foram
barrados da cobertura eleitoral,
sob alegação de serem "hostis".
O jornal oficial "Herald" critica
a cobertura da mídia, sobretudo britânica, da esperada queda
do ditador Robert Mugabe, 84,
no poder desde a independência do Reino Unido, em 1980.
Sem resultado
A operação ocorreu no quinto dia de espera pelos resultados oficiais da eleição presidencial. Na tarde de ontem, permanecia no ar a pergunta mais importante do país hoje: Mugabe
vai aceitar a provável derrota
ou arriscar um segundo turno?
Na estranha falta da declaração final da comissão eleitoral,
os partidos começam a se preparar para a última opção. O
ministro da Informação do
país, Bright Matonga, afirmou
que Mugabe "vai lutar". "O presidente não perdeu. Desta vez,
estaremos prontos", disse.
A admissão de Matonga contraria as crescentes especulações de que o ditador, com
apoio corroído dentro do partido, poderia admitir a derrota.
Ontem, pela primeira vez, Mugabe fez breve aparição na TV
pública, em gravação de um encontro com observadores africanos. Com aparência tranqüila, ele não fez declarações.
Outros líderes africanos também discutem o impasse. O
presidente da África do Sul,
Thabo Mbeki, pediu ontem que
"os resultados sejam aceitos".
Após a perda do controle da
Câmara dos Deputados, anunciada quarta, a pressão sobre o
governista Zanu-PF cresceu. O
politburo do partido se reúne
hoje para avaliar a situação.
O MDC concorda com um segundo turno, mas cita tabulação própria para dizer que seu
candidato, Morgan Tsvangirai,
obteve 50,3% dos votos -uma
vitória em primeiro turno.
ANDREA MURTA viajou a convite das ONGs Conectas Direitos Humanos e Open Society
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