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Livro que prega supremacia chinesa chega ao topo dos mais vendidos
"China infeliz", com mais de 150 mil cópias vendidas, aponta EUA como maior inimigo
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Um livro que defende mais
agressividade da China em relação ao resto do mundo e que
acusa um complô do Ocidente
para derrubar o país chegou ao
topo da lista dos mais vendidos.
Em menos de três semanas, o
ultranacionalista "China infeliz" já vendeu mais de 150 mil
cópias. Edições piratas são encontradas em camelôs, e o conteúdo já foi pirateado para a internet.
Com ensaios de cinco autores -três professores universitários e dois jornalistas-, "China infeliz" diz que o país precisa
"liderar o mundo", ver os Estados Unidos "como maior inimigo, pois se trata de uma disputa", e pede que o governo invista mais em força militar e em
tecnologia.
"Olhando a história da civilização humana, nós somos os
mais qualificados para liderar o
mundo; os ocidentais devem
vir em segundo", diz o livro.
Com o subtítulo "A grande
época, grande visão e nossos
desafios", a obra alega que os
chineses ainda se sentem "sufocados pelas críticas ocidentais e pelo desrespeito à nossa
soberania" e defende que o país
abandone seu complexo de inferioridade.
"A crise econômica deixou o
Ocidente mais fraco e a China
mais forte, é hora de exigirmos
nosso lugar no mundo", disse à
Folha um dos autores, o jornalista Song Qiang, 43.
A China já é a terceira maior
economia do planeta e deve superar o Japão, a segunda, em
menos de dois anos. Mas o país
ainda não está no G8, nem tem
posição de peso no Banco Mundial, apesar de ter assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Os autores querem mais.
"O plano do Ocidente a longo
prazo é derrubar a China. Os
EUA são nosso maior inimigo,
nunca compartilharão sua tecnologia conosco", diz Song. "A
China precisa investir mais em
segurança, em suas Forças Armadas, investir mais na África e
na América Latina, precisamos
de aliados".
Vários trechos do livro se parecem à retórica dos livros escolares chineses -"o mundo
conspira contra a China", "não
se pode confiar nos estrangeiros"- e até repete obsessões do
governo em mais investimentos militares e em tecnologia
autóctona.
Críticas ao governo
Mas o livro também critica o
governo, dizendo que parte da
infelicidade chinesa se dá pela
ausência de democracia e de
abertura, pela corrupção generalizada e pela falta de uma defesa maior da soberania.
A obra tem causado tanta polêmica que os principais portais
da internet chinesa tem fóruns
diários sobre se a China está ou
não infeliz.
Quem não parece feliz com o
livro é o governo. A mídia estatal tem criticado duramente a
obra, por "faturar em cima do
nacionalismo dos mais jovens",
"ter linguagem extremista, radical" e "não promover o diálogo, necessário em tempos de
crise". ""China infeliz" pesca dinheiro dos bolsos dos jovens
raivosos e dos idosos raivosos",
escreveu um colunista no estatal "Diário da Juventude Chinesa".
"É muito irônico porque há
elogios ao livro em reportagens
em chinês, e críticas ao livro
nos despachos em inglês", defende-se Song. "Parece que o
governo quer dizer aos ocidentais que o nacionalismo está
sob controle."
O autor vai além. "Talvez o
governo prefira o nacionalismo
que ele mesmo promove, pois o
nosso é autônomo, sincero, patriótico".
O sucesso da obra é mais um
sinal do crescente ultranacionalismo na China - às vezes,
estimulado pelo governo.
No ano passado, depois que
ativistas tibetanos tumultuaram a passagem da tocha olímpica de Pequim 2008 por Paris,
chineses fizeram boicote a
marcas francesas e houve manifestações de milhares de pessoas nas portas dos supermercados Carrefour.
Song afirma que o combate à
autonomia do Tibete é fundamental. "Os tibetanos exageram a sua situação para os jornalistas estrangeiros. Admito
que eles sofreram muito com a
Revolução Cultural e que o governo fez coisas erradas por lá,
mas todos os chineses já sofreram nas mãos do governo", diz.
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